A parte do ensino médio da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foi entregue pelo Ministério da Educação (MEC) ao Conselho Nacional de Educação (CNE) nesta terça-feira (3). O documento será analisado separadamente das etapas de educação infantil e ensino fundamental e será de suma importância para nortear a reforma do ensino médio. Em fevereiro e em março, o MEC chegou a fazer duas apresentações sobre o texto para o Consed (Conselho Nacional dos Secretários de Educação), acatando sugestões de técnicos sobre o assunto entre uma e outra.
Confira a proposta de base para o ensino médio.
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Mendonça Filho, ministro da Educação, agradeceu aos professores que ;colaboraram de forma efetiva para a elaboração do documento, permitindo sucesso na entrega do texto, o que cumpre uma determinação do PNE (Plano Nacional de Educação) e da própria Constituição;. Na visão dele, a BNCC é um passo essencial para mudar parâmetros da educação do país. ;Mas é algo que antecede minha gestão como ministro, é um assunto de estado, não de governo;, destacou. ;Esta entrega é algo muito relevante. E acredito que o CNE, com os debates subsequentes, deixará o texto ainda melhor;, completou.
A secretária-executiva do MEC, Maria Helena Guimarães de Castro, também ressaltou a importância da participação de professores para a redação desta primeira versão da BNCC do ensino médio. ;Muitos professores participaram de oficinas, tiveram enorme disponibilidade. Em pleno carnaval, estávamos reunidos em São Paulo discutindo a base. Então, deixo a eles meu agradecimento mais profundo;, afirmou. ;Agora, o CNE terá um grande trabalho pela frente, colocando em discussão, fazendo audiências, estabelecendo o diálogo com a sociedade brasileira.;
O presidente do CNE, Eduardo Deschamps, ressaltou como positivo o grande engajamento popular na elaboração das outras etapas da base. ;As audiências públicas tiveram participação maciça da população", diz. A expectativa é que, agora, quando a base do ensino médio estará em debate, a participação continue sendo alta. "Num país tão grande e diverso como o nosso, dificilmente teríamos como ter um currículo único. A base comum, a tentativa de criar uma referência para todos, é um marco para a educação brasileira;, comemorou Deschamps, destacando o legado que o ministro da Educação, Mendonça Filho, que abrirá mão do cargo esta semana, deixará para o ensino do país.
Júlio Gregório, secretário de Educação do Distrito Federal, chama a atenção para a importância de atualizar o modo como se dá aula e, principalmente, de ter mais flexibilidade para ensinar algo que realmente seja relevante para os alunos. E ele acredita que a BNCC será o pontapé para isso. ;Eu não posso chegar aqui e dar aula como eu dava lá na década de 1970, mas isso continua acontecendo;, observa ele, que é professor de química. ;Apesar de eu ter passado vários anos da minha vida ouvindo que havia flexibilidade na construção do currículo, nunca consegui flexibilizar de fato. A legislação estabelecia a flexibilidade, mas as amarras dos conselhos impunham limites que levaram ao ensino médio que temos hoje;, comenta.
;Durante muito tempo, o ensino médio de sucesso era preparatório para exames vestibulares. Hoje, não pode ser esse o conceito;, defende. Para o secretário, vestibulares e provas como o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) engessam o aprendizado e forçam professores a ensinarem conteúdos unicamente porque são cobrados no teste, mesmo que não tenham aplicação prática. ;Como professor de química, abordei inúmeros assuntos só porque cairiam no vestibular, sendo que, no dia seguinte, seriam esquecidos. Eu me pergunto se vocês sobreviveriam sem saber qual é o produto da ozonólise do buteno;, exemplificou. ;Tantas vezes, cobramos temas assim dos alunos, dando zero para os que não os compreendem, causando, nas classes menos abastadas, até o provável abandono da escola;, aponta.
Para Maria Helena Guimarães de Castro, secretária-executiva do MEC, a desconexão entre o que o é ensinado em sala de aula e a vida do aluno gera graves problemas, sendo uma das culpadas pelo mau desempenho dos estudantes brasileiros em avaliações educacionais, pela defasagem idade-série e pelo abandono escolar. ;Boa parte dos alunos do ensino fundamental nem chega a entrar no ensino médio porque terminam o 9; ano com atraso e vão trabalhar ou se transformam em nem-nem (pessoas que nem estudam nem trabalham);, aponta.
;O currículo atual está desconectado do mundo do jovem.; Essa realidade tende a mudar quando a BNCC passar a valer. ;Agora, teremos um currículo conectado com o mundo digital e as culturas juvenis;, garante. ;Trabalhamos com os desafios listados pela Unesco e pela OCDE de preparar cidadãos para o mundo do trabalho da 4; Revolução Industrial e para os desafios do século 21. Com a BNCC, procuramos aprofundar a relação entre teoria e prática, dando grande ênfase para a solução de problemas;, comenta.
Multidisciplinaridade
A BNCC do ensino médio aposta fortemente na multidisciplinaridade, algo que pode ser um grande desafio para os professores, já que cada um estudou apenas a própria área de atuação e está acostumado a dar aulas apenas da disciplina que domina. Frente à problemática, Mendonça Filho destaca o papel do programa de residência pedagógica, voltado à atualização e capacitação de docentes e para o qual o MEC anunciou a abertura de 80 mil vagas ainda em 2018. ;A residência pedagógica significa um passo a mais na busca por melhor formação de professores no nosso Brasil;, disse.