A narrativa do Hino Nacional, que trata em boa parte da natureza exuberante do Brasil, começa às margens do riacho Ipiranga, em São Paulo, quando o imperador Dom Pedro I declarou a independência do país a Portugal. Apesar de não haver comprovação histórica de que o português estaria de fato por perto do rio em 7 de setembro de 1822, o conto se popularizou assim e, nove anos depois do fato histórico, surge o Hino Nacional com a referência.
A conhecida canção foi composta por Francisco Manuel da Silva, mas o responsável pelas palavras cantadas foi o poeta Joaquim Osório Duque Estrada, que ocupou a cadeira 17 da Academia Brasileira de Letras (ABL). O hino ficou tão famoso que se manteve mesmo depois da Proclamação da República, por pressão popular.
Ensinado na educação básica brasileira, o Hino Nacional é conhecido por ser bastante rebuscado. A ordem invertida das frases, por exemplo, é trabalhada em aulas de português em todo país. ;Tenho a impressão de que essa característica pode ser encontrada em outros hinos. O da Argentina também é assim, bem como o do Uruguai e da Colômbia. Eles são construídos em uma época e passam a ser o símbolo de uma nação. Não podem ser trocados a cada momento;, avalia Cláudio Mello Sobrinho, lexicógrafo da ABL.
A linguagem usada na música pode ser explicada pelo momento em que ela foi escrita, bem como pelas referências do autor. ;O Duque Estrada era um poeta da época do Romantismo, com algumas influências do Parnasianismo. A letra do Hino Nacional é toda invertida, cheia de imagens que remetem ao período romântico, de descrição da natureza, e ao mesmo tempo tem uma sintaxe extremamente elaborada, característica dos parnasianos;, explica Mello Sobrinho.
Para o lexicógrafo, a desinformação sobre o significado do hino mostra como a música é desprestigiada entre os brasileiros. ;Não vivemos em uma época de grandes patriotismos, não se trata mais desses assuntos. Isso exige convicção das pessoas, maior participação da vida social e econômica do país;, avalia Mello Sobrinho.