Marília Lima*
postado em 18/07/2018 13:17
Um projeto social desenvolvido na Estrutural vem transformando a realidade de crianças e adolescentes que vivem naquela cidade. A Escolinha de Futebol Ajax, em parceria com o grupo alemão GIZ (Deutsche Gesellschaft Fur Internationale Zusammenarbeit), treina futuros jogadores para a vida ou para os campos ; alguns deles estão jogando em grandes clubes brasileiros, como Grêmio, Goiás, Palmeiras.
Outra ação recente foi o treinamento de 25 policiais para atuarem como educadores sociais na comunidade. O objetivo é melhorar a convivência entre agentes de segurança pública e crianças e adolescentes. Os resultados desse projeto podem ser conferidos na exposição Aprendendo no campo, vencendo na vida, aberta até sexta-feira (20), no Salão Negro do Palácio de Justiça, com um acervo de 20 fotos do fotojornalista Luís Nova.
Distante apenas 20 quilômetros da Praça dos Três Poderes, a Estrutural é conhecida como uma das cidades mais violenta do Brasil, e nela, a escolinha de futebol Ajax trabalha para mudar a realidade de crianças em situação de vulnerabilidade. Hoje, a escolinha tem cerca de 150 alunos matriculados, entre 4 e 20 anos, e o objetivo do projeto é transformar vidas por meio do futebol.
Lucas Silva, 17 anos, aluno do 2; ano do ensino médio, participa do projeto há quatro anos. Filho de costureira e vendedor de lanches, o jovem conta que o futebol transformou sua vida. ;Aprendi o respeito dentro e fora de campo. Antes da Ajax, minhas notas na escola eram baixas, não respeitava os professores e via a escola como uma brincadeira. Hoje, tenho uma percepção totalmente diferente, presto atenção nas aulas e as notas subiram bastante;, relata o estudante.
Fred Salles, curador de exposição, teve a ideia de divulgar a iniciativa por meio de uma exposição porque tinha um arquivo com 40 fotos. ;O processo de montagem da mostra foi uma construção coletiva, envolvendo todos os parceiros. A escolha das fotos foi uma tarefa bem difícil porque tínhamos muito material, com fotos fantásticas de uma realidade e sensibilidade ímpar do fotógrafo Luís Nova;, explica Salles.
Luís Gustavo Nova, 30 anos, ficou responsável por fotografar todas as ações do projeto. Luís é formado em jornalismo pelo Centro Universitário Iesb e atua como fotojornalista há seis anos. Ele conta que foi uma experiência fantástica fotografar os jovens da Estrutural, um trabalho diferente de tudo que fez. ;As crianças chegaram à exposição e se viram como protagonistas. Foi difícil acreditar que tudo aquilo estava acontecendo", conta
"Para mim, é algo surreal. Um jovem do interior de São Paulo expor no Palácio de Justiça é algo inacreditável. Sou pequeno perto da dimensão do projeto e daqueles jovens. Sempre busco extrair o melhor da fotografia, dando o máximo de mim. Com isso, estou sendo reconhecido;, relata.
A Estrutural era conhecida apenas pelo Lixão, o maior depósito de lixo da América Latina fechado este ano e onde cerca de 2 mil famílias sobreviviam dos rejeitos descartados. Agora, essa visão, aos poucos, está mudando, permitindo um futuro mais promissor à população. A abertura da exposição, na sede do Palácio da Justiça, na opinião do professor de futebol Alessandro Gomes, contribui para melhorar a autoestima da população local.
;A Estrutural é exposta como cidade pobre e perigosa, mas, com a exposição, as mães e as crianças se viram como artistas, e isso muda a vida deles;, observa o professor. Para Luís Nova, são projetos sociais como esse que ensinam sobre a construção do caráter dos jovens. "Fotografar essa realidade é um aprendizado;, admite.
Uma das ações reconhecidas do projeto foi a parceria firmada com a Polícia Militar do Distrito Federal para viabilizar a realização de seminário de formação e capacitação educacional. Durante quatro dias, 25 policiais militares foram treinados para atuarem como educadores sociais. O objetivo é melhorar a relação entre agentes de segurança pública e crianças e adolescentes da Estrutural, bem como a população da cidade.
Pensando numa nova metodologia que pudesse mudar não só a realidade das crianças, mas também da cidade em geral, a Escola de futebol fechou parceria com a GIZ (Deutsche Gesellschaft Fur Internationale Zusammenarbeit), organização alemã não governamental. As instituições realizaram um mapeamento para compreender quais eram as necessidades do projeto. Foi assim que a Ajax implantou a metodologia de treino social, que visa o desenvolvimento social de crianças e adolescentes por meio do esporte. Com apoio do grupo alemão, essa ideia se expandiu.
Visite!
A exposição permanece aberta ao público até sexta-feira (20), no Palácio da Justiça. De graça.
*Estagiária sob supervisão de Ana Sá