Ana Paula Lisboa
postado em 14/03/2018 15:14
Em entrevista coletiva durante o Seminário Internacional Arte, palavra e leitura na primeira infância, que ocorre em São Paulo, Angela Dannemann, superintendente da Fundação Itaú Social, comentou resultados alcançados pela instituição e a importância da leitura durante a infância. "O seminário é uma ótima oportunidade para trocar experiências e conhecimentos com especialistas e, assim, qualificar também as nossas ações", percebe. A instituição que ela representa é uma das responsáveis pela realização do evento e tem a infância entre seus eixos de atuação. "Um dos temas que nos são caros é a leitura, a partir da primeira infância e depois dela também", comentou.
Desde 2010, o projeto Leia para uma criança, tocado pela fundação, entregou 51 milhões de exemplares de livros infantis. A maioria deles de autores brasileiros, mas alguns estrangeiros traduzidos também englobam o montante. A campanha do banco distribui livros infantis gratuitamente para pessoas que solicitam, além de ter parcerias para abastecer com obras infantojuvenis diversas instituições, como bibliotecas, escolas, organizações da sociedade civil, prefeituras, e Centros de Referência de Assistência Social (Cras). Por enquanto, a única deficiência atendida pelo projeto é a visual, já que a fundação envia livros em braille. Segundo Angela, uma plataforma digital está sendo desenvolvida para incluir crianças com outros tipos de deficiência.
Uma das metas atuais do programa é ampliar o escopo geográfico, já que tem maior concentração no Sudeste e no Sul. "Queremos chegar a no mínimo 25% mais locais no Centro-Oeste, no Norte e no Nordeste a partir deste ano", afirma Angela. "Quebrar o desequilíbrio é o primeiro passo. O próximo será mandar mais para quem mais precisa", aponta. Organizações do terceiro setor, como a própria Itaú Social, não podem trazer uma solução de escala para tratar de educação e de infância, já que isso cabe ao governo. Angela, membro dos conselhos da AACD, da Fundação Octacílio Coser e do Instituto Verdescola, observa ainda que, para conseguir efetividade, o estado não pode apostar num único programa ou área de atuação.
"Educação e leitura são processos sistêmicos. O livro não deve existir só no contexto didático, da escola, porque tem função não só cognitiva, mas social e cultural, não é só para formar uma população leitora, mas para desenvolver o ser humano de forma plena e autônoma", esclarece. De algo, Angela tem certeza: "Precisamos de uma política pública voltada à educação que dê maior prioridade à primeira infância, pois é de lá que vem as grandes defasagens e dificuldades de aprendizagem". Como isso será feito abre margem para múltiplas possibilidades: creches governamentais, convênio com instituições que oferecem o padrão de qualidade necessário para o desenvolvimento infantil, entre outras possibilidades. "O importante é ter variedade de condições."
Conscientização
"A criança pequenininha, de 0 a 6 anos, precisa do objeto livro para se familiarizar com a cultura letrada, como uma peça que se pode manipular", percebe Angela, que é bacharel em engenharia química e mestre em administração. Nem todos entendem, porém, como normal entregar um livro para quem ainda não lê. "As pessoas não dão para um bebê porque ele pode rasgar, morder..." Essa é a primeira barreira a romper.
A segunda é fazer com que pais e mães consigam ter uma pausa no dia a dia para apresentar literatura para os filhos, algo que cria vínculo afetivo e dá a meninos e meninas um repertório mais amplo. "E essas histórias são muito importantes para o desenvolvimento da criança, principalmente nessa faixa etária. As estatísticas mostram que se ela tem acesso a educação, letramento e literatura, chega aos 6 anos com 60% mais palavras do que uma criança que não teve esse acesso", compara. "E a consequências disso é se alfabetizar com mais facilidade, passar pela fase de educação inteira com mais facilidade."
Um terceiro desafio é conscientizar os pais de que vale a pena e tem sentido contar histórias e ler para os filhos, mesmo quando eles ainda não compreendem as palavras e até antes do nascimento. "Temos de fazer um trabalho ainda mais amplo de disseminação dessa noção de que é importante não só ler para um bebê, mas ler para a barriga grávida. E isso faz diferença. O primeiro sentido do neném após o tato é a audição, então se você canta, se você lê histórias, se você conversa, isso ajuda. E as pesquisas comprovam a importância disso."
[SAIBAMAIS]
O Seminário Internacional Arte, Palavra e Leitura na Primeira Infância é realizado pela Fundação Itaú Social e pelo Serviço Social do Comércio (Sesc); com curadoria do Instituto Emília e da Comunidade Educativa Cedac; parceria com o Instituto C e a Acción Cultural Española AC/E; e apoio institucional da Revista Emília, do Laboratório Emília, do Instituto A cor da letra e do Centro Regional para el Fomento del Libro en América Latina y el Caribe (Cerlalc).
O evento começou na terça-feira (13) e continua até quinta-feira (15), no Sesc Pinheiros, em São Paulo, reunindo 700 participantes de 82 cidades brasileiras. Entre os palestrantes, estão personalidades de Brasil, Espanha, Argentina, Chile, Colômbia e Peru. O objetivo é compor um panorama teórico e prático sobre o acesso da cultura na primeira infância. Mais informações estão disponíveis no site
seminarioprimeirainfancia.com.br
*A jornalista viajou a convite da Fundação Itaú Social