Sob o título de ;A juventude do Brasil vê o seu futuro, e o nome dela é Ana Júlia;, a revista americana Forbes apresentou o contexto das ocupações no Brasil para a mídia americana, explanando debates atuais como a Projeto de Emenda à Constituição 241 (PEC 241), que limita e congela gastos públicos por 20 anos, e a Medida Provisória (MP) n; 746/2016, que reformula o ensino médio e o movimento estudantil brasileiro, que atinge mais de 1,1 mil escolas por todo o Brasil.
O texto se desenrola acerca do discurso de Ana Julia Pires Ribeiro, 16 anos, estudante do Colégio Estadual Senador Manuel Alencar de Guimarães, em Curitiba, Paraná, feito em sessão plenária da Assembleia Legislativa do Paraná na última quarta-feira (26). A declaração da jovem começa com a pergunta "De quem é a escola? A quem a escola pertence?" e prossegue justificando a legitimidade das ocupações nas escolas secundaristas.
[SAIBAMAIS]Na explicação, a jornalista Shannon Sims, que cobre Brasil para a publicação, adianta que "as notícias do Brasil tendem a ser difíceis. Tumultos políticos. Escândalos de corrupção. Prisões. Estupros. Mortes. Ultrajes. Pode ser exaustivo cobrir Brasil como jornalista; imagine como deve ser cansativo viver no Brasil como brasileiro". Em seguida, elucida a crise educacional, elencando episódios recentes como a repressão do Estado sobre os protestos que deixou mais de 100 professores feridos em Curitiba, no ano passado, e a morte do estudante Lucas Mota, na segunda-feira (24).
Ao desvendar a declaração da estudante, Sims escreve sobre o momento em que Ana Júlia é repreendida pelo presidente da Assembleia, Ademar Traiano, ao afirmar que os deputados ali presentes "estão com as mãos sujas de sangue". Confira um trecho da reportagem:
"É uma jogada de poder que faria a maioria de nós se encolher - um político consagrado interrompendo sua reivindicação - e é o momento em que Ana Julia brilha mais intensamente. A jovem adolescente não tenta gritar mais alto que o presidente da sessão, não o desrespeita, tampouco embarca em uma discussão. Em vez disso, ela se prepara e calmamente emite a crítica mais contundente. ;Eu peço desculpa mas o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) nos diz que a responsabilidade pelos nossos adolescentes e os nossos estudantes é da sociedade, da família e do Estado;. A palavra Estado aterrisa como um mic drop (ação de deixar o microfone cair no palco) na sessão.
Obviamente, Ana Julia está tomando uma posição política. Ela é contra a ação forçada de Temer de apertar o sistema educacional ao proibir discurso político nas salas de aula e ao congelar as despesas para o sistema. Como visto na maior parte das eleições municipais, muitos - e possivelmente a maioria - dos brasileiros devem discordar de Ana Julia.
Mas o que faz o discurso de Ana Julia raro e merecedor de compartilhamentos é que, enquanto ela representa uma opinião política a qual muitos não concordam, o jeito como ela se comporta é tão empoderado e equilibrado que recebe o respeito dos brasileiros que poder discordar dela. Ela não lê um roteiro, na verdade, ela entrelaça leis e emendas à constituição e acena a elas como um intelectual estabelecido dando uma palestra em universidade. O fato dela ter apenas 16 é o que a transforma em um ícone da promessa política àqueles que apoiam sua posição.
E é por causa disso que, de repente, pela internet brasileira, há um coro sonoro: ;Ana Julia me representa;."