Lutadores de MMA (Mixed Martial Arts ou Artes Marciais Mistas, em português) defenderam nesta quinta-feira (1;) a inserção do ensino de artes marciais nas escolas. Durante audiência pública da Comissão do Esporte da Câmara dos Deputados, o lutador Antônio Nogueira, conhecido como Minotauro, afirmou que a prática das artes marciais traz valores como educação, disciplina e competitividade, que serão cobrados no mercado de trabalho.
Minotauro também afirmou que a prática de lutas cresce muito nas comunidades. Ele disse que dirige um projeto em uma comunidade carioca que conta com 950 participantes. E citou o caso de Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes, onde o jiu jitsu é uma disciplina nas escolas públicas. ;Lá eles trabalham isso com as crianças, mesmo sendo uma luta mais desenvolvida no Brasil. Há mais de mil professores dessa arte marcial trabalhando lá;, disse.
O ex-lutador Carlos Barreto, que agora é comentarista do canal Combate, considerou que o MMA tem aptidão para ser um esporte praticado em todo o País, porém ele ressaltou que é ;preciso ter um olhar mais técnico para que essa prática seja saudável;. Ele concordou que a prática da atividade influencia na formação do caráter dos praticantes. ;Com a inclusão dessas lutas nas escolas, estaremos formando campeões, não do tatame, mas da vida;, concluiu.
Valores do MMA Um dos autores do requerimento da audiência, o deputado Fábio Mitidieri (PSD-SE), disse estar procurando formas de desvincular o MMA do conceito de violência. ;Precisamos reconscientizar a população. Mostrar os valores passados, os treinos, o outro lado. E não só as lutas. Há um preconceito com o MMA que não se tem com o caratê e o judô, por exemplo;, afirmou.
Segundo o deputado, o motivo pelo qual os Estados Unidos é uma potência olímpica é a existência do esporte na grade estudantil das crianças. Mitidieri disse que o Brasil precisa mudar sua tradição de investir em clubes e passar a investir nas escolas.
Porém, o deputado José Mentor (PT-SP) é contrário à proposta de que se ensine o MMA nas escolas. Para ele, isso seria um incentivo à violência. ;Defendo o caratê nas escolas, judô nas escolas, mas o MMA, não;, disse. O deputado afirmou que a modalidade não pode ser considerada um esporte por não garantir a integridade física sensorial dos praticantes.
;As artes marciais prezam o respeito, o autocontrole. Já o MMA preza a velocidade, a habilidade, a força. Não acho que pode ser considerado um mix de artes marciais. Na verdade, eles juntam todas as proibições das artes marciais. O judô, por exemplo, proíbe agressões no rosto;, disse Mentor.
Ele também destacou os casos de lutadores que quebraram ossos ou ficaram paraplégicos devido à prática da luta. ;Ou machuca quem deu o golpe, ou quem recebeu, mas machuca alguém;, afirmou o deputado.
Por outro lado, o lutador Minotauro disse que é muito maior o número de casos de fratura no futebol do que no MMA, e que nem por isso o futebol é considerado um esporte violento. ;Não é um esporte violento, é um esporte extremo. Comparo ele ao surf. Tem os que se arriscam a surfar as ondas grandes, e tem o surfista normal que faz por lazer;, declarou.
Requisitos para professores
O deputado Fábio Mitidieri propôs um debate para avaliar se um lutador, graduado em alguma arte marcial, precisaria ou não de diploma em educação física para poder dar aulas. ;Às vezes, ele entende da luta, mas não sabe de fisiologia. Não sabe quanta atividade física uma pessoa pode fazer;, disse.
O relator da comissão, deputado João Derly (Rede-RS), que já foi campeão de judô, disse que o profissional de educação física pode trabalhar também com as artes marciais. ;Ainda não está bem definido a carga horária da educação física. As artes marciais poderiam ser um grande complemento, devido às questões morais que elas ensinam;, afirmou.
João Derly contou que, em 2005, quando foi campeão, falou em entrevista que sonhava com o dia em que o judô fosse ensinado nas escolas. ;Comecei quando era criança. O judô transformou minha vida;, disse.
O coordenador de Inclusão Social do Ministério do Esporte, Célio Rene, concordou com o deputado. ;As artes marciais possuem um elemento educador, mas não conseguimos fazer com que enxerguem esse potencial que elas têm;, considerou. Ele também disse que é preciso articular com o Ministério da Educação para que se viabilize essa inserção.
Agência Câmara