Certa vez, durante o check-in em um hotel, a recepcionista que me pedia informações para a ficha de cadastro questionou que disciplina eu ensinava enquanto professor. Ao responder ;matemática;, despertei na jovem um sentimento expresso pelas seguintes palavras: ;Nossa, detesto matemática! Odiava todos os meus professores;.
Fiquei pensando sobre esse momento, e uma das possíveis respostas para tal reação é a de que a matemática ensinada nas escolas brasileiras se distancia bastante da matemática real, situação que está no cerne dos problemas de ensino em nosso país.
Muitas vezes, os alunos veem a matemática como uma matéria morta e sem sentido, longe do dia a dia. Proporcionar essa aproximação é um dos objetivos da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A Educação Financeira, tema transversal contemplado pela BNCC, incorpora a ideia de aproximar o ensino das práticas cotidianas. A partir desse conceito, habilidades diferentes serão trabalhadas para que os jovens estejam preparados a realizar atividades, como ler e compreender um boleto bancário ; habilidade explorada em língua portuguesa, matemática, geografia, com interpretação do conteúdo, cálculo de valores e abordagem em consumo.
Provavelmente, a matemática apresentada para a recepcionista não foi a de aplicação. Se fosse assim, não teríamos tanto desprezo por essa área de conhecimento e tantos maus resultados de aprendizagem.
A matemática está em todo lugar. Nos objetos que criamos, nas obras de arte e na natureza que nos envolve, por mais que não percebamos. Porém quase nada destas conexões são ensinadas aos alunos. O que acontece é que, nas aulas, eles pensam que estão ali para aprender a matéria e executar tarefas. Já os professores deparam-se com uma disciplina com currículo inchado, sem conexões com o mundo real e sem a possibilidade de aprofundar assuntos devido à falta de tempo e a necessidade de se concluir o conteúdo da série.
A Base divide a área de matemática em cinco eixos temáticos. Na prática, significa que, durante todo o ensino fundamental, os conteúdos estão organizados em progressão lógica, podendo ser abordados com mais profundidade.
Claro que só o conteúdo em si não será responsável por uma nova forma de ensino da matemática nas escolas brasileiras. Essa mudança passa pela formação do professor, que terá de se adaptar a essa nova realidade. Para isso, espera-se que as universidades também se adaptem a esse novo modelo.
Ficamos na expectativa que a partir de 2019, com a implementação da BNCC, as mudanças, com novos livros e metodologias comecem a aparecer, e a matemática seja uma disciplina leve e conectada com as novas aspirações de aprendizado no século XXI.
* Autor do artigo, professor de matemática, autor de material didático e diretor de ensino e inovações educacionais do SAS Plataforma de Educação.