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Aulas de cidadania

Com a ajuda de voluntários e da própria comunidade, a Casa de Paternidade, na Cidade Estrutural, ajuda crianças e adolescentes a entenderem o seu papel na sociedade. Agora, ela precisa de apoio para inaugurar a tão esperada creche

postado em 04/11/2015 13:34
Em meio ao lamaçal, a Casa de Paternidade é um oásis para crianças, adolescentes e adultos, como Polliana (abaixo), que desde 2011 frequenta o local e, hoje, leva os filhos  (Carlos Vieira/CB/D.A Press)

Em meio ao lamaçal, a Casa de Paternidade é um oásis para crianças, adolescentes e adultos, como Polliana (abaixo), que desde 2011 frequenta o local e, hoje, leva os filhos


 (Carlos Vieira/CB/D.A Press)


A solidariedade e o respeito ao próximo criam um ambiente aconchegante na Cidade Estrutural. Nesse intuito, entre conversas despretensiosas, cresceu o projeto Casa de Paternidade, na comunidade Santa Luzia. E com o foco muito bem delimitado: as crianças. Quatro anos se passaram, o número de meninos e meninas aumentou, as mães iam só buscar, mas acabaram ficando, as crianças viraram adolescentes e, hoje, cerca de 90 famílias são abraçadas pela ideia de repensar a infância e o empoderamento das pessoas para uma perspectiva de futuro melhor. Como os planos não param, em janeiro será inaugurada a creche da Casa de Paternidade, para acolher até 50 bebês de mães da comunidade.

A lama atrapalha, mas não impede o trabalho. Nem que, para isso, o espaço onde o projeto funciona tenha que ser lavado três vezes por semana. As mães se encarregam do serviço, até porque as atividades por lá começam no domingo, no fim da tarde, com o Monitoramento Jovem de Política Pública, o MJPop, para os adolescentes. Também ocorre na quarta-feira à noite. Em um dia, o papo é sério, tem discussão de propostas para a casa. No outro dia, apenas lazer: filme, gincana e dinâmicas de grupo.

Hoje, os adolescentes são apenas monitorados. Conseguiram a tão sonhada ;independência; ; uma das missões do projeto. A ideia é ajudar a comunidade a perceber sua capacidade para, depois, ela caminhar sozinha. ;Entramos aqui como colonizadores, achando que sabíamos o que era melhor para eles. Passamos, hoje, para colaboradores, vendo e fazendo com que eles vejam que cada um é uma potência. Queremos empoderá-los para que, daqui a um tempo, não sejamos mais necessárias;, explicou a voluntária e criadora, a técnica judiciária Aline Albernaz, 34 anos.

Sábado é dia do Educamar, um subprojeto dentro do A criança é uma pessoa no qual são feitas atividades externas: visitas a museus, exposições e teatros. Como os recursos são escassos, a equipe tenta mapear os passeios de baixo custo ou totalmente gratuitos. Para diminuir ainda mais os gastos, as mães ajudam na produção de pães de queijo e suco. A falta de dinheiro é, justamente, o que vem preocupando os voluntários. A creche, prevista para ser inaugurada em janeiro, ainda não está concluída. Falta uma das partes mais importantes, o quintal, com área verde e espaço para atividades ao ar livre. E não há mais recursos. ;Não temos nenhuma renda ou fonte frequente de doação, que seja todo mês. As pessoas se mobilizam por um pedido específico, vez ou outra, nas redes sociais;, conta Aline.

Colaboradores

As poucas colaborações são o que, de fato, ajuda a Casa de Paternidade. A exemplo de Newton Pereira de Souza, 30, e Késsya Siqueira da Silva, 22. Os dois moravam fora da Estrutural, conheceram o projeto e se mudaram para a comunidade de Santa Luzia. A ideia era se doar apenas ao projeto, mas o amor surgiu. O casamento será em julho do ano que vem. ;Meu coração ficava inquieto de pensar que muitos jovens estavam se perdendo aqui para as drogas e, consequentemente, para o crime. Pois eles veem na tevê aquilo que não podem comprar, mas dão um jeito de conseguir;, lamentou Newton. O voluntário, inclusive, deixou o antigo emprego para trabalhar apenas à noite e ter as tardes livres para a Casa de Paternidade. ;Aqui não é para ser assistencialista. No longo prazo, veremos as mudanças. Melhorias no cuidado uns com os outros. Um trabalho pontual para criar uma consciência de que não vale a pena investir nas coisas ruins;, afirmou.

Para a noiva, Késsya, estudante de serviço social na Universidade de Brasília (UnB), era imprescindível mudar para Santa Luzia. Somente lá, segundo ela, eles sentiriam na pele a dor da comunidade. ;Entendi que era importante estar aqui, vivenciar o dia a dia deles, criar um sentimento de pertencimento. De que aqui não existem inimigos, mas pessoas que precisam de amigos para ajudar;, comentou a jovem. Os dois auxiliam nos trabalhos da casa, monitoram os jovens e crianças e ajudam na rotina do projeto. ;A ausência do estado faz com que a demanda seja ainda maior, pois falta tudo, até saneamento básico. Se tivesse pelo menos o básico, como serviço de saúde, por exemplo, as coisas seriam mais fáceis;, comentou a advogada e voluntária Thaysa Gonçalves, 32 anos.

Polliana Feitosa Teixeira, 27, é um dos frutos do projeto. Tem dois filhos atendidos pela casa e está se qualificando para trabalhar na creche. Segundo ela, além de se ajudar, ela consegue fazer algo pelo próximo por meio do serviço voluntário. Ela frequenta o lugar desde que abriu, em 2011. ;Conseguimos mudar a visão de onde moramos. Antes, só víamos isso aqui como um ambiente de drogas, adolescentes grávidas, e isso já mudou um pouco, porque, agora, em vez de ficarem na rua procurando coisa errada, eles têm um compromisso;, observou.


Quer ajudar?
Todas as doações são bem-vindas: roupas, calçados, produtos de higiene e, principalmente, alimentos.

Contatos:
Fernanda (9295-3635);
Aline (8641-0461) e
Newton (8209-1553).

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