Ana Paula Lisboa
postado em 02/02/2018 09:19
Durante o Colóquio Internacional Sesc-UFC, que se baseia na temática "inclusão social e diversidade na educação", pesquisadores chegaram à conclusão de que duas fases escolares são mais desafiadoras e carentes no que diz respeito à inclusão: a educação infantil e o ensino médio. O evento começou na última quinta-feira (1) e segue até esta sexta-feira (2) na colônia ecológica do Serviço Social do Comércio em Iparana, bairro de Caucaia (CE). A entidade organiza o seminário, que tem público de 450 pessoas, em parceria com a Universidade Federal do Ceará e a colaboração da Univesité Paris Descartes.
O sociólogo Éric Plaisance, professor emérito da Université Paris Descartes, destaca os anos finais da educação básica como problemáticos nesse sentido. "As dificuldades de inclusão são maiores no ensino médio, pelo menos na França. A acessibilidade não deve ser apenas física, mas pedagógica, adotando diversos modos de ensinar para tratar pessoas diferentes. Como fazer isso se cada aluno é diferente?", questiona.
Doutor em letras e ciências humanas e pesquisador de educação infantil, ele vê na primeira infância o primeiro passo para ter resultados diferentes. "Se tivermos educação infantil de qualidade, a questão da inclusão se resolveria. Inclusão na primeira infância não é exatamente o problema, o problema é oferecer educação infantil", acredita. François Gremion, doutor em educação, descorda de que a solução seja essa. "Inclusão é algo bastante complexo. Não estou totalmente de acordo de que a educação na primeira infância poderia resolver isso."
Certo, porém, é que garantir atendimento a todas as crianças na fase pré-escolar tem sido um obstáculo a ser vencido há muito tempo no Brasil. Iêda Pires, pós-doutora em educação pela Université de Montréal, destaca barreiras no atendimento à primeira infância, etapa que vai de 0 a 6 anos, na qual crianças frequentam creche e pré-escola. Trabalhando com formulação de políticas públicas na Secretaria de Educação do Ceará, ela integra o grupo gestor da Rede da Primeira Infância do Ceará e o Fórum de Educação Infantil do Ceará e ajudou a organizar o Colóquio Internacional Sesc-UFC.

Assim, muitos estudantes frequentam a escola, mas são excluídos no interior dessas instituições. Outro problema é a infraestrutura: o Censo Escolar da Educação Básica, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) na última quarta-feira (31), mostrou que há uma grande carência física. Entre as 67.902 creches existentes no país em 2017, apenas 61,1% tinha banheiro arqueado para a faixa etária dos alunos e só 33,9% contavam com berçário. Somente 30,4% das crianças de até 3 anos frequentam creche no país, um total de 3,4 milhões de matrículas.
"Garantir inclusão na primeira infância é mais difícil ainda porque, se não temos nem banheiro adequado, imagine pensar nisso. Para a criança de 0 a 3 anos que entra na creche e precisa de algum atendimento especializado, falta muito. Boa parte dos professores nem tem nível superior", afirma. Apesar disso, Iêda ressalta a importância de não atribuir o problema só ao professor. "A responsabilidade é também de todo o grupo gestor e das políticas públicas em todas as esferas (municipal, estadual, federal), que ainda não respeitam efetivamente esse direito (de acesso à educação para todos)."
Como bom exemplo, ela cita o programa Alfabetização na Idade Certa, do Ceará, estado que tem despontado com escolas públicas-modelo, que alcançam resultados fantásticos em avaliações educacionais. "Mesmo assim, o problema ainda é seríssimo." No estado, a atenção à primeira infância é feita de maneira intersetorial (unindo educação, saúde e outras pastas) e tem apoio dos movimentos sociais e governamental, por meio da primeira-dama, Onélia Santana, e da Associação de Primeiras-Damas dos municípios. "Tem uma equipe motivada e tem o suporte do governo. O que falta agora é dar celeridade a esse processo."
Saiba mais sobre Colóquio Internacional Sesc-UFC em http://www.sesc-ce.com.br/coloquio-internacional-ufc/#live-section
*A jornalista viajou a convite do Sesc-CE