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Lotação máxima nas salas

Professores de três regionais de ensino do Distrito Federal enfrentam o desafio de ensinar em turmas que estão no limite do número de alunos permitidos pela legislação. Orientação da própria secretaria sugere classes com menos estudantes

Isa Stacciarini
postado em 14/03/2018 10:56
Escolas do Paranoá, São Sebastião e Taguatinga estão com mais alunos em sala do que prevê a Estratégia de Matrícula de 2018. Turmas do 7; ao 9; ano do Centro de Ensino Fundamental (CEF) do Bosque, em São Sebastião, têm até 47 estudantes, enquanto o instrumento normativo rege, no máximo, 32 discentes nessas séries. Nos 1; e 2; anos do Centro de Ensino Médio 1 (CEM 1) do Paranoá, professores dão aula para 45 estudantes, mas o número máximo indicado é 38.
No CEM 1 do Paranoá, docentes lecionam para 45 alunos: número indicado pela Estratégia de Matrícula é 38
O número de matrículas chega a ser 46% superior ao indicado pela própria Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF) no documento divulgado este ano. A pasta se baseia, no entanto, na Lei Distrital n; 1.426, de 1997, que permite até 45 alunos em sala de aula nos ensinos médio e fundamental. Na avaliação de diretores, coordenadores de regionais e professores, a alta demanda é um resultado da expansão de algumas cidades e da falta de escolas para atender toda a população. No CEM 1 do Paranoá, 16 turmas do 1; ano e 12 do 2; ano estão com capacidade acima do previsto. Em cada classe há, ainda, de três a quatro alunos com algum tipo de deficiência, como intelectual e física.

Professor de filosofia da escola, Vinícius Silva de Souza se preocupa com a qualidade do ensino. ;Sem dúvida, os alunos ficam prejudicados, porque, com uma turma heterogênea, é difícil oferecer um trabalho individualizado. Principalmente nesse momento de eles concorrerem a uma vaga na universidade;, afirma. Com 45 alunos em cada sala, o ambiente fica pequeno até para aplicação de provas. Em poucas salas o ar-condicionado funciona e o calor também prejudica o desempenho de docentes e alunos.

Segundo o vice-diretor, Nanderson Syrlon Pereira, a quantidade de alunos
cresceu em razão do surgimento do Paranoá Parque e de outros condomínios. ;Sempre tivemos uma demanda alta por sermos a única escola da cidade a oferecer o ensino médio pela manhã, que corresponde à maior demanda, mas, desta vez, ultrapassou as previsões;, esclarece.

Entre os alunos, a preocupação envolve as condições adequadas à preparação para o Programa de Avaliação Seriada (PAS) da Universidade de Brasília (UnB). Presidente do grêmio estudantil Não me Kahlo, Catarina Pereira de Souza, 17 anos, é aluna do 3; ano e diz que esse temor se estende aos estudantes do 1; e do 2; anos. ;Nessa realidade, podemos ficar bem longe dos outros colegas que vão concorrer às mesmas vagas;, lamenta.

Diretora do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF), Luciana Custódio afirma que muitos alunos que moram na região precisam estudar fora da cidade por causa da falta de vagas nos colégios no Paranoá (leia Memória). Por essa razão, a entidade reivindica a construção de mais escolas. ;Estamos organizando uma audiência pública para sensibilizar o Estado dessa realidade. Isso é muito grave, porque currículo também é território. Na medida em que se faz isso, desterritorializa-se o estudante. Nesse cenário, fica até inviável de o discente criar uma relação de identidade;, ressalta.

Turmas cheias

A diretora do CEF do Bosque, em São Sebastião, Kamilla Beatriz Porto, conta que há aproximadamente quatro anos se trabalha com mais alunos do que a oferta. ;São salas pequenas, com turmas cheias. Muitas vezes, o trabalho não é bem executado porque o professor não consegue ofertar um olhar criterioso. Afeta a qualidade de ensino de pré-adolescentes e adolescentes;, ressalta.

Nas turmas do 1; ano do ensino fundamental da integração inversa da Escola Classe 15, de Taguatinga, estão matriculados 26 alunos, sendo de dois a três com TGD, ou seja, estudantes com deficiência intelectual. No entanto, a estratégia de matrícula indica um máximo de até 15 estudantes, sendo até dois com algum tipo de deficiência.

A professora da escola Dinair Pereira Alves pediu para sair de sala de aula. ;Não estão respeitando a integração inversa e a estratégia de matrícula;, alega. A escola fez uma ata para a regional, mas a única resposta que obteve foi a alta demanda. ;Deixei de estar na minha turma e assumi a coordenação da escola, porque esse é um trabalho de desrespeito à inclusão;, afirma Dinair.


Memória

Fome na escola
É no Paranoá Parque onde mora o menino de 8 anos que passou mal de fome na Escola Classe 8 do Cruzeiro, em novembro de 2018. Ele, assim como as outras crianças e adolescentes, são levadas para a escola em um ônibus contratado pela Secretaria de Educação. O colégio do Cruzeiro recebe a maioria dos estudantes das séries iniciais do Paranoá. Depois da repercussão do episódio, a pasta anunciou que disponibilizará um novo local, na região, para receber as crianças que moram por lá. A previsão é de que a unidade de ensino comece a receber estudantes no segundo bimestre. Atualmente, está na fase de finalização de mobília.

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