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Ainda dá tempo de recuperar notas baixas para não perder o ano letivo

O primeiro semestre está terminando e é preciso fazer uma autoavaliação do ritmo de estudos para não correr o risco de reprovar no fim do ano. Segundo especialistas, o envolvimento dos pais no estudo dos filhos é fundamental para lidar com notas abaixo da média nos primeiros períodos

Felipe de Oliveira Moura*
postado em 28/05/2018 19:43
Após acidente em casa, Mariana e os pais reavaliaram as estratégias de estudoAo passo que o primeiro semestre de 2018 se aproxima do fim, é comum que alunos e pais parem para avaliar o desempenho escolar na primeira metade do ano, principalmente se as notas nos primeiros períodos tiverem sido baixas e a necessidade de fazer recuperação tiver aparecido. O medo da reprovação se torna mais real. No entanto, é possível evitar o sufoco no fim do ano letivo se o estudante, com a colaboração dos pais, tomar atitudes desde já. O apoio dos responsáveis logo quando surgem os primeiros sinais de queda no rendimento pode fazer a diferença para que os filhos se recuperem a tempo.
Quando as primeiras notas ruins aparecem no boletim, a primeira passo para o aluno é se autoavaliar e anotar em um papel o que acredita estar fazendo errado. Essa é a orientação do professor de química e coach educacional Jônatas Gonçalves. ;É preciso aprender a identificar tudo aquilo que o faz parar de estudar e se desmotivar.; Ao mesmo tempo em analisa as falhas que cometeu, é necessário traçar metas. ;É importante enxergar objetivos, se visualizar aprovado na escola, na universidade, em uma situação do futuro, imaginando a vida daqui a 10 anos;, incentiva.

Feita a análise, é hora de partir para a prática: defina metas diárias que sejam possíveis de alcançar. Segundo o professor, proprietário do Estratégia Enem, cursinho virtual de preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio, muitos alunos começam o ano com alta intensidade de dedicação, mas não conseguem sustentar a rotina de estudos. A saída é tornar o estudo uma atividade diária. ;Criar o hábito de estudar é melhor do que ter uma rotina de estudos porque, na rotina, se acontece um imprevisto, qualquer coisa, você muda. O hábito não, você sempre faz aquilo, então não demanda tanta energia do cérebro;, orienta.

Para que as metas diárias sejam cumpridas, Jônatas, que também é bacharel em direito, aposta em diminuir o número de disciplinas vistas por dia e a evitar copiar no caderno o que está no livro. ;Tente compreender os conteúdos e passar para o papel sem ficar olhando para o livro. Só copiar e colar não gera memória em longo prazo;, afirma. O caminho para reforçar e não esquecer o conteúdo com o passar do tempo é aplicar o estudo ao cotidiano. ;Explique para outras pessoas aquilo que está aprendendo. O ato de repetir e falar também gera memória em longo prazo;, completa.

Christiane Diniz, psicopedagoga e especialista em dificuldade de aprendizagem, observa que outro erro comum na hora de estudar é começar pelas disciplinas em que se tem mais facilidade. ;Em uma matéria mais difícil, se você está cansado e desatento, só piora o rendimento. O aluno acaba achando que tem mais dificuldade do que tem;, ressalta. Frequentar o plantão tira-dúvidas da escola, ficar de olho no calendário de reforço escolar e fazer muitos exercícios são as dicas dela para recuperar o tempo perdido.

A falta de um lugar adequado para os estudos pode atrapalhar, aponta Christiane, da Filhos Educação e Aulas, empresa especializada em reforço escolar em casa. Várias distrações no mesmo ambiente são um problema comum. ;Ninguém aprende e tem a mesma performance com televisão ligada, ouvindo música e com mil pessoas passando. Se o objetivo é estudar, você tem de se dedicar, fazer o cérebro trabalhar em função de um foco;, ensina.

Os especialistas concordam que a comunicação com o professor é essencial. O aluno deve procurar o docente e ver em que está errando e, assim, mudar de estratégia. ;Quem precisa de nota e não se abre com o professor já está no caminho inverso da recuperação. Isso faz toda a diferença. O aluno vai perceber que o professor tem outra visão dele, podendo até mesmo direcionar a aula;, afirma Jônatas.

;Até mesmo quem é tímido e tem vergonha de perguntar na aula pode fazer isso no fim do período. O professor que tem sensibilidade consegue ajudar a pessoa a evoluir nesses momentos;, aponta Christiane.

Pais podem ajudar na recuperação

A família é importante aliada do aluno na recuperação das notas. Mais do que dar aquele puxão de orelha, é necessário supervisionar e acompanhar os estudos dos filhos, como recomenda Christiane Diniz. ;O maior erro que os pais cometem é não supervisionar. Confie, mas supervisione. Esse é o grande segredo. Não é só perguntar se a criança ou adolescente fez o dever de casa, mas se sentiu dificuldades e em quais disciplinas. Se foi na leitura ou nos exercícios. A bronca é um sinal de que o pai também errou e não acompanhou corretamente o processo de aprendizagem;, completa.

Priscila acompanha o desempenho do filho Lucas e chegou a restringir o uso de dispositivos eletrônicosCoach educacional, Jônatas Gonçalves acredita que os pais vacilam ao não conhecer a metodologia da escola. ;Às vezes, os pais se aventuram e contratam um professor particular para uma determinada disciplina, mas pode ser um profissional que não faz uma abordagem dentro do método da escola.; Jônatas pondera que a supervisão deve ser pensada. ;O pai precisa orientar e, antes de matricular o filho na escola, conferir se é aquele formato que quer para o filho;, enfatiza.

A família do empreendedor Roberto Calixto passou por um susto no começo do ano. Um muro da casa onde moram em Sobradinho desabou e forçou todos a morar na casa de parentes por dois meses até que o problema fosse solucionado. Ele acredita que isso tenha refletido no desempenho escolar da filha, Mariana, 15 anos. ;O susto foi muito grande e isso refletiu nas notas dela. Ela estava fora de casa, sem saber o que fazer e isso causou uma debilidade emocional. É uma boa aluna e ninguém está livre de ter problemas pessoais;, aponta.

Roberto acredita que muitos pais erram porque esperam o problema se agravar para cobrar dos filhos e acompanhá-los. Com Mariana, ele percebeu cedo que era hora de conversar sobre o desempenho na escola. ;Quando vimos que as notas começaram a baixar, mesmo em matérias que ela tem um domínio muito grande, fomos falar com a coordenação;, explica.

Mariana é aluna do Centro Educacional Sigma, deseja cursar medicina e está no 2; ano do ensino médio. A dificuldade em matemática começou no 1; ano, mas a nota 2,5 no primeiro período de 2018 ligou o sinal de alerta. ;Neste ano, minhas notas baixaram muito. Eu decidi que precisava de ajuda e, com o acompanhamento dos meus pais, dos colegas e do colégio, consegui tirar 10 na última prova objetiva;, comemora. De acordo com a jovem, é essencial que os pais consigam tratar o problema com paciência. ;É muito importante que eles saibam não apenas como confrontar, mas lidar com essa situação sem surtar e evitar que a gente fique mais nervosa com isso;, diz.

É essencial diagnosticar há quanto tempo o problema existe, como aponta Jônatas Gonçalves. ;Em matemática, por exemplo, alunos que apresentam dificuldades empurraram com a barriga ou esqueceram o conteúdo. Isso gera falhas no futuro porque entram no ensino médio tendo feito mal o fundamental. A solução é voltar ao início. Às vezes, é preciso partir do zero para entender os assuntos mais avançadas;, destaca.

Cooperação entre pais e educadores

Christiane Diniz afirma que o diálogo com a escola é fundamental para entender os motivos das quedas nas notas. No entanto, os pais devem procurar ser parceiros e não inimigos do colégio. ;Muitos pais vão às reuniões à procura de um culpado, perguntando à escola por que a instituição errou com o filho deles. Eventualmente, a escola erra, mas não é regra.; Para a psicopedagoga, a alternativa é ser parceiro da instituição. ;Os pais devem acompanhar e perguntar como é o filho em sala de aula, se ele presta atenção e o que os professores dizem sobre ele;, orienta. ;Os pais precisam participar ativamente da vida escolar; conversar, conhecer os professores e saber como eles trabalham;, concorda Jônatas, que também é professor de química no Colégio Pódion.

Tecnologia pode ser aliada

As dificuldades de Lucas Pinheiro, 13 anos, nos estudos começaram quando os pais deixaram de acompanhá-lo de perto, e a tecnologia em excesso tomou lugar. Os objetivos em quase todas as disciplinas não foram alcançados no primeiro trimestre de 2017. A mãe, Priscila de Castro, relata o problema. ;O Lucas sempre foi um ótimo aluno. Acabamos deixando o estudo na total responsabilidade dele e ele deixou de lado;, comenta a dentista.

Priscila, acostumada a conversar com o filho sobre o desempenho nos estudos, colocou Lucas no reforço escolar e limitou o uso dos dispositivos eletrônicos. ;Acompanhamos e interferimos para que dê certo. No segundo e no terceiro trimestres, as notas melhoram bastante;, diz. A dentista vê negligência por parte de muitos pais no acompanhamento dos estudos dos filhos. ;Acabam deixando isso para depois porque é mais fácil delegar, confiar aos outros a responsabilidade do que se envolver no processo;, critica.

Proibir o uso do celular e do computador pode resolver o problema de desempenho a curto prazo, mas o melhor é se envolver no aprendizado dos filhos, afirma Jônatas. ;Proibir as coisas e ser radical pode até ter um efeito de crescimento, mas isso é imediato. Os pais têm de saber utilizar melhor as ferramentas tecnológicas.; Para o coach, melhor do que o veto às tecnologias é o incentivo do uso delas para os estudos. ;Uma sugestão que dou é criar um login de estudos para o filho no YouTube para que ele acesse apenas coisas de estudo porque as redes sociais são inteligentes e memorizam aquilo. E com o mesmo login, ele acompanha se o filho está, de fato, cumprindo aquilo;, aconselha.




*Estagiário sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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