O reconhecimento do estudante como protagonista do processo educativo está entusiasmando a juventude do Maranhão, a ponto de muitos jovens deixarem as ruas para voltarem à escola. Foi o que aconteceu, por exemplo, no Centro de Ensino Oscar Galvão, com 1.300 alunos do ensino médio no município maranhense de Pedreiras, a 280 km da capital maranhense. Um projeto de artes desenvolvido pelos estudantes levou-os a procurar e resgatar antigos colegas para participar de uma peça teatral e das atividades escolares. O sucesso do espetáculo foi tanto que os alunos tiveram de fazer duas apresentações da peça para a comunidade. Outro projeto, desta vez de espanhol, chegou a mobilizar os estudantes de escolas vizinhas.
A poucos quilômetros do Oscar Galvão, o CE Olindina Nunes Freire foi palco de um projeto de educação ambiental em que os estudantes se movimentaram para despertar na comunidade a consciência da importância do combate à poluição. Até roupas foram customizadas pelos jovens, com bolsos especiais para lixo reciclável, a fim de serem transformadas em instrumentos nessa luta.
Para a pedagoga Maria José Medeiros de Souza, professora de sociologia na rede estadual do ensino do Maranhão e formadora regional do Pacto Nacional de Fortalecimento do Ensino Médio (Pnem), o aumento da proximidade entre professores e estudantes e o protagonismo dos jovens, em decorrência do pacto, estão levando a comunidade para dentro da escola.
;Tínhamos perdido muitos alunos para o tráfico e, na medida em que os estudantes se compreenderam como sujeitos da aprendizagem, ficaram mais soltos, mais entusiasmados, a escola pública começou a estar viva;, diz ela. ;Ao perceberem isso, os jovens quiseram voltar à escola para participar desse movimento.;
João Pedro, aluno do CE Newton Belo, do município de Trizidela do Vale, vizinho a Pedreiras, confirma: ;Em um ano de escola, nunca fui ouvido. Depois do pacto do ensino médio, em três meses houve três reuniões para nos ouvirem.;
Planejamento ; ;O que se percebe é que, antes, a escola não tinha uma cultura de planejamento participativo;, afirma a pedagoga Leila Lopes Pereira, de Imperatriz, município a 636 km de São Luiz. ;A partir da formação dada pelo pacto, os professores perceberam a importância da contribuição das outras áreas de conhecimentos para suas áreas, o que a linguagem agrega à matemática, por exemplo, ou o que as ciências da natureza acrescentam às ciências humanas.; Segundo ela, o impacto do Pnem se reflete também nas sete escolas indígenas localizadas na região, das etnias Krikati, Gavião e Guajajara, que já adotam práticas pedagógicas do programa.
Professora de português e artes do CE Edson Lobão, na periferia de Imperatriz, Eró Cunha acredita que a formação dos docentes de sua geração foi falha, porque totalmente compartimentada. Apenas agora, com o Pnem, os professores foram orientados a se comprometer e a buscar caminhos para a solução de problemas, para garantir o direito de aprendizagem dos alunos, a estreitar a relação com a comunidade e a oferecer uma educação integral. ;O que houve foi uma mudança no nosso olhar, uma visão mais humanizada dos nossos alunos, e a compreensão de que ele é protagonista nesse processo, não um mero receptáculo de uma educação com ênfase apenas no conteúdo;, conclui ela.
Com ela concorda Karina Costa, coordenadora pedagógica da Unidade Integrada Haydée Chaves, em São Luís. ;O pacto quebrou o paradigma de que formação é só teoria;, afirma. ;Hoje, discutimos e buscamos soluções para os problemas, e traçamos as diretrizes da prática docente para melhoria do ensino. Quem ganha com isso é o aluno;.
O processo formativo na escola e a articulação entre os conhecimentos das diferentes áreas como prática pedagógica foram debatidos hoje pelos cerca de 850 professores e profissionais da educação que participam do 3; Seminário Estadual da Formação Continuada no Âmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio, que se realiza, desde a última terça-feira, 30, na Universidade Federal do Maranhão (UFMA). O encontro se encerra às 19h desta quinta, 2 de julho.