Quinze anos depois do lançamento de O diário da princesa, os fãs que cresceram lendo a série estão lidando com problemas bem diferentes de lições de algebra e uma paixão pelo irmão mais velho da melhor amiga. Após assistir ao casamento do príncipe William e da princesa Kate, a escritora infantojuvenil Meg Cabot resolveu ouvir o apelo dos leitores e tirou da gaveta as histórias de Mia Thermopolis. O resultado foi o livro O casamento da princesa, publicado este ano pela editora Record, o 11º volume da série.
No primeiro livro, Mia, aos 14 anos, teve que lidar com a descoberta de que era a princesa herdeira do trono do principado fictício de Genovia, na Europa. A história deu origem a dois filmes produzidos pela Walt Disney Pictures, O diário da princesa (2001) e O Diário da Princesa: Noivado Real (2004), que foram poucos fiéis aos livros originais.
Agora, em O casamento da princesa, Mia está com 26 anos e vai ter que planejar um casamento com o namorado Michael Moscovitz enquanto tenta contornar escândalos políticos para evitar que o pai seja derrotado nas eleições para primeiro-ministro. Meg Cabot conversou com o Eu, Estudante e nos contou sobre como foi revisitar Mia Thermopolis.
Por que você decidiu publicar mais um livro da série O diário da princesa?
Eu não teria escrito um novo livro se não tivesse pensado em algo bom a acrescentar à história da única garota do mundo que não quer ser uma princesa, mas, alguns anos atrás, tive a ideia… Enquanto assistia ao casamento real do príncipe William e da princesa Kate! Aquele casamento foi tão belo e tudo se deu sem dificuldades, mas eu sabia que, se a Mia Thermopolis fosse se casar com o seu amor de longa data, Michael Moscovitz, ela não teria tanta sorte. A família dela – como as de tantos de nós – é tão disfuncional, e o país dela, Genovia, tem problemas demais! Eu sabia que tinha que escrever essa história, então escrevi.
Como você fez para mudar de uma série de livros para adolescentes para um livro para adultos usando a mesma personagem principal?
Adicionei mais conteúdo sexual, claro, porque estamos falando de pessoas de 20 e poucos anos nos EUA que não mais moram na casa dos pais. Eles são adultos no controle da própria vida (no limite em que os paparazzi permitem)! Mia é agora uma mulher mais confiante e madura com um emprego importante – e sem toque de recolher! Mas ninguém muda completamente, não importa o quanto envelheça. Ela ainda é a mesma neurótica adorável que se preocupa demais. Felizmente, ela tem muitos dos mesmos amigos que tinha no ensino médio (porque essas eram as pessoas que a amavam por quem ela era antes de ficar famosa) para mantê-la com os pés no chão! O melhor de tudo é que Mia ainda está loucamente apaixonada pelo amor de longa data, Michael. Agora, só precisa conseguir evitar que a avó dominadora dela assuma as rédeas do casamento…
Como temas como feminismo, a luta LGBT e questões raciais impactam sua escrita?
Embora a vida de Mia não seja completamente correspondente a minha – não sou vegetariana, nunca estive apaixonada pelo irmão da minha melhor amiga e, definitivamente, não sou uma princesa –, meus personagens tendem a viver em mundos que correspondem ao em que vivo em certo nível. Eu jamais poderia escrever sobre uma Nova York sem diversidade. Isso não seria realista. Como muitas pessoas, tenho amigos, parentes e colegas de trabalho que são gays e multirraciais. Além disso, fui criada por uma mãe fortemente feminista (para o desespero do meu pai, embora ele tentasse ajudar cozinhando e lavando a roupa de vez em quando, geralmente com resultados desastrosos). Recentemente Mia descobriu que tem uma irmã multirracial – eu tenho um irmão multirracial (que também é gay). Ao mesmo tempo, foi recentemente revelado pela impressa que o príncipe de Mônaco teve várias crianças fora do casamento (uma delas é multirracial), e elas não teriam direito a herdar o trono. O país que criei, Genovia, não tem leis assim. Não seria honesto da minha parte escrever um livro que não reflete a realidade em que vivemos, ou talvez a realidade em que gostaria em que vivêssemos.
No livro, vemos a personagem principal lidar com vários problemas da vida de celebridade, como as fofocas dos tabloides e os paparazzi. Como você acha que o leitor anônimo pode se identificar com a Mia?
Estatísticas recentes mostram que mais da metade dos adolescentes foram vítimas de assédio on-line ou de cyber-bullying. Então quase todo mundo pode se identificar com esse sentimento de ser injustamente discriminado por fofoca ou humilhação. Eu acho que é empoderador para os leitores ver um exemplo de uma mulher que nasceu numa posição de grande responsabilidade lidar com a pressão da mídia, porque, em algum momento, todos nós vamos ter uma experiência parecida, de um jeito ou de outro.
Por que você acha que a vida da realeza ainda é tão fascinante para nós?
Todo ser humano na Terra é atraído por poder e, para meninas, princesas representam um caminho feminino para o poder. Elas podem ter vestidos bonitos, cavalos e castelos, mas a parte mais atraente sobre elas é o fato de que nasceram em uma posição de poder: elas podem fazer o que quiserem! Eu acho que várias garotas jovens querem viver a fantasia de serem poderosas – e até temidas pelos inimigos! A primeira princesa que admirei foi a Leia, de Star Wars. Não há nada de errado em querer ler sobre uma vida que nenhum de nós vai ter, então quando comecei a manter um “diário” sobre uma garota que estava brava porque a mãe dela estava namorando o professor (algo que de fato aconteceu comigo), decidi temperar as coisas tornando ela uma princesa, também. E o resto é história.
Qual foi o aspecto mais desafiador de escrever O casamento da princesa?
Sinceramente? Manter o fato de que eu estava escrevendo o livro em segredo até terminá-lo! Eu estava explodindo para contar às pessoas, mas sabia que a pressão iria me atrapalhar se continuassem perguntando sobre isso. Então não contei para ninguém – nem a meu agente nem a meu editor – até o livro estar praticamente terminado.
De 2000 a 2015, como você acha que a Mia mudou?
Ela não mais está tentando descobrir se o irmão da melhor amiga dela realmente a ama... Ela sabe! Ela não mais se pergunta quem são os amigos de verdade dela… Ela sabe! E, como a maioria das mulheres de 20 e poucos anos, ela tem preocupações maiores, como o próprio negócio… E um país… Para comandar! Mas ela ainda tem muitas das mesmas preocupações que tinha quando era adolescente (e que todos nós temos em qualquer idade). Por que a família dela é tão estranha e difícil de lidar? Ela está tomando as decisões certas? Por que homens são tão diferentes das mulheres? E quando o gato dela vai parar de vomitar na cama?
O que te motiva a escrever sobre a vida de adolescentes?
Uma das coisas divertidas sobre escrever livros infantojuvenis (além de se passarem em um período da vida com muitas transições) é que os personagens têm a oportunidade de se arrumarem, como para um baile, ou algo assim, e é sempre bom dar aos personagens uma chance de brilhar! Adultos nunca vão para bailes (a não ser casamentos) e raramente têm a oportunidade de se arrumarem. Temos vidas tão chatas. A não ser aqueles de nós que são planejadores profissionais de casamento ou espiões.
Por que você acha que literatura infantojuvenil é importante?
A melhor ficção tende a ser sobre pessoas que estão num momento da vida em que estão questionando quem são e o que querem da vida e estão lutando para tornar o mundo um lugar melhor de alguma forma. Qualquer pessoa que esnoba histórias assim não é alguém com quem eu gostaria de me associar, porque significa que têm a mente fechada. Sempre houve certo grau de desprezo sexista por literatura infantojuvenil porque, por um bom tempo, ela foi escrita principalmente por mulheres, do mesmo jeito que sempre houve um desdém sexista pelo romance, ainda que seja uma indústria de bilhões, vendendo muito mais livros do que qualquer gênero. Felizmente, esse tipo de esnobismo — que geralmente vem apenas de pessoas que não leram os livros — está mudando, mas ainda existe em certo nível. Podemos apenas sentir pena dessas pobres almas enquanto curtimos nossos livros.