Nesta quinta-feira (14), estudantes que participam da Intel Isef (International Science andEnginnering Fair), em Pittsburgh (EUA), apresentam projetos a um público estimado de 6 mil pessoas. Os visitantes começaram a chegar ao David L. Lawrence Convention Center às 9h da manhã (10h no horário de Brasília), com grandes grupos escolares e moradores locais. A visitação dos painéis vai até as 21h. `As 19h tem início a premiação das 20 categorias incluídas na feira. O evento, que reúne cerca de 1,7 mil estudantes de ensino médio e técnico de todo o mundo, termina nesta sexta (15), com prêmio que reconhecerá os três melhores projetos de toda a feira.
O estudante brasileiro Luiz Fernando da Silva Borges, 16 anos, desenvolveu um termociclador -- aparelho de "xerox" de DNA -- de baixo custo. A máquina serve para auxiliar procedimentos clínicos como exame de paternidade, teste de HIV e perícias forenses. "O principal desafio do dia de visitação ao pública e ter de falar numa linguagem mais simples, para que todos entendam", disse o jovem, que faz curso técnico de informática integrado ao ensino médio no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Mato Grosso do Sul, câmpus Aquidauana. Na quarta-feira (13), dia em que os competidores apresentaram seus projetos para juízes e professores, ele teve a oportunidade de conversar com o ganhador do prêmio Nobel de química em 1996, Harold Kroto. "Convidei-o para conhecer mais o meu projeto e ele disse que achou muito interessante, pois a máquina poderia resolver problemas relevantes em todo o mundo. Dei algumas lembranças do Brasil e do Mato Grosso do Sul para ele", conta.
Na área de engenharia civil, os estudantes Rafael Flores e Lucas Engelmann Flores, ambos de 17 anos, desenvolveram um tipo de cimento alternativo que utiliza resíduo de EVA. No Rio Grande do Sul, estado de origem dos participantes, a indústria calçadista tem problemas para descartar esse tipo de resíduo, que vai para aterros industriais e não tem utilidade. A substituição também permite utilização menor de areia na composição de argamassa. "Antes desse projeto queria seguir em outras engenharias, mas agora penso bastante em seguir na área de civil", conta Rafael. "Para participar da feira, fizemos aula particular de inglês e agora conseguimos desenvolver uma conversa na língua. Acho que essa experiência internacional vai ser uma vantagem no futuro", diz Lucas. Os jovens fazem curso técnico de química integrado ao ensino médio na Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, de Novo Hamburgo (RS).
Não só de ciências exatas vive a feira. A dupla Beatriz de Santana Pereira, 17, e Thayná dos Santos Almeida, 16, são de Antônio Cardoso, Bahia. Alunas do 3; ano de ensino médio do Colégio Estadual Antônio Carlos Magalhães, elas desenvolveram um projeto de fortalecimento da identidade negra por meio de pesquisa entre os alunos da escola e trabalho de campo com comunidades quilombolas locais. "Começamos o trabalho a partir de um dado do Censo de 2010, que mostrava nosso município como o local no Brasil com maior número declarado de negros no Brasil. No entanto, na nossa escola, muitos alunos não se identificavam como negros nem sabiam sobre a própria origem", conta Thayná.
Com as entrevistas -- Beatriz relembra a visita a um senhor quilombola de 104 anos, ex-escravo -- elas desenvolveram mais autoconhecimento na comunidade. "Ainda não terminamos o nosso levantamento, mas já constatamos que mais alunos se identificam como negros agora", conta Beatriz. As jovens, que visitam os Estados Unidos pela primeira vez por causa da feira, contam que mais estudantes estão animados para fazer ciência ao ver a oportunidade que elas estão vivenciando. As jovens cientistas também pensam em continuar a pesquisar o tema da identidade negra e, no futuro, filmar um documentário, ou mesmo fundar uma organização não-governamental.
Na tarde desta quinta-feira (14), a Organização dos Estados Americanos (OEA) concedeu diplomas de reconhecimento a 50 projetos das Américas, com base no potencial que os estudos podem ter sobre o desenvolvimento da região. Desses, seis ganharam premiação de destaque. Um total de 1,1 mil estudos foram analisados. Dez projetos brasileiros estiveram entre os 50 selecionados. Os estudantes Beatriz, Thayná e Luiz Fernando ganharam os diplomas de maior destaque, junto a participantes da Argentina, da Costa Rica, da Colômbia e do México.
[SAIBAMAIS]Estrangeiros
Estudantes de cerca de mais de 70 países se apresentam na feira. A malaia Amira AidaRazduan, 17, desenvolveu um composto que reduz a quantidade de açúcar no sangue a partir do uso da planta Gynura procumbens, conhecida como sabungay, típica do sudeste asiático. "Minha avó sofre de diabetes, então talvez minha pesquisa possa ajudá-la. No entanto, acredito que o composto possa ser útil para pessoas de todo o mundo", conta a estudante de ensino médio. Pela primeira vez apresentando uma pesquisa científica no exterior, ela pretende seguir carreira na ciência. "Quero me tornar cientista para ajudar mais pessoas."
Os peruanos Jhonatan Obando e Viviana Ramos, ambos de 17 anos, trabalharam para melhorar a qualidade da água da cidade de Arequipa. No ano passado, moradores locais reclamaram sobre o odor e o sabor da água. A prefeitura do estado minimizou os problemas, dizendo que a qualidade estava dentro dos padrões normais. Curiosos, os alunos resolveram investigar e descobriram que a água consumida em algumas das regiões estava contaminada por substâncias como alumínio, arsênio e E. coli acima do permitido. "Ensinamos alguns procedimentos para que a comunidade local pudesse tomar água de melhor qualidade, como fervê-la por ao menos 10 minutos e resfriá-la antes do consumo", conta Jhonatan. "Essa é a nossa primeira vez nos Estados Unidos, estamos muito animados por participar da feira", disse Viviana. O projeto dos estudantes foi reconhecido pela OEA como de grande potencial para o desenvolvimento da região, junto a outros 50 estudos das Américas.
*A jornalista viajou a convite da Intel