Em busca de inovar o ensino da matemática na escola, a professora do Colégio Militar Dom Pedro II do Corpo de Bombeiros Militar Iracema Dionísio propôs uma avaliação diferente por meio de uma revista sobre a aplicabilidade do conteúdo no cotidiano social. Temas como política, geometria, moda, gastronomia, história e arquitetura foram abordados por um viés em que mostra como a matemática está ao nosso redor a todo momento.
A revista foi uma avaliação bimestral dos estudantes da 2; série do ensino médio, não só da disciplina de matemática, mas também de redação. No total, foram oito publicações ; uma por turma e com enfoque específico, como o infinito, a política e o feminismo. Cada classe se dividiu entre as tarefas de repórter, diagramador, fotógrafo e editores. Todo o conteúdo foi produzido pelos próprios estudantes. Além da produção, os estudantes tiveram que apresentar o projeto, vender o produto para os professores como publicitários.
Para o comandante do colégio, tenente-coronel Setúbal, o projeto é um meio de desmitificar a ideia de que matemática é um conteúdo muito difícil. ;Dessa forma, você faz com que o bicho-papão não pareça tão feio. Os alunos que têm dificuldade com matemática passam a se aproximar da matéria e enxergá-la com mais alegria;, afirma. Além disso, segundo ele, a ideia aproxima os jovens da realidade, que muito acostumados com o conteúdo programático segmentados de sala de aula, têm dificuldade em conectá-los entre si e aplicá-los ao mundo real.
Conhecimentos transversais
O professor de redação Milton de Castro, também envolvido no projeto, revela que a iniciativa proporciona aos estudantes desenvolverem não só a matemática e a escrita, mas como expressarem a própria identificação. ;É uma maneira deles se enxergarem no texto. Quem lê a revista compreende melhor o aluno e o que ele pensa. É até uma forma deles próprios se conhecerem;, analisa.
Durante a produção das publicações, os estudantes desenvolveram o espírito de liderança e trabalho em grupo. ;Trabalho em grupo é difícil, mas pudemos nos organizar para que o trabalho desse certo;, diz o estudante Cláudio Araújo, 16 anos, que pensa em seguir a carreira publicitária depois da experiência. Os estudantes Ana Adib Marinho e Victor Hugo Diniz, da revista Googol ; que significa 10 elevado à centésima potência como metáfora para representar o imensurável conhecimento humano existente ; afirmam ter aprendido mais sobre seus colegas pela convivência . ;Parafraseando Thomas Hobbes, nos socializamos para um bem maior;, afirma Victor Hugo. A revista NaTemática tem como foco auxiliar as pessoas com dificuldade em matemática, mas durante sua produção, Arielle Vitória, 16, também teve outros aprendizados. ;Além de aprendermos a trabalhar em conjunto, percebemos que é muito importante procurar saber os fatos antes de julgar;, pontua a estudante.
As estudante Bruna Neri e Ana Carolina Barbosa, ambas de 16 anos, descrevem a experiência de aliar o feminismo à matemática por meio da publicação. Na Matriz, revista da turma de ambas, o papel da mulher na matemática foi a questão central. ;A gente quis demonstrar que a matemática não foi feita só por homens, nem só para homens;, declaram. A revista Logos tratou de política, fazendo uma análise sobre o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. ;Associando elementos políticos, econômicos e sociológicos à matemática, chegamos à conclusão de que os números governam o mundo. Assim, analisamos a representação da população brasileira dentro do Congresso e pudemos questionar se o processo do impeachment foi realmente democrático;, avalia a estudante Júlia Soub, 16 anos.
Educação inovadora
Além da avaliação, os professores promoverão uma premiação para as revistas. As turmas serão julgadas nas categorias revista, layout, capa, diagramação, equipe de editores e gênero jornalístico. As publicações serão armazenadas na biblioteca da escola e a vencedora receberá destaque no site do Colégio Militar d. Pedro II.
;Eu sempre tive a preocupação de tornar a matemática atrativa para os jovens, que estão sempre conectados com celulares. Precisamos encontrar meios de captar a atenção e transmitir o conteúdo de forma diferente;, diz a professora Iracema Dionísio. Para ela, é necessário diálogo entre as disciplinas. Ela almeja a realização de mais projetos,, como a produção de vídeos explicativos para YouTube. Segundo o comandante tenente-coronel Setúbal, inovar é necessário, mas é uma tarefa complicada. ;O esforço é exatamente esse: conciliar a inovação com a educação mais cartesiana que também é necessária.;