A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) lançou nesta terça-feira (6) o Relatório de Monitoramento Global da Educação 2016 (GEM, na sigla em inglês), primeiro de uma série de 15 anos. O documento faz uma avaliação dos avanços e dificuldades do setor até 2015 e aponta caminhos para que sejam cumpridos os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), traçados pela Agenda de Desenvolvimento das Nações Unidas até 2030.
O levantamento expôs dados importantes, sobretudo em relação à educação básica. Um dos principais entraves nesse sentido, é o investimento no setor. O relatório aponta que os recursos para a área são US$ 600 milhões entre 2013 e 2014. ;É preciso fazer um monitoramento dos gastos: quanto famílias, poder público e doadores estão investindo e de que forma o recurso é aplicado;, afirmou a pesquisadora do GEM/Unesco de Paris Nihan Blanchy-Koseleci. De acordo com o documento, mantendo-se as perspectivas atuais de investimento, a universalidade da educação primária só ocorrerá em 2042, da primeira etapa da secundária em 2059, e da segunda etapa em 2084.
;É importante manter a educação básica com financiamento para que sejam atraídos bons professores e que eles se mantenham motivados a dar boas aulas aos filhos das classes mais vulneráveis. Assim, poderemos garantir avanços em grandes problemas da sociedade;, complementa.
Sustentabilidade e currículo para a vida
O título do relatório Educação para as pessoas e o planeta: criar futuros sustentáveis para todos evidencia a preocupação com a questão ambiental. Segundo Nihan Blanchy-Koseleci, é preciso que as escolas tenham uma visão universal do indivíduo, preparando-o também para a vida fora das escolas e para o consumo consciente. ;É preciso que os currículos tenham temas voltados à sustentabilidade e, também, que a educação seja vista para além das carteiras escolares, na comunidade e no trabalho;, explica.
Outro ponto destacado pela pesquisadora é que a maioria dos sistemas de ensino pelo mundo não contempla uma formação profissional adequada, especialmente o ensino médio e técnico. ;Até 2020, só 40% das pessoas terão uma boa formação terciaria. Isso impacta em outras questões como a empregabilidade e a desigualdade. Se, por exemplo, as mulheres da África Subsaariana tivesse um ensino médio universal completo, cerca de 3,5 milhões de mortes por desnutrição seriam evitadas;, enfatiza.
Este ponto é um dos principais desafios dos países em desenvolvimento, sobretudo os latino-americanos, como explicou Cecília Barbieri, especialista sênior em educação do Escritório Regional da Unesco para América Latina e Caribe. As cidades de Curitiba e Medellin (Colômbia) foram destaques na região em relação à educação para a sustentabilidade. ;Colômbia, Jamaíca e Cuba conseguiram aumentar a qualidade de vida com uma pegada ecológica pequena. Em Cuba, por exemplo, a pesquisa nas instituições de ensino foi usada para desenvolver políticas de sustentabilidade;, explica. Ela ressalta ainda que Medellin conseguiu sair do estigma de metrópole violenta para cidade verde, aliando diversos campos.
Brasil
Comentando especificamente os dados brasileiros, a presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Maria Inês Fini, reafirmou a importância da articulação entre as entidades que produzem os dados, os órgãos responsáveis pela formulação do currículo e as organizações que lutam pelo direito à educação. ;O monitoramento está alinhado ao que estabelece o PNE (Plano Nacional de Educação). Precisamos, agora, ouvir o anseio dos jovens que rejeitam o modelo de ensino médio que está posto no Brasil e mudar a arquitetura dele para que a escola seja uma parceira na vida dos estudantes;, enfatizou.
Apresentação
Participaram da mesa de apresentação do relatório: Heleno Araújo, Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE); Maria Helena Guimarães Castro, secretária-executiva do MEC; Gilberto Gonçalves Garcia, presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE); José Mendonça Filho, ministro da Educação; Marlova Noleto, diretora da Área Programática da Unesco no Brasil; Niky Fabiaucic, coordenadora residente da ONU no Brasil; Antonio Noto, representante do Carsed; e Maria Virgínia Morais Garcia, da secretaria de Educação de Itaúna (MG), representando a Undime.
Um pequeno constrangimento ocorreu na abertura da mesa quando, ao ser anunciado, Heleno Araújo, da CNTE, exclamou ;para garantir o direito à educação, fora golpistas;. Ele foi aplaudido por alguns presentes, mas o clima não se estendeu ao longo do evento, mesmo com a presença do ministro da Educação, Mendonça Filho.