O professor de sociologia do Instituto Federal de Educação da Bahia Leonardo Rangel processou a Livraria Vozes, no Rio de Janeiro, e uma cliente do estabelecimento por intolerância religiosa que sofreu dentro da livraria, na Rua Gonçalves Dias, no centro, na sexta-feira passada (2).
Em viagem a trabalho na capital fluminense, o professor baiano lamentou ter sido vítima desse tipo de crime em uma cidade que considera a ;mais linda do mundo, com pessoas hospitaleiras e acolhedoras;. Rangel contou que estava na livraria quando uma senhora começou a agredi-lo ao descobrir que era candomblecista.
;Quando viu minha conta de Ogum no pescoço, ela disse: ;cruz-credo; e saiu de perto de mim. Mas continuou falando por uns 10 minutos que esta religião não prestava, que era coisa do diabo;, contou ele.
Rangel disse que nunca tinha sofrido esse tipo de preconceito e que ficou quieto esperando para pagar o livro que tinha escolhido. "Finalmente, ela disse que gente como eu deveria ser proibida de entrar na loja. Vá ao lugar onde eles ficam para ver como será tratada;, narrou a vítima.
O professor ressaltou ter informado à senhora que intolerância religiosa é crime. ;Ela debochou dizendo que estava morrendo de medo e até tremendo;.
Leonardo Rangel destacou que os funcionários da livraria pareciam conhecer a cliente, que os tratava com intimidade, e que em nenhum momento ela foi interpelada por alguém do estabelecimento para que parasse com as agressões.
Segundo o professor, a decisão de denunciar o crime às autoridades não foi fácil. ;No dia, fiquei sem reação. Só fiz o boletim de ocorrência no dia seguinte. Sou tímido, resguardado, mas não poderia me calar."
No sábado (3), ele procurou o advogado Hélio Silva, especialista nesse tipo de crime. Silva solicitou judicialmente que a agressora seja responsabilizada na área penal e que a Livraria Vozes seja cobrada administrativamente, com pedido de cassação do alvará de funcionamento, com base na Lei Estadual 6.483/13, e na área cível, com pedido de indenização por danos morais.
A Polícia vai tentar identificar a cliente acusada de agressão examinando imagens das câmeras de segurança da livraria.
Leonardo espera que seu ato sirva de exemplo para outras vítimas de intolerância religiosa e que as denúncias ajudem a inibir esse tipo de crime. ;A intolerância tem crescido muito, inclusive, contra as religiões de matriz afro-brasileira. Se me calasse, estaria compactuando com isso. Estou fazendo minha função social enquanto educador, enquanto adepto do candomblé, e espero que a justiça seja feita para que os culpados arquem com as consequências do crime que cometeram.;
A assessoria de imprensa da Editora Vozes lamentou que o caso tenha ocorrido em loja da empresa, e informou que tomará as devidas providências. ;Reforçamos que o nosso trabalho vem sendo pautado pelos propósitos e valores expressos em nossa missão e todos os nossos produtos e serviços estão coerentes com a mesma;, diz a nota de posicionamento da Vozes.
Agência Brasil