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Fuja dos erros de português

Professora e jornalista lança livro bem-humorado sobre tropeços cometidos na linguagem oral ou escrita. A obra apresenta dicas de como melhorar o domínio do idioma, essencial para garantir empregabilidade

Michael Rios*
postado em 28/05/2017 14:30

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Libanesa de nascimento e brasiliense de coração, Dad Squarisi desenvolveu uma grande paixão pela língua portuguesa. Editora de Opinião do Correio Braziliense, blogueira, comentarista da TV Brasília e autora da coluna Dicas de português, ela tem uma carreira inteira dedicada à arte de escrever. A mais recente obra é Sete pecados da língua. Esse é o 15; livro da graduada em letras pela Universidade de Brasília (UnB), com especialização em linguística e mestrado em teoria da literatura. As lições brincam com o sete. Cada assunto (numeral, artigo, pronome, crase, conjugação, concordância, estilo, redação oficial) ganha um capítulo que aborda sete tropeços a serem evitados e oferece dicas de como acertar. O texto trata de questões espinhosas de maneira leve, curiosa e descontraída, sempre com muito humor. Cada tema é introduzido com uma curiosidade sobre o número 7. Dad decidiu escrever sobre o tema enquanto esteve internada para transplante de medula óssea.

Qual era seu objetivo com o livro?

Sempre fico pensando por que as pessoas erram. Elas estudam, assistem a aulas, fazem exercícios e, mesmo assim, têm dificuldade de dominar o assunto. O que está que por trás disso? Eu trouxe pontos sobre crase, concordância, regência, estilo que confundem estudantes e profissionais. Cada assunto tem sete pecados. Quem os conhecer não se atrapalhará mais.

Como surgiu a ideia de usar os sete pecados para ensinar português?
Na época em que fiquei internada, tive muito tempo livre. Li O velho testamento e fiquei impressionada com a quantidade de referências ao número 7. Existem tantas! Sete dias da semana, sete maravilhas do mundo, sete pecados capitais, sete portas do paraíso, missa de sétimo dia, sete vidas do gato, sete notas musicais, sete cores do arco-íris etc. Pensei: por que não fazer uma lista dos erros da língua de forma divertida já que, geralmente, esse assunto é tratado como algo muito chato?

O que mais podemos encontrar entre as páginas?
Cada lição é introduzida por uma história sobre o número sete. Por exemplo, por que se diz que o gato tem sete vidas? E de onde vêm os sete dias da semana? Por que Deus criou o mundo em sete dias? Por que o verbo haver engloba os sete pecados capitais? Quais são as sete maravilhas do mundo antigo? E as do mundo moderno? Sete nem sempre é sete. Há uma passagem da Bíblia em que Pedro pergunta quantas vezes devemos perdoar nosso inimigo. Jesus responde: ;Não te digo até sete vezes, mas até 70 vezes 7;. Claro que ele não quis dizer 490 vezes literalmente, mas infinitas vezes.

Você é religiosa?
Tenho muita curiosidade sobre religiões. São diferentes caminhos que levam a Deus. Frequento várias. Gosto muito da Bíblia. Meu sonho é escrever reportagens com histórias bíblicas ; Davi e Golias, A arca de Noé, Jonas na barriga da baleia e tantas outras. Já imaginou ler essas epopeias em jornais, revistas, Facebook, Twitter? Quero fazer um projeto para escrevê-las com jovens. Seria forma divertida de aprender português e redação.

Você acredita que há um deficit de leitura nas gerações mais novas?
Observo que as pessoas leem muito mais hoje, mas na internet. No formato impresso, a leitura é linear, linha por linha. O texto tem começo, meio e fim. No digital, a leitura é fragmentada: o texto é cheio de links. Somos levados para outras páginas da web de tal forma que começo lendo sobre português e termino em uma receita de bolo. Isso influencia o desempenho escolar porque os estudantes precisam de um raciocínio linear para desenvolver uma boa redação.

Você gosta de dar aula?
Adoro! Uma coisa boa é que meus alunos realmente aprendem. É simples ensinar a lógica da língua sem decoreba. O primeiro passo é motivar. Feito isso, a meninada move montanhas.

O uso adequado da língua portuguesa é importante para a empregabilidade?
A língua é nosso cartão de visita. Nos apresenta. Nos revela. Na hora de procurar emprego, é fundamental mostrar familiaridade com a língua falada e escrita. O domínio da expressão pesa na escolha. A capacidade de se expressar e dar um recado claro, preciso, contemporâneo, que seduza o entrevistador, ajuda o candidato a se destacar.

Com a popularização das redes sociais, você acredita que as pessoas deixaram de se importar com os erros de português?

No Face, no Twitter, no e-mail, a língua adequada ao contexto é requisito número 1. Engana-se quem acha que ninguém liga para erros on-line. O leitor é exigente e quer um texto bem escrito. Curto e objetivo, porém correto. Podem ser usados alguns recursos que a internet permite, como abreviaturas novas, mas o básico (concordância, regência, crase, vírgula, conjugação verbal, flexão nominal) continuam importantes. Bobeia quem acha que o mundo virtual aceita tudo. A internet é o caminho mais curto para desmoralizar reputações. Olho vivo!

Professora e jornalista lança livro bem-humorado sobre tropeços cometidos na linguagem oral ou escrita. A obra apresenta dicas de como melhorar o domínio do idioma, essencial para garantir empregabilidadeLeia
Sete pecados da língua
Autora: Dad Squarisi
Editora: Contexto
96 páginas
R$ 19,90

Tira-gosto

Confira alguns pecados citados
no livro para evitar ao escrever

; Zero à esquerda? Inutilidade. Poupe tempo e espaço. Em datas, em vez de 05.04.2018,
escreva 5.4.18.

; Eco: rima é qualidade da poesia, mas defeito na prova. Xô, eco! Como descobri-lo? Leia o texto em voz alta. Houve repetição de sons iguais ou semelhantes?
Mande-os pras cucuias.

; A princípio ou em princípio? Ops! A princípio = inicialmente, no começo. Em princípio = antes de mais nada, teoricamente, em tese.

; Mais é contrário de menos. Mas, conjunção adversativa, quer dizer porém, todavia, contudo, no entanto.

; O trema caiu, mas o som do u se mantém como se nada tivesse acontecido.

; Com os pronomes de tratamento, o possessivo vosso não tem vez.

; Catorze alterna com quatorze. Mas cinquenta é único. Xô, cincoenta!


*Estagiário sob supervisão de Ana Paula Lisboa

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