Deborah Fortuna, Luiz Calcagno
postado em 01/08/2017 20:46
Com um tráfego de veículos 40% mais intenso, o primeiro dia de aula do segundo semestre de 2017 foi marcado pelo frio e pela movimentação intensa de pais, jovens e crianças em frente às escolas públicas e particulares de toda a capital. Estudantes encasacados conversavam animados próximo às unidades de ensino. De acordo com dados da Secretaria de Educação, ao todo, 630 mil alunos matriculados nas redes pública e privada devem voltar para as salas de aula ainda esta semana.
Muitos alunos e responsáveis se anteciparam para conseguir escapar dos engarrafamentos. É o caso do pintor Bento Santos, 42 anos, e da dona de casa Patrícia dos Santos, 38, que saíram mais cedo de casa, em Vicente Pires, para deixar o filho Thiago, 16, portador de paralisia cerebral, no Centro de Ensino Fundamental 3 de Taguatinga, dentro do horário e sem correria. ;O primeiro dia de volta às aulas é sempre complicado, mas se normaliza conforme o tempo passa. Teremos algumas semanas mais longas, já que a escola dele está repondo aulas no sábado por causa da última greve dos professores;, explica Patrícia. ;Nos planejamos e dá pra fazer tudo sem pressa. O único desafio é o frio;, brinca Bento. ;É bom voltar às aulas, mas acho que o movimento foi mais baixo. Vieram poucos alunos;, completou o filho, Thiago.
A professora universitária Bianca Carrijo Cordova, 33, também se antecipou para levar as filhas Marina, 3, e Sabrina, 5, para as aulas em uma escola particular em Taguatinga. ;A gente se antecipou, mas nem todo mundo voltou. Acho que é uma mistura dos calendários de diversas escolas e do frio;, observa. Já Tatiane Cantão, 27, conta que, por não ter conseguido matricular o filho Otávio, 6, no colégio da quadra onde mora, na 304 Sul, precisa se deslocar até a 308. Apesar da proximidade, o trânsito no caminho é intenso. Como eles se mudaram de Minas Gerais em abril deste ano, Tatiane ainda tem receio de usar outro meio de transporte. ;Van escolar ainda não me passa segurança;, diz.
Semestre de avaliações
O subsecretário de Planejamento, Acompanhamento e Avaliação da Secretaria de Educação, Fábio Pereira de Sousa destaca que o semestre deve correr tranquilamente. De acordo com o gestor, por causa das greves do primeiro semestre, as aulas de reposição deste ano devem se estender até 2 de setembro. Não há, segundo ele, indicativo de paralisação de nenhuma categoria responsável pelo funcionamento da rede pública. ;Neste semestre, tem Enem, tem simulados. Nós esperamos um semestre tranquilo;, comenta. Ele também recomenda que todos os responsáveis participem ativamente da vida escolar dos alunos, verificando os deveres de casa, indo até as instituições de ensino e conversando com os diretores. ;Não é somente dever do Estado, a contribuição da família faz parte também. Um estudante que tem acompanhamento familiar tem melhores resultados;, conclui.
Aproveitando o período de volta às aulas, o Batalhão Escolar da Polícia Militar promoveu uma série de atividades educativas e preventivas. De acordo com o tenente Eron Dias Borges, a PM vai agir em três vertentes: o policiamento comunitário, com palestras sobre drogas, bullying e violência sexual; a ação preventiva, com policiamento nos arredores de escolas; e o repressivo, atendendo a denúncias de uso e tráfico de drogas dentro e fora das unidades de ensino. ;A nossa maior dica é que os alunos não fiquem usando o celular no percurso para a escola, não ostentem os telefones e não fiquem em praças. Se for de ônibus, ir diretamente de casa para a escola, e procurar o batalhão em caso de ameaça;, afirma.
Muitos pais recorrem ao transporte escolar para garantir a ida dos filhos para a escola. O diretor-geral do Departamento de Trânsito do DF, Silvain Fonseca, aconselha que sempre fiscalizem o serviço contratado para as crianças e procurem o órgão para saber quais veículos são credenciados.
Palavra de especialista
Esforço pessoal
Primeiro, os alunos têm de assumir que querem estudar, que precisam disso. Depois, construir um desejo. Há um contexto adverso e problemas que incidem no desafio deles, mas precisam construir essa meta. Temos o hábito de culpar o outro e de fazer pouco a nossa parte. O aprender, a escolarização, é um fato na vida. Há atraso e falta de professor, mas, dentro do que a escola oferece, o que podemos fazer para aproveitar mais e melhor? Professores se queixam de falta de engajamento dos estudantes. É preciso buscar esse despertar. Hoje, a tecnologia facilita a comunicação e é necessário usar essa ferramenta para estudar em grupo. É uma energia dispersa que pode ser canalizada para a aprendizagem. Mas também é importante lembrar que só se desenvolve e aprende quem tem rotina de estudo. As tecnologias mudaram, mas a forma com que nosso corpo aprende, não. Além da atividade em grupo, é preciso um momento de solidão, sem a dispersão dos aplicativos. A melhor dica é assistir a aulas, pedir explicação, cobrar do professor, revisar matéria, ter disciplina, usar a internet para tirar dúvidas, se unir com amigos para estudar e garantir um espaço de solidão para ler e escrever.
Leda Gonçalves, doutora em psicologia social e do trabalho da Universidade Católica de Brasília