;Vamos fazer uma viagem sem sair do lugar, numa virada de páginas?;, convida a professora de vestido colorido e com fantoches na mão. As crianças estão sentadas diante dela, no palco improvisado na própria sala de aula da Escola Classe 2 da Ceilândia. ;Esta história, que vou contar, começa com um sapo sabido que queria ir à festa no céu, mas não tinha asas...;, prossegue a professora Nyedja Gennari, que faz uso de diferentes tons de voz para dar vida à narrativa. Enzo, Paulo Henrique, Matheus, Júlia e outras 25 crianças de cinco anos ouvem atentas, paralisadas pelo encanto da arte de contar histórias, comemorada em 20 de março.
Com 22 anos de experiência em sala de aula, Nyedja Gennari desde o início da carreira no magistério apropria-se das histórias infantis para cativar crianças e adultos e levá-los ao mundo dos livros. ;À noite, alfabetizo os meus alunos adultos contando histórias;, diz a professora que utiliza, na sua arte como contadora de histórias, obras do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), do Ministério da Educação. Até o fim do próximo mês, 19 milhões de livros de literatura comprados em 2014 terão sido entregues a 140 mil escolas públicas.
A história contada pela professora Nyedja está no livro Festa no céu, que consta nos acervos de literatura adquiridos pelo PNBE. Ana Carolina Souza Luttner, coordenadora do Livro no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), explica que os acervos destinam-se a alunos da educação infantil ao ensino médio, inclusive na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA). ;É objetivo do PNBE democratizar o acesso a fontes de informação e à cultura. Sabemos que muitos alunos não teriam acesso à leitura se os livros não chegassem à escola;, afirma a coordenadora.
Em Itapagipe (MG), Marli Pereira da Silva Morais, professora do quarto ano do ensino fundamental na Escola Municipal Gil Brasileiro da Silva, também utiliza obras do PNBE para incentivar a leitura. Só que em vez de contar histórias, ela transforma os alunos em contadores das histórias que leem. No ano passado, ela foi uma das vencedoras do Prêmio Professores do Brasil, com o projeto Mala Viajante. Por sorteio, um aluno da sala recebia o figurino para se caracterizar de Charles Chaplin e saía vestido assim no caminho até casa, levando, numa mão, a bengala e, na outra, a mala contendo de cinco a sete livros para ler com a família e os vizinhos.
O projeto deu tão certo que rendeu outros. Por exemplo, a iniciativa em que os avós e os pais dos alunos tornaram-se contadores de histórias reais, tanto deles quanto das crianças. Este ano, a professora decidiu inovar o projeto da leitura. ;A ideia é aproveitar a nossa malinha de livros para criar uma trupe da leitura. Uma vez por semana, um grupo de alunos visitará uma creche para contar histórias às crianças menores, que ainda não aprenderam a ler;, explica Marli. No final, o sapo sabido, mesmo sem asas, conseguiu um jeito de entrar na festa do céu. E, nesta sexta-feira, 20 de março, dia em que essa atividade é homenageada, a professora contadora dessa história, Nyedja Gennari, viaja para a Colômbia. Será a representante brasileira num evento internacional. Na bagagem, um café bem brasileiro, mas essa é outra história...