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Estudantes ocupam escola na periferia de Fortaleza

postado em 29/04/2016 18:24

Alunos do Centro de Atenção Integrada à Criança e ao Adolescente (Caic) Maria Alves Carioca ocupam, desde a noite de quina-feira (28), o prédio da escola, reivindicando uma série de melhorias nas instituições estaduais de ensino. Localizado no bairro Bom Jardim, na periferia da capital cearense, o Caic foi ocupado inicialmente por 50 estudantes, que estão organizando o ritmo das atividades. Eles vão criar comissões para tratar de questões diversas, como alimentação e segurança.

Segundo Carlos Menezes, de 16 anos, aluno do 1; ano do ensino médio e integrante do grêmio do Caic, a ocupação começou a ser articulada pela base do movimento estudantil como uma forma de expor os problemas e as deficiências da rede pública estadual eo ensino. Ele diz que o movimento está insatisfeito com os cortes que vêm sendo feitos na educação desde 2014 e que se acirraram no ano passado. "O governo diz que não tem dinheiro para a educação, mas tem para os banqueiros e para o Acquário. Nós estamos ocupando a escola até o governo atender as nossas pautas;, afirmou Carlos.

O Acquário, obra citada por ele, começou a ser construído em 2012 e seria inaugurado em janeiro do ano passado. Agora, a abertura está prevista para o segundo semestre do próximo ano. O Acquário, localizado na Praia de Iracema, em Fortaleza, foi projetado para ser o quarto maior do mundo e atrair 1,2 milhão de turistas por ano.

Carlos acrescenta que a escola está sem material básicos para as aulas, como papel e pincel para quadro branco, e destaca as más condições dos prédios escolares, além do baixo valor investido na merenda escolar, que é de apenas R$ 30 centavos.

Os estudantes defendem também o passe livre estudantil, a inclusão de estudos sobre questões de gênero no currículo escolar e a revogação de duas portarias editadas pela Secretaria da Educação (Seduc) que envolvem a atuação dos professores nas escolas. A primeira cria restrições para o afastamento destinado a estudos e a segunda, chamada de portaria de lotação, modifica funções e atividades dos professores nas escolas.

Ontem de manhã, alunos do Caic e de outras unidades de ensino participaram de ato no Palácio da Abolição, sede do governo do estado, junto aos professores que deflagraram greve na segunda-feira (25). Na manhã de hoje (29), estudantes da rede estadual de ensino realizaram assembleia para definir os próximos passos do movimento, um dos quais é a ocupação de mais escolas.

Presente ao evento, a professora de história Ana Karina Cavalcante, que leciona na Escola de Ensino Médio Adauto Bezerra, apoia a ocupação e ressalta o caráter unificado dos movimentos de professores e estudantes a favor de uma educação de qualidade. ;A greve não é de professores, é da educação. E, quando se fala em greve da educação, enxerga-se a quem a educação está servindo: aos professores, aos estudantes e à comunidade. Recebemos apoio muito forte dos pais, também. A ideia é fortalecer atos dos professores com a participação dos estudantes. E as ocupações vão receber apoio dos professores.;

Professora de história no Caic, Elissânia Oliveira se diz orgulhosa do posicionamento tomado pelos estudantes. ;Eles radicalizaram em uma luta que vem há muito tempo contra a crise na educação. É um posicionamento arriscado, mas louvável. Nós enxergamos que eles estão atentos à educação e que merecem uma educação pública de maior qualidade.;

Sobre as duas portarias editadas pela Seduc, Ana Karina teme que as modificações impactam o ensino nas escolas. ;A portaria de lotação estabelece, por exemplo, a redução do tempo de laboratório. A outra restringe a 2% o número de professores que podem se afastar para fazer doutorado e mestrado. Foram ataques aos professores, mas atingem a qualidade da educação.;

Cecília Araújo, de 17 anos, aluna do 3; ano do ensino médio da Escola Mariano Martins, no bairro Henrique Jorge, apoia a ocupação do Caic e pede que a comunidade ajude a mantê-la. ;Esse é um movimento autônomo da galera das escolas secundaristas. Concordo com essa ocupação, porque é necessária. Estamos vivendo isso em outros estados. Os estudantes precisam estar abertos a essa luta que abrimos também para os pais e para a comunidade, pois o apoio deles é necessário.;

O Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará (Cedeca Ceará) presta apoio ao movimento para manter a autonomia e a integridade dos alunos. Em nota, a Seduc afirma que está aberta ao diálogo com alunos e professores e que não impedirá o acesso dos estudantes ao Caic, ;desde que haja respeito ao patrimônio;.

Sobre as pautas dos estudantes, a secretaria esclarece alguns pontos, informando que questões de gênero e diversidade sexual são debatidas em rodas de conversa e palestras promovidas pela Coordenação de Diversidade e Inclusão Educacional, que ocorrem por demanda das escolas.

Já as reivindicações sobre merenda escolar e passe livre são de outras competências. A Seduc informa que o valor da merenda é estabelecido pelo Ministério da Educação e que o passe livre estudantil precisa ser debatido junto às prefeituras municipais, que são responsáveis pelo transporte urbano e metropolitano.

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