postado em 30/03/2015 11:24
A matemática continua sendo o grande bicho-papão nas escolas, não só para os alunos, mas também para os gestores públicos, que têm o desafio e o dever de garantir o que está determinado na Constituição brasileira: ensino público de qualidade para todos. Apesar de o domínio da disciplina ser essencial à preparação dos jovens para a vida social e profissional, avaliações nacionais e internacionais revelam que o desempenho dos alunos brasileiros não tem avançado.Na última edição do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa 2012), coordenado pela Organização e Cooperação para o Desenvolvimento Econômico (OCDE), 67% dos alunos brasileiros na faixa etária dos 15 anos não ultrapassaram o nível 2 de proficiência, o que significa que só conseguem empregar algoritmos e fórmulas de nível básico. Na mesma direção, os resultados da Prova Brasil de 2013, disponibilizados pelo MEC, revelaram que apenas 9,3% dos alunos do 3; ano do ensino médio alcançaram desempenho adequado em matemática. O pior é que estamos regredindo, uma vez que na Prova Brasil de 2011 esse percentual era de 10,3%.
O baixo desempenho, sobretudo na matemática, compromete a formação técnico-profissional e impacta o avanço dos alunos em cursos superiores, como as engenharias, cruciais para a indústria e para o desenvolvimento do país. A formação docente, com certeza, é um dos obstáculos para a reversão desse quadro: a formação inicial carrega nas tintas das teorias e tem dificuldade de construir pontes entre elas e as práticas. O professor entra na sala de aula, muitas vezes, sem o devido preparo para exercer a tarefa do magistério e enfrenta dificuldades para possibilitar ao aluno uma aprendizagem plena.
Outro problema é a carência de professores. Há no país um deficit de licenciados em matemática em relação à necessidade nacional. A procura pelo curso vem diminuindo e a evasão nas licenciaturas é expressiva. Além disso, muitos que se formam optam por não trabalhar em sala de aula.
A formação inicial deficiente somada à carência de professores especializados refletem problemas didáticos: o Brasil não consegue avançar de uma perspectiva de ensino centrada na cópia e na memorização para outra que favoreça ao aluno posição ativa no processo de construção do conhecimento. Em grande parte das escolas, a matemática é ensinada de forma descontextualizada da realidade e do cotidiano dos alunos. Esse modelo passivo-reprodutivo, que ainda vigora largamente na esfera educativa, exclui a motivação e esvazia de sentido o processo de aprendizagem dos conceitos matemáticos. Os alunos não se encantam pela disciplina e muitos desenvolvem verdadeira aversão.
Aliada à falta de motivação, a dificuldade de leitura e interpretação enfrentada por boa parte dos alunos brasileiros agrava ainda mais os problemas. Muitos fracassam na matemática porque não conseguem nem sequer compreender o que pedem os enunciados das questões.
Outro aspecto que vale mencionar é a ausência da tarefa de casa que, apesar de ser reconhecida como importante instrumento de sistematização do conteúdo aprendido em sala de aula, nem sempre faz parte da rotina escolar. A aprendizagem da matemática requer fixação, por isso, professores e pais necessitam transformar a lição de casa numa atividade diária que deve ser acompanhada e cobrada.
Todos esses aspectos conduzem ao avanço dos alunos com acúmulo de conteúdos não aprendidos e sem a base necessária para assimilar novas aprendizagens, o que leva à reprovação e à evasão. O preocupante quadro do ensino médio é fruto, entre outros fatores, de lacunas pedagógicas herdadas do ensino fundamental, que dificultam que o aluno progrida no seu processo de escolarização. Como resultado, apenas 54,3% dos alunos que iniciam o ensino fundamental concluem o ensino médio aos 19 anos de idade. O fato é que, enquanto quase metade dos alunos ficar pelo caminho, a retórica da Pátria Educadora ainda estará distante de se tornar realidade.