Agência Brasília
postado em 16/02/2018 14:43
A cada mês, aproximadamente 1,5 mil jovens que chegam ao Adolescentro (605 Sul) em busca de atendimento apresentam dependência em internet e eletrônicos ; computador, celular e videogames, segundo relato dos pais. Essa condição ; que é considerada doença e precisa ser tratada ; provoca prejuízos na escola, nas relações familiares e na saúde, já que até a alimentação é deixada de lado.
Mantido pelo governo de Brasília, o Adolescentro é o Centro de Referência, Pesquisa, Capacitação e Atenção ao Adolescente em Família. O programa, administrado pela Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, tem foco em saúde mental, dificuldade de aprendizagem e violência sexual.
Um dos pacientes, de 17 anos, chega a passar mais de 13 horas por dia em frente à tela. ;Acordo, lavo o rosto e vou para o computador. Só consigo sair depois da meia-noite;, relata o jovem. "Acordo, lavo o rosto e vou ao computador. Só consigo sair depois da meia-noite"
O rapaz deixou de lado a vida real para se concentrar no mundo virtual criado na plataforma do jogo League of Legends e assistir aos famosos animes (animações) produzidos no Japão.;É um garoto inteligente, acima da média, mas os prejuízos estão atropelando essa vantagem;, constata a assistente social que o acompanha, Ana Miriam Garcia. ;Por diversas vezes, tentei me livrar desse vício. De vez em quando desinstalo o jogo, mas é difícil;, reconhece o adolescente.
A assistente social relata que, na maioria dos casos, o controle familiar é muito importante para mudar a situação, que pode levar meses ou anos para ser revertida.Segundo ela, é preciso haver uma rotina imposta pela família, que deve ser cumprida. ;No caso, o rapaz usa estratégias para manipular, de forma que as coisas saiam do jeito dele;, avalia.
A médica psiquiatra da unidade, Marinês Teixeira, destaca que os pais devem ser alertados. A dependência pode ser notada quando o jovem começa a prejudicar atividades cotidianas, como as escolares, e coloca as relações com a família e amigos em segundo plano.Ela relata que, nos últimos três anos, aparecem casos diariamente. ;Nos mais graves, adolescentes passam em média dez horas ininterruptas no celular ou computador. Nos menos graves, esse tempo chega a quatro ou cinco horas, o que já é muito.;
"Se ele estuda pela manhã, não acorda para ir à escola. Se estuda à tarde, acorda ao meio-dia e volta ao celular. A falta de sono é porque o cérebro é estimulado a cada segundo"
Segundo a médica, é comum que adolescentes passem a madrugada toda nas redes sociais, nos jogos, nos filmes ou navegando na internet. A depender do caso, eles precisam ser medicados para regularizar o sono noturno. A psiquiatra avalia que o problema é muito grave. ;Se ele estuda pela manhã, não acorda para ir à escola. Se estuda à tarde, acorda ao meio-dia, almoça e volta para o celular. A falta de sono é porque o cérebro é estimulado a cada segundo;, alerta.
A doença também faz com que os garotos emagreçam por não se alimentarem adequadamente. Eles também se tornam agressivos e desafiam os pais. ;A família tem que estar ciente dos riscos à saúde. O tratamento pode levar anos. A recuperação não é imediata;, finaliza Marinês.
Para ter acesso ao tratamento, os jovens podem ser encaminhados pelas unidades de saúde ou buscar o atendimento espontaneamente. No local, o tratamento é oferecido para as faixas etárias de 10 a 18 anos.O acompanhamento é multidisciplinar com assistentes sociais, psicólogos, psiquiatras e odontologistas, entre outros profissionais.