Condomínio Virgem da Vitória, do Setor Habitacional Sol Nascente, um muro azul pintado com imagens de meninos e meninas de mãos dadas se destaca no meio de uma paisagem vazia. Ali, funciona o Centro de Ensino Fundamental 28 (CEF 28). O local é ladeado por dois terrenos baldios e faz divisa com a Vila Olímpica da QNP 21. A visualização é de abandono, o que explica a situação vivida pela unidade. Na madrugada da última segunda-feira, bandidos arrombaram a sala de informática e levaram computadores adquiridos pelo Ministério da Educação (MEC) com o programa ProInfo e outros que a instituição ganhou. Em menos de dois meses, é a quinta ocorrência registrada no colégio.
;Praticamente, eles (os ladrões) acabaram com a nossa sala de informática, um local construído para atender à demanda dos alunos. A escola tinha que ser algo inviolável: é um bem muito grande, onde as pessoas recebem a educação. Mas, infelizmente, não pensam assim. Aí, a instituição fica sujeita a isso;, desabafa a diretora do CEF 28, Glauce Kelly Furletti. Ao todo, os suspeitos levaram 10 CPUs e 18 monitores do programa ProInfo e 11 computadores completos que tinham sido doados para a escola. Além disso, furtaram teclados e mouses.
Segundo a diretora, desde que ela entrou na instituição, em 2011, nunca tinha ocorrido algo similar. Apenas pequenos furtos de vassouras. Mesmo assim, receosa por trabalhar em um local ermo, Glauce solicitou a construção de um muro entre a escola e a Vila Olímpica, mas não foi atendida. Então, a diretora colocou a grade. O que não foi suficiente para impedir a ação de bandidos.
Glauce registrou as cinco ocorrências nesse período: dois danos ao patrimônio e três furtos. Na primeira ocasião, os suspeitos atearam fogo em um sofá velho em frente ao portão do estacionamento, o que danificou a estrutura. Em outra oportunidade, arrombaram o depósito de material de limpeza e levaram alguns itens. Na semana passada, arrombaram o portão social do colégio e furtaram dois monitores e dois teclados da sala da coordenação.
O coordenador da Regional de Ensino de Ceilândia, Marco Antônio de Souza, lamenta o ocorrido. ;São coisas que acontecem no período noturno. Mas a segurança do Sol Nascente sempre foi muito prejudicada;, declara. Ele ressalta que as ocorrências representam prejuízos para a educação. ;São equipamentos utilizados pelos alunos e fazem falta;, comenta.
Histórico
A 19; Delegacia de Polícia Civil (Setor P Norte, Ceilândia) está à frente das investigações. De acordo com o delegado-chefe da unidade, Fernando Fernandes, os suspeitos entraram por um espaço aberto na base da cerca da Vila Olímpica e, em seguida, violaram as grades ; tanto as da escola como as colocadas na janela da sala de informática. Segundo o investigador, existem alguns suspeitos identificados por meio de ocorrências anteriores, em que os bandidos atuaram de forma semelhante e também por denúncias anônimas. ;Nós aguardamos os dados da perícia para confrontar as digitais recolhidas na escola com as desses possíveis suspeitos. Há adolescentes envolvidos;, adianta o delegado.
Segundo Fernandes, são quatro homens. Alguns deles estariam envolvidos com o tráfico de drogas, mas nenhum, até o momento, foi caracterizado como aluno da instituição. De acordo com o policial, a região não tinha histórico de violência até o início do ano. ;Depois de algumas reuniões, inclusive com a Regional de Ensino da Ceilândia, tanto nós como a Polícia Militar intensificamos as abordagens, o que nos levou a prender alguns ladrões que roubavam pedestres. O objeto que mais chama a atenção deles é o celular;, explica. Fernandes esclarece que é muito comum usuários de drogas cometerem esse tipo de crime para manterem o vício. ;Eles revendem para pessoas que trabalham na área de informática, por exemplo, ou trocam direito na boca de fumo.;
O Batalhão Escolar explicou que, geralmente, há a segurança fixa e as rondas. Mas, por causa das férias escolares, alguns policiais foram redirecionados para outras localidades.
Até ontem, o dentista Elias Lima, 38, trabalhava de portas abertas. Ele tem um consultório em frente à escola e nunca sofreu com furtos ou assaltos. ;Só na época da construção (do consultório) me roubaram alguns materiais. Mas, depois disso, não;, conta. No entanto, com tantos comentários negativos, preferiu tomar algumas providências. Além das câmeras de segurança, instalou um portão, que ficará fechado. ;É importante que a população registre as ocorrências. Só assim vamos conseguir mostrar o que acontece aqui;, defende.
Aposta nas estatísticas
O DF está na 12; posição entre as 27 unidades da Federação quando o assunto é homicídio. São 24,7 assassinatos para cada grupo de 100 mil habitantes. Para o governo, o número é alto e não sofre alterações há pelo menos 20 anos. Os dados e a própria sensação de insegurança nas ruas da cidade, no entanto, só passarão dentro de seis meses, segundo o secretário de Segurança Pública e da Paz Social, Arthur Trindade. A estratégia para alcançar esse objetivo foi oficializada ontem, com o lançamento do Programa Viva Brasília ; Nosso pacto pela vida. A medida, que já estava sendo testada por meio de um projeto-piloto desde o início do ano, une as forças de segurança do DF, traça planos e metas e tem como foco a diminuição dos assassinatos.
O documento com o pacote de normas referentes ao programa foi assinado, na manhã de ontem, pelo governador do DF, Rodrigo Rollemberg, no Ginásio Regional de Ceilândia. O texto é a junção de três decretos. O principal deles cria o Viva Brasília. Os outros dois trazem as estatísticas e a rotina do programa. O plano conta com o apoio do Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT) e do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT).
;Acreditamos que a sensação de segurança começará ser percebida até o fim do ano. Claro que não podemos prometer o fim da criminalidade, isso é impossível, mas uma diminuição na insegurança, sim. Será resultado da redução significativa das taxas de criminalidade, de uma nova forma de relação entre a polícia e a sociedade, além da presença dos policiais nas ruas;, explicou o secretário. Segundo o chefe da pasta, o programa estava em caráter experimental desde o começo da gestão de Rollemberg. Agora, a meta da pasta é reduzir pelo menos em 6% as taxas de homicídio na capital ao ano.
A principal frente do Viva Brasília é a estratégia. Com um estudo das áreas vulneráveis, dos grupos de risco e dos horários de maior incidência nas mãos, as forças de segurança atuarão com pontos predefinidos. Programas existentes também serão fortalecidos, segundo Trindade. A condução do projeto será feita pelo próprio governador e coordenada pela Secretaria de Segurança Pública e da Paz Social. ;A secretaria vai ouvir a comunidade e fortalecer os conselhos para construir as alternativas e as ações. Já conseguimos reduzir todos os índices ; como 11% dos homicídios e mais de 40% dos roubos a comércio ;, mas queremos mais;, prometeu Rollemberg.