postado em 29/09/2014 06:00
A Associação pró-educação Vivendo e Aprendendo funciona desde 1981 num canto discreto da Asa Norte, próximo ao câmpus Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília (UnB). Porém, ao passar dos portões, o conjunto de casinhas coloridas e o parque de areia com várias árvores, onde os pequenos gostam de subir durante o intervalo, chamam atenção. ;A sexta-feira é o dia em que dois professores organizam uma atividade diferente em que todos os alunos da escola participam juntos. Hoje, eles vão brincar com argila;, conta a educadora Wilma Dutra Lima, 43 anos. Ela trabalha há 17 anos na instituição e dá aulas a crianças de 4 e 5 anos, mas já passou por todos os ciclos ; como são chamadas as séries na escola ;, além de ter exercidos funções administrativas. A escola atende crianças de 2 a 7 anos. ;Toda a minha formação foi feita na Vivendo. Cheguei aqui porque gostava muito de crianças e queria ser professora, mas nunca fiz magistério ou pedagogia. Só depois de começar a lecionar aqui eu fiz faculdade;, conta. ;Essa escola tranforma seu olhar sobre o mundo. Aprendi a ser mais crítica, questionadora e a respeitar as diferenças;. Entre as políticas da escola, está a seleção de professores e estagiários de outras áreas além da pedagogia. ;Acreditamos que essa diversidade de pessoas é positiva para a formação das crianças;, explica coordenadora psicológica da instituição, Raquel Capucci, 32.Ao matricular a criança na escola, o pai ou responsável se torna um sócio da associação. Com isso, passa a ter algumas responsabilidades, como a de participar de reuniões onde as decisões a respeito da gestão da escola são tomadas em conjunto, democraticamente. ;Às vezes, é difícil chegar a um consenso. É quase como se os pais aprendessem mais do que os filhos aqui;, diz Raquel. Ela própria tem um filho que estuda na escola, o pequeno Devon, 5 anos. ;Ele veio de uma escola onde havia muitos alunos por professor, de forma que as coisas acabavam saindo do controle. Era um ambiente onde havia muita agressividade. Agora, percebo que ele desenvolveu habilidade emocional e aprendeu como lidar melhor com as emoções. Ele também está mais independente;, conta. Na escola, as turmas são compostas por até 16 alunos com dois educadores por sala. Atualmente, a escola tem 120 estudantes, divididos nos turnos matutino e vespertino. Como associação sem fins lucrativos, a escola cobra uma contribuição associativa mensal de R$ 960 para pagar funcionários e outras despesas. As fontes de renda extras da instituição vêm de doações e de festas organizadas pela escola. Os membros da direção, que participam de gestões anuais, não são remunerados.
A experiência brasiliense em educação foi uma das iniciativas publicadas no livro Caindo no Brasil: uma viagem pela diversidade da Educação, cujo lançamento em Brasília ocorre neste sábado. Atrás de inspiração e de novas ideias na área de educação, o jornalista Caio Dib percorreu 17 mil quilômetros pelo Brasil. A viagem do jovem de 24 anos, que mapeou escolas, organizações não-governamentais (ONGs) e outras iniciativas educativas de todo o país, resultou no livro Depois de 58 cidades e cinco meses e meio com o pé na estrada, literalmente ; quase todos os trechos da viagem foram feitos por meio terrestre, de ônibus ;, Caio não para: segue uma agenda movimentada dando palestras e cursos, além de se aventurar como professor para alunos de 10 a 14 anos em uma escola paulistana.
Doze dias da viagem foram dedicadas à capital federal. ;Confesso que tinha um certo preconceito com a cidade. Tinha planejado ficar por três dias, mas acabei ficando doze e adorei! Brasília tem uma rede muito forte de educação, com muitas escolas legais. Há vários projetos genuínos e inovadores;, afirma. ;Foi até um pouco difícil escrever sobre a Vivendo e Aprendendo. Eles dispõem de recursos que podem formar pequenas pessoas incríveis! Como adulto, eu uso coisas que aprendi nessa escola;, elogia.
A publicação reúne 19 iniciativas: nove escolas ou projetos, quatro histórias de pessoas inspiradoras envolvidas com educação e seis ensaios de projetos que também se dedicam a pesquisar ações iovadoras na área. ;Antes de viajar, fiz um roteiro bem flexível com base em cidades com importância econômica, social e educacional. Porém, também me guiei pela curiosidade. Por exemplo, queria muito conhecer Triunfo, em Pernambuco, uma cidade no meio do sertão onde faz frio durante o inverno. Algumas cidades me encantaram mais que as outras, o que definia o tempo de estadia. Também ia a lugares que as pessoas que conheci me indicavam;, relembra. A jornada foi realizada em 2013, mas o mapeamento continua no site do projeto (www.caindonobrasil.com.br). Até o momento, há 118 iniciativas identificadas.Em Salvador, por exemplo, Caio passou pelo projeto Bairro-Escola Rio Vermelho, que pretende transformar a região de mesmo nome em uma grande escola. Assim, os alunos aprendem sobre literatura na biblioteca do bairro, biologia com pescadores e história com antigos moradores. Em Nova Olinda (CE), conheceu a Fundação Casa Grande, que resgata a memória da região do Cariri com ações que envolvem artes, comunicação e turismo.
Filho de um professor universitário e de uma psicóloga, Caio sempre esteve próximo do mundo dos livros. Porém, foi no ensino médio que o interesse pelo ensino começou a aflorar. ;Participei de um projeto que envolvia comunicação e educação. Pensei que gostaria de ser um jornalista que trabalhasse com esses dois assuntos, mas só na faculdade descobri que gostava muito mais de educação;, diz, rindo. ;Acredito que o ensino é o caminho para a mudança. Sempre me considerei mais educador do que jornalista;, revela ele, que é formado pela faculdade Cásper Líbero, de São Paulo (SP). Antes mesmo do término da graduação, Caio trabalhou em empresas e projetos que envolviam educação e tecnologia. Saiu do último emprego, em uma agência de marketing digital, diante da rotina imposta por um trabalho de escritório. ;Percebi que queria estar na rua conversando com pessoas e descobrindo suas histórias;, resume. O custeio da viagem veio de uma poupança do próprio jornalista. Para o livro, o recurso de financiamento coletivo foi utilizado para a impressão, sem intermédio de editoras. Pela internet, ele conseguiu arrecadar mais de R$ 30 mil para pagar pela edição do livro. Agora no papel de professor, Caio Dib aplica aquilo que viu pelo país em sala de aula. ;Peguei inspirações da viagem e estou testando isso com os alunos do ensino fundamental na minha primeira experiência como professor. Tem sido muito interessante. A gente briga junto e comemora junto as conquistas. Felizmente, trabalho numa escola que dá bastante liberdade;, conta. ;Eu acredito que é necessário criar novas escolas porque a mudança vai sair de dentro delas;.
Caindo no Brasil: uma viagem pela diversidade da Educação
Caio Dib
278 páginas
R$ 45
Disponível para compra on-line em: loja.caindonobrasil.com.br
Serviço
Evento Circulando Autonomia
Série de atividades organizada pelo projeto de extensão da UnB Diálogos com Experiências Educacionais Inovadoras (Projeto Autonomia) para divulgar e praticar ideias que levem à transformação da educação.
Local: Auditório Dois Candangos da Faculdade de Educação (FE) da Universidade de Brasília (UnB)
Horário: a partir das 16h
Programação completa do sábado
Cortejo de pernas de pau
Espetáculo de palhaços
Oficina de xilogravura, rima e cordel
Lançamento do livro Caindo no Brasil e roda de conversa com o autor, Caio Dib