No último dia do segundo Diálogo Elas nas Exatas, realizado no Rio de Janeiro entre segunda-feira (27) e terça-feira (28), depois de amplos e intensos debates, uma conclusão permeia as participantes: são enormes os desafios para erradicar as desigualdades de gênero no âmbito das escolas, incentivar meninas a se familiarizarem com as matérias de exatas e, consequentemente, terem mais condições para escolherem seguir carreiras nessas áras.
No entanto, cada projeto apoiado pelo Elas - Fundo de Investimento Social, juntamente às ações de outras ativistas e projetos em todo o Brasil, caminham nesse sentido - mesmo que a passos curtos - e deixam pegadas de motivação - para a inclusão de gênero, étnica e de diversidade sexual - por onde passam. O evento deve ser finalizado às 18h30 desta terça.
Psicóloga e mestre em saúde coletiva, Thais Gava, colaboradora da Fundação Carlos Chagas (FCC) no projeto Gestão escolar para equidade: Elas nas exatas, ressaltou como o que é trabalhado na educação básica afeta a sociedade. "A centralidade da escola deve ser discutida, pois as políticas educacionais não incidem só na escola."
[SAIBAMAIS]Presidente do conselho do Elas - Fundo de Investimento Social, Rosana Heringer, doutora em sociologia e vice-diretora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), observou que, diferentemente de outros países, lutar por inclusão de gênero nas escolas do Brasil não tem a ver com garantir o direito à educação. "O acesso aqui é mais ou menos igualitário. O problema está nos caminhos traçados a partir daí", destacou.
"Há um avanço crescente do discurso conservador, e a escola também é um espaço para isso. O Movimento Escola Sem Partido , por exemplo, começou como algo pequeno com um pai de aluno em Goiás e ganhou uma dimensão que preocupa. E é uma iniciativa que deseja barrar a educação de gênero", acrescentou, referindo-se à iniciativa que defende o fim de doutrinamentos ideológicos nos colégios e visa dar aos pais a escolha de dar aos filhos a educação moral desejada pelas famílias.
Cientistas
No segundo dia do evento, as presentes escutaram palavras de apoio e orientação de mulheres que fazem a diferença na ciência brasileira. Marcia Barbosa, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), diretora do Instituto de Física da instituição, membro da Academia Brasileira de Ciência e ganhadora do prêmio L;Oréal-Unesco de 2013, destacou que é um mito a afirmação de que mulheres não gostam de ciência. "Elas gostam, mas não chegam lá no fim de uma carrreira na área. O aumento no número de pesquisadoras e o avanço delas depende do nosso esforço", disse.
Licenciada (pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul) em física, mestre (pela Universidade Federal da Bahia) em ensino, filosofia e história das ciências e mestre (pelo Teachers College) e doutora (pela Columbia University) em science education, Katemari Rosa chamou atenção parao o fator étnico. Professora adjunta da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), ela falou sobre a teoria crítica da raça e afirmou que "os direitos de pessoas negras surgem quando é de interesse de pessoas brancas".
Para Katemari, é importante que novas narrativas e histórias de mulheres e negros sejam construídas, inclusive no que diz respeito à ciência. "Há tecnologias que surgem entre quilombolas, indígenas e outras comunidades das quais não ouvimos falar. É importante contarmos histórias de sucesso, em vez de apenas mostrar as de fracasso, para mostrar que é possível e gerar identificação. Isso não significa negar o racismo", defendeu. Na visão da pesquisadora, falta ainda aos professores da educação básica desenvolver atividades com esse fim, pois as poucas que existem são "inscipientes".
Sobre o evento
O Diálogo Elas nas Exatas - assim como o edital de investimento em projetos Elas nas Exatas - é fruto de parceria entre o (Instituto Unibanco), o Elas - (Fundo de Investimento Social) e a (Fundação Carlos Chagas) (FCC).
*A jornalista viajou a convite do Instituto Unibanco