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Crianças prematuras ou com deficiência têm atendimento gratuito em escolas

Programa criado há 31 anos na rede pública de ensino atende quase 3 mil estudantes no Distrito Federal

Murilo Fagundes* , Isabela Nóbrega*
postado em 15/04/2018 08:00

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É durante os primeiros anos de vida que se formam conexões neuronais fundamentais para o desenvolvimento das crianças. Por isso, bebês prematuros ou com algum tipo de deficiência precisam ser estimulados durante todo esse período. A rede pública de ensino oferece atendimento especializado para essa população por meio do Programa de Educação Precoce, criado há 31 anos. As crianças são atendidas por profissionais de diversas áreas, individualmente ou em grupo.

Ao todo, 20 unidades escolares da rede pública de ensino fazem parte do programa de educação precoce, que é referência nacional. Em outros locais do país, esse tipo de atendimento fica restrito à área médica. As escolas de Brasília atendem cerca de 3 mil crianças de até 3 anos em salas adaptadas. Os casos mais comuns são de autismo, deficiências múltipla ou intelectual e prematuridade.

Para a coordenadora do projeto no Centro de Ensino Especial de Planaltina, Luciana Lima, o diferencial do trabalho está na preocupação com o desenvolvimento integral das crianças. ;Conseguimos otimizar a parte cognitiva e motora dos alunos com os educadores físicos, e a parte pedagógica com os pedagogos. Essa integração funciona muito bem;, afirma. Os atendimentos individuais ocorrem de duas a três vezes por semana.


Quando as crianças completam 2 anos, começam a se reunir com outras. Os formandos, com 3 anos, passam duas horas por dia com os professores nas turminhas, apelido dado aos grupos de até quatro alunos. Na escola de Planaltina, a maioria dos 200 alunos atendidos são encaminhados por nascimento prematuro. ;O que mais me encanta no nosso trabalho é ver uma criança muito comprometida, que mexe só o olho, às vezes, sair daqui com 3 anos se superando, conseguindo andar e falando as primeiras palavras;, diz, orgulhosa, a coordenadora da equipe.

Professora no Centro de Ensino Especial 2 de Ceilândia, Uiliene Alves afirma que melhorias estruturais ajudariam na realização do trabalho. ;Os espaços físicos devem ser adaptados, além do mobiliário e do material pedagógico. Isso exige um investimento maior ainda;, ressalta. Para Uiliene, uma parceria efetiva com as áreas complementares, como a saúde, também contribuiria para formar uma rede de apoio ampla e melhorar o atendimento.

Infográfico com atividades para estimular os filhos a estudarem em casa

Conquistas

No corredor da escola, um dos alunos chama a atenção pelo sorriso inocente, que cativa quem o encontra. Guilherme Vassalo, 2 anos, começou a ser atendido ainda bebê no Centro de Ensino Especial de Planaltina. A professora Aldenicy de Souza acompanha o desenvolvimento do pequeno desde então. ;Ele ficou mais concentrado, passou a ter mais controle de baba e agora está começando a ficar em pé. É uma conquista;, observa.

A mãe de Guilherme, Cristiane Ferreira, 42, vibra com a felicidade do filho, que tem síndrome de Down, doença genética que causa atrasos de desenvolvimento e intelectuais. ;O sorriso no rosto do Guilherme mostra a importância da educação precoce na vida dele;, diz.

Tânia Araújo, 31 anos, comemora avanços semelhantes no desenvolvimento da filha, Manuella, 1. A menina nasceu na 33; semana de gestação, devido a um descolamento de placenta. O parto aconteceu sete semanas antes do prazo calculado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de 40 semanas. São considerados prematuros bebês que nascem antes das 37 semanas. A mãe, que não conhecia o projeto, recebeu a recomendação de uma médica. ;A Manuella é atendida desde os três meses e nem parece uma menina de 1 ano. A avaliação do ano passado mostrou que ela tinha desempenho de uma criança de 2 anos. É gratificante ver esse crescimento;, relata. Tânia diz se sentir acolhida pelos profissionais, que a ajudam a enfrentar desafios.

Integração

Um dos pilares do ensino especial é integrar os alunos à sociedade. Para ajudar nesse processo, os professores organizam eventos que reúnem toda a comunidade escolar. Além da tradicional Festa da Família, a educação precoce promove o Precoce Fashion Day, um desfile de moda de mães e bebês que convida famílias e funcionários a acompanharem histórias de superação desfilando na passarela.

A formatura é outro evento marcante para as crianças do projeto. Quando alcançam a idade máxima de 3 anos, elas chegam ao fim do ciclo e, a partir daí, traçam novos caminhos: ou são encaminhados ao ensino regular e ingressam na educação infantil ou continuam no Centro de Ensino Especial, com o objetivo de alcançar as habilidades necessárias para uma posterior inclusão.

Três perguntas para

Cláudia Madoz, diretora da Educação Especial da SEEDF

As escolas que contam com a educação precoce são suficientes para atender a demanda de alunos?
O número de crianças atendidas no Programa de Educação Precoce aumenta no decorrer dos anos, em virtude do êxito e da divulgação do trabalho. As escolas que atendem são suficientes para a demanda, sim. Hoje, a Secretaria de Educação conta com 20 Unidades de Educação Precoce no DF.

Qual a importância desse tipo de trabalho?
A educação precoce é muito importante para minimizar os problemas das crianças, melhorando a qualidade de vida e garantindo o desenvolvimento delas como um todo. As crianças, nos primeiros anos de vida, têm uma janela de oportunidades, pois é quando o cérebro está em desenvolvimento. Nessa fase, problemas no desenvolvimento têm maior possibilidade de serem sanados, graças à plasticidade cerebral (capacidade do cérebro de se remodelar ao longo da vida).

Há investimentos previstos para a educação precoce no DF?
Sim. Quando necessário, serão abertas novas unidades do programa em locais em que há demanda. Além disso, novos cursos de educação precoce serão oferecidos pela Secretaria de Educação.

Anote

Para mais informações sobre a educação precoce, entre em contato com a Ouvidoria da Secretaria de Educação do Distrito Federal, pelo número 162. Para matricular a criança, o responsável deve comparecer à secretaria da escola mais próxima que oferecer o serviço e apresentar laudo de especialista.

* Estagiários sob supervisão de Mariana Niederauer

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