Jornal Correio Braziliense

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Dicas de português

Recado
;Livro tem disto: há de ser lido no momento oportuno.;
Pedro Rogério Moreira




De rosas e patos
Brasília saiu da rotina. Na quarta, dormiu vestida de rosa. Os monumentos, cartões-postais da capital, ganharam a cor feminina. Trata-se de simpático alerta para a importância da prevenção do câncer de mama. O recado: bobear é proibido. O mal, que mutila e mata, pode ser vencido. Basta antecipar-se a ele.

Na quinta, enorme pato amarelo amanheceu no gramado do Congresso Nacional. ;Não vou pagar o pato;, diz o texto que o bichão exibe na barriga. A mensagem: os brasileiros se cansaram de sustentar a farra de governantes irresponsáveis. Eles fazem a festa com o dinheiro público. Sem caixa, avançam no bolso dos contribuintes. Aumentam os impostos. Simples assim. A orgia acabou.


Lição 1
As campanhas ensinam lições. De um lado, reforçam a cidadania. De outro, inspiram dicas de português. Uma: chama a atenção para a exceção da reforma ortográfica. Na mudança, foi-se o hífen que ligava palavras compostas por, no mínimo, três vocábulos ligados por preposição, pronome, conjunção. É o caso de pé de moleque, testa de ferro, tomara que caia, mão de obra, etc. e tal.

Cor-de-rosa se enquadra na regra. Mas manteve o tracinho. Por quê? Porque foi citada como exceção. Água-de-colônia e pé-de-meia lhe fazem companhia. As demais cores entraram na vala comum: cor de laranja, cor de damasco, cor de gelo, cor de marfim, cor de burro quando foge.


Lição 2
A outra dica cutuca a curiosidade. Trata-se da expressão pagar o pato. O significado: fazer papel de tolo, pagar para que os outros aproveitem, arcar com as despesas alheias, ser ludibriado. Em português claro ; bancar o otário. Vamos combinar? Ninguém merece.

Qual a origem do dito? Há versões pra dar e vender. Uma delas remete a história escrita em latim. Giovanni Francesco Poggio Bracciolini conta que uma mulher comprou um pato. Em vez de dinheiro, prometeu pagar com namorinho. O marido chegou e viu a cena. Pra evitar confusão, decidiu pagar o pato. Com dinheiro.


Lição 3
;Não vou pagar o pato; faz parte de campanha da Fiesp contra a volta do Imposto do Cheque e o aumento da carga tributária. A coleta de assinaturas é feita na internet. Trata-se de abaixo-assinado eletrônico. Vale o toque: abaixo-assinado, com hífen, é o documento. Abaixo assinado, livre e solto, é o signatário, a pessoa que assina: Os manifestantes entregaram o abaixo-assinado ao governador. João da Silva, abaixo assinado, requer o seguinte...


Fim do túnel
No fim, tudo dá certo. Se não deu, é porque ainda não chegou ao fim.; (Fernando Sabino)


Troca-troca na Esplanada
O governo está no vermelho. Sem dinheiro, Dilma precisa apertar os cintos. Como? Prometeu diminuir o tamanho do Estado. Com menos ministérios, gastaria menos. Mas a presidente não combinou com os russos. Pressões vieram de todos os lados. Resultado: o que se viu é troca-troca de ministros. Mercadante sai da Casa Civil e volta pro MEC. Jaques Wagner deixa a Defesa e ocupa a cadeira deixada por Mercadante.


Etc. Etc. Etc.
;Tudo como dantes no quartel de Abrantes;, repetem críticos, analistas e gente como eu e você. Reprisa-se a velha história de trocar apoio por cargos. Voltou à tona, então, expressão que não sai de cartaz. É o toma lá dá cá. Ela se escreve assim ; sem tirar nem pôr.


Leitor pergunta
Aonde está você agora; aparece na letra de pelo menos duas canções e agora é nome de peça de teatro... Não deveria ser ;onde;?

Marcio Silva, lugar incerto

Aonde é ilustre senhora casada. O enlace é raro como dinheiro na praça. Ocorre com verbo que preenche duas condições. Uma: indicar movimento. A outra: exigir a preposição a. É o caso de ir.

A gente vai a algum lugar: Aonde você vai? Gostaria de saber aonde você vai. Não sei aonde ele foi.

O verbo estar está por fora, não? Ele não indica movimento. Nem exige a preposição a. Com ele, só o onde tem a vez. Vem, solteirinho: Onde você está agora? Não sei onde você está. Gostaria que me dissesse onde ele está.

Atenção, atenção. Artista tem licença poética. Pode desobedecer às regras.