Tayanne Silva*
postado em 11/05/2018 20:33
Identidade, representatividade e resistência são palavras chaves da caravana formada pelo Circo Teatro Artetude e pelo Centro Cultural e Social Grito de Liberdade. Os dois grupos se uniram para circular entre escolas públicas do Distrito Federal até 28 de maio com o espetáculo Quilombo da liberdade, raízes. O movimento tem conscientizado estudantes a partir do aniversário da Lei Áurea, que aboliu a escravidão no país, assinada em 13 de maio de 1888. No domingo (13), a resolução completa 130 anos.
Na última quarta-feira (9), foi a vez de o Centro de Ensino Médio 1 Júlia Kubitschek (CEM JK), da Candangolândia, receber a atividade. Ao todo, 2 mil estudantes da unidade acompanharam encenação sobre história da África e dos negros no Brasil. A apresentação contou com a presença de 20 artistas que dançaram variados estilos, como capoeira Angola e regional, dança do bastão puxada de rede, ao som de berimbaus, agogôs, atabaques, pandeiros e reco-recos.
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;A expectativa é atingir toda a comunidade escolar, levá-la a refletir sobre a história e a formação cultural dos afrodescendentes;, afirma o idealizador do Grito de Liberdade, Roberto de Oliveira, 49 anos, conhecido como Mestre Cobra. Ankomarcio Saúde, 40, diretor do espetáculo, enfatiza a importância da representatividade negra. ;A maioria da população do Brasil é formada por negros, e eles nem sempre são retratados nas peças teatrais, na televisão e no cinema como protagonistas. Quase sempre ocupam papéis secundários;, diz. Palhaço, apresentador e ator, ele forma, com Ruiberdan Saúde Caetano, a dupla Irmãos Saúde, que usa circo e poesia para falar de sentimentos, como respeito, disciplina, confiança e perseverança.
Em meio a aplausos, risos e expressões de surpresa, a plateia estudantil aprende com as encenações. ;Todos nós somos iguais, sabe? Não existe gente diferente. Você olha para pessoas que têm cabelos cacheados ou lisos, elas não são distintas. São seres humanos e possuem sentimentos! Hoje em dia, precisamos viver com mais harmonia, o mundo tem muita violência e temos que nos unir;, acredita Elisa Domingues, 14 anos, que está no 9; ano do ensino fundamental.
;Achei muito interessante a apresentação porque é uma maneira de lembrar e informar as pessoas sobre a escravidão e sua abolição;, comenta. ;O grupo teatral deu uma lição de vida, encenando experiências pessoais dos artistas, que conseguiram mudar a própria história com fé e paixão pela capoeira, além de mostrar situações pelas quais os escravos passaram;, conta Fernanda da Silva, 13, do 8; ano.
Michael Christian, 13, que está no 7; ano, demonstra animação pela caravana. ;Foi muito bom! Eu aprendi sobre capoeira e história do Brasil;, afirma. ;Gostei bastante! As crianças tiveram a oportunidade de saber mais sobre as nossas raízes e de conhecer a capoeiragem;, diz Marcelo Lucas, 25, estagiário que dá aulas de educação física no colégio. ;Não é apenas uma luta, tem um valor histórico e cultural importantíssimo e está longe de ser ligada à marginalidade;, destaca Lucas. ;Além disso, foi legal conhecer a experiência do Mestre Cobra e ver como a capoeira mudou a vida dele ;, diz o estudante do Centro Universitário do Distrito Federal (UDF).
Responsáveis pelos grupos
;Às vezes, nós queremos saber muito do que vem de fora do Brasil e nos esquecemos das nossas raízes. É importante trazer a capoeira para dentro das instituições de ensino porque, assim, consegue-se educar e resgatar o ser humano;, diz Mestre Cobra. Apesar disso, ele ressalta a importância de a mistura de dança com arte marcial ser conhecida mundo afora, sendo usada para o bem. ;A capoeira não deve ser valorizada somente no ambiente escolar, mas, sim em meio à nação brasileira. Ela fortalece a autoestima da negritude e diz respeito à diversidade, o que é válido já que nosso país ainda é preconceituoso;, observa.
Mestre Cobra é um exemplo de como a cultura pode mudar a vida das pessoas. ;Em 1994, eu pedi contas do emprego de fiscal de segurança por acreditar na capoeira como profissão;, conta, satisfeito. Esse símbolo cultural afro-brasileiro foi uma ferramenta para se livrar da dependência química. ;Eu consegui me tirar do mundo das drogas. Vivia na margem da estatística. Hoje trabalho com valores, ação social e, principalmente, qualidade de vida;, relata.
Ankomarcio Saúde conta como fundou, nos anos 2000, o Circo Teatro Artetude e como conheceu o Mestre Cobra. ;Tudo começou comigo, quando eu era professor de educação física e fui estagiário em uma escola de meninos de rua que tinha um palhaço chamado Simpatia. Eu me apaixonei pelo jeito com que ele lidava com as pessoas e decidi fundar meu grupo;, lembra. ;Em 2006, conheci o Mestre Cobra nas periferias, por causa do boca a boca das pessoas; depois, acabamos nos juntando;, explica.
Ação social no Riacho Fundo
No domingo (13), Dia da Abolição da Escravatura no Brasil, o Grito de Liberdade fará uma apresentação focada em mulheres negras e mães, no Riacho Fundo. O grupo entregará cestas básicas para 80 famílias na QS 10, Conjunto 5, Casa 13, Riacho Fundo I ; Caverninha, a partir das 8h.
Saiba mais
Circo Teatro Artetude
Contato pelo telefone (61) 9-9979-4930 ou pelo Facebook.
Centro Cultural e Social Grito de Liberdade
Contato pelo telefone (61) 9-9962-0330 ou pelo
Programação das apresentações
Riacho Fundo I
14 de maio (segunda-feira)
Escola Classe Verde
Horários: das 10h às 11h e das 14h às 15h
16 de maio (quarta-feira)
Local: Centro Educacional 2
Horários: das 10h às 11h e das 14h às 15h
Núcleo Bandeirante
17 de maio (quinta-feira)
Local: Centro Educacional Vargem Bonita (Park Way)
Horários: das 10h às 11h e das 14h às 15h
28 de maio (segunda-feira)
Local: Escola Classe Ipê
Horários: das 10h às 11h e das 14h às 15h
Assista a trecho de apresentação do espetáculo Quilombo da liberdade, raízes no CEM Setor Leste, em 2016:
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*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa