postado em 09/04/2015 13:34
Estudo divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), no último mês, mostrou que o Brasil levará pelo menos 30 anos para universalizar o acesso ao ensino médio. No Distrito Federal, esse já é um desafio vencido, uma vez que a rede pública oferece vagas suficientes a toda a população com idade para estudar nessa etapa do ensino. No entanto, se, por um lado, os jovens de 15 e 17 anos têm a oportunidade de se matricular nas escolas do DF, por outro, ainda persistem problemas que precisam ser enfrentados para garantir a qualidade da formação dos cidadãos brasilienses. Os principais deles são a defasagem idade-série e a evasão.A escola, no modelo atual, ainda é um local pouco atrativo para os jovens, que têm uma imensidão de interesses, dificilmente abarcada no ambiente escolar. Na mesma medida são atingidos os adultos que não conseguiram completar o ensino na idade adequada e que, agora, encaram os estudos como uma verdadeira batalha para garantir um emprego. Segundo dados da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad) 2013 ; a última disponível ; mais de 9% da população do DF não completaram o ensino médio e quase 30% não terminaram o ensino fundamental (veja o quadro).
Para Mário Volpi, coordenador do Programa Cidadania dos Adolescentes do Unicef no Brasil, uma vez que se aproxima dos 100% de atendimento no ensino médio, chega o momento de combater os problemas pontuais. E, hoje, eles dizem respeito muito mais à qualidade do que à quantidade da oferta. ;Todos os desafios que colocamos se tornam muito mais urgentes neste momento ou não vamos conseguir assegurar que essa geração tenha a formação adequada para chegar ao mercado de trabalho;, afirma.
As razões para se deixar o ensino são as mais diversas, como a falta de interesse pela escola ou a necessidade de começar a trabalhar para ajudar a sustentar a família. No caso de Leandro Moreira Gonçalves, 20 anos, foram as crises convulsivas que o levaram a repetir de ano quatro vezes. Ele sempre estudou na rede particular, mas a defasagem de idade em relação aos outros colegas ficou insustentável.
Mesmo depois que conseguiu controlar o problema de saúde, ele não quis escolher a opção aparentemente mais fácil, que seria se matricular num supletivo, e decidiu terminar os estudos na Educação de Jovens e Adultos (EJA), na rede pública de ensino. Ele cursa o 3; ano do ensino médio no Centro de Estudos Supletivos Asa Sul (Cesas). ;Eu acho que, independentemente de tudo, você precisa ter uma base de aprendizado. Você tem que sair do ensino médio com uma base de ensino capaz de te preparar para o futuro;, afirma. ;Nada é melhor do que estar na sala de aula e ter um professor te explicando o conteúdo;, conclui.
Daiane Pereira, 17, enfrenta um problema semelhante ao que Leandro teve anos atrás. No ano passado, ela parou de estudar para trabalhar e ajudar na renda da família. Depois que a situação financeira em casa melhorou e com muita insistência da mãe, este ano, ela se matriculou no 2; ano do ensino médio, no colégio público Gisno, na Asa Norte. ;Depois que voltei, percebi que realmente preciso disso para fazer o vestibular;, relata. No entanto, a pouca diferença de idade com relação aos demais colegas de classe já incomoda a jovem, que diz não ter paciência para alguns comportamentos dos outros alunos.
Exclusão anunciada
O bom rendimento no ensino médio depende também da qualidade da etapa anterior. Mesmo que os estudantes consigam cursar até o 9; ano do ensino fundamental, quanto maior o grau de repetência, maiores a chances de eles não darem prosseguimento aos estudos. ;Nos dados que coletamos foi possível perceber que os que têm atraso de mais um ano acabam sendo os que evadem o ensino médio;, explica Mario Volpi. ;É uma exclusão anunciada;, completa.
;São dois trabalhos concomitantes: ao mesmo tempo em que se melhora a qualidade do ensino a quem acessa a escola, é preciso dar uma boa educação para aqueles que, por algum motivo, não conseguiram seguir nos estudos;, observa Gilmar Ribeiro, subsecretário de Educação Básica Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF).
Gilmar destaca que alguns resultados das políticas de fortalecimento da educação básica no Brasil, que começaram a ser instituídas há duas décadas, já podem ser vistos, entre eles, a melhoria do desempenho do DF no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). ;Só que ainda temos uma demanda de distorção idade-série que é muito alta. São adolescentes com 14 anos que não concluíram o ensino fundamental;, admite o subsecretário. ;Essas políticas, que já estão mostrando resultados, vão fazer com que essa correção possa ocorrer em pouco tempo e, com isso, o fluxo do ensino médio tende a melhorar;, afirma.
Quanto às ações práticas adotadas para tornar o ensino médio mais atrativo, o subsecretário explica que, no ano passado, começou a ser implantada, no DF, a reestruturação do ensino médio, determinada pelo Ministério da Educação (MEC). ;Ela (a reestruturação) tenta superar o que chamamos de ensino enciclopédico e leva em consideração também o contexto social;, detalha.
Escola antiga
No Distrito Federal, a Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) foi responsável por capacitar cerca de 3,9 mil professores da rede pública de ensino para as novas diretrizes curriculares do ensino médio. O curso de formação durou 200 horas e foi fruto de parceria entre a instituição, o MEC e a SEDF. A vice-diretora da faculdade, Wivian Weller, afirma que, para manter os jovens no ensino médio, é preciso adequar o conteúdo às tecnologias e à realidade do estudante. ;A questão das vagas não é um problema no DF. Precisamos fazer com o que o aluno queira ficar na escola. Não podemos ter um ensino no formato dos anos 1950 no século 21.;
Cláudio Antunes, diretor no Sindicato dos Professores no DF (Sinpro-DF), concorda. ;A maior dificuldade talvez seja mais de recursos materiais do que de recursos humanos. Não se modernizou as escolas. Temos trabalhado muito em função do quadro de giz e da voz do professor e com poucos materiais tecnológicos;, diz.