Darcianne Diogo*
postado em 15/08/2018 21:54
Promovido pela Fundação Itaú Social, pela Fundação Roberto Marinho, pelo Instituto C e pelo Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE), o 14; Seminário Internacional de Avaliação reuniu especialistas, profissionais e estudantes para debaterem o tema ;Pensamento avaliativo e transformação social "nesta quarta-feira (15), no Centro Cultural São Paulo (SP), em São Paulo. A programação incluiu palestras e mesa de debates, tendo como objetivo principal orientar organizações (públicas e particulares, ligadas e não ligadas à educação) a buscarem novos métodos para solucionar problemas sociais, optando por novas ideias, que sejam mais efetivas que as aplicadas atualmente.
A grande estrela do evento foi o norte-americano Michael Quinn Patton, especialista em avaliação e presidente da Utilization-Focused Evaluation (Avaliação Focada em Uso). No contato com o público, ele destacou a necessidade de organizações sociais e escolas brasileiras estarem o tempo todo atentas a questões como prioridades, estratégias, mensuração de resultados e impactos gerados. Para ele, a avaliação não se trata de uma questão política, mas, sim, individual. ;O pensamento avaliativo traz uma abertura de questionamentos, diálogos e exames. O método começa sempre com uma pergunta e, a partir dela, vem a análise e a elaboração do plano que deve ser feito;, explica.
Para mostrar como funciona na prática, o especialista citou como exemplo o cigarro. Todos sabem dos malefícios que o consumo do tabaco ocasiona. Por esse motivo, diversas instituições criam meios que buscam conscientizar os fumantes, como folhetos, banners ou campanhas de internet. Para Patton, no entanto, é aí que está o problema. ;As pessoas são diferentes. Não devemos achar que essa estratégia vai atingir todo o público. Os jovens que fumam hoje não têm o mesmo pensamento de uma pessoa que fuma há 40 anos. O objetivo do pensamento avaliativo é pensar em uma forma que atinja a todos;, argumenta.
Método de Paulo Freire
Considerado um dos pais da avaliação como disciplina e como campo profissional, Michael Patton baseou as experiências de método avaliativo no educador, pedagogo e filósofo brasileiro Paulo Freire. Patton escreveu vários livros que são referência básica para avaliadores e pesquisadores sociais, incluindo Avaliação Focada na Utilização, na qual enfatiza a importância de projetar avaliações para garantir sua utilidade, em vez de simplesmente criar relatórios longos que não resultam em quaisquer alterações práticas. Com isso em mente, Patton e a gerente-geral de educação da Fundação Roberto Marinho, Vilma Guimarães, lançaram o livro Pedagogia da avaliação e o pensamento Paulo Freire: incluir para transformar.
Na obra, os especialistas buscam disseminar os ensinamentos de Paulo Freire e mostram como aplicá-los, inclusive em sala de aula. Vilma acredita que a educação brasileira tem muitas experiências de sucesso, como a efetivação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), mas não basta apenas pesquisar e relatar. É preciso colocar a educação em primeiro lugar e tornar o conhecimento universal. ;A educação pública é o caminho para se trilhar um combate à desigualdade sociocultural e econômica. Não dá para falar em avaliação que não seja democrática, ética e dialógica,; comenta.
Resultados e efeitos dependem de contexto
Gerente de Pequisa e Avaliação da Fundação Roberto Marinho, Mônica Pinto explica que, antes de elaborar um processo avaliativo, é importante conhecer primeiramente o projeto social como um todo. ;É preciso analisar dados, evidências, fazer estudos qualitativos e quantitativos a fim de ter resultado eficaz,; comenta. Nem toda estratégia projeto social conseguirá sucesso, pois os efeitos dependem de cada grupo ou indivíduo envolvido. Um exemplo claro, na visão dela, são professores em um ambiente escolar. ;Supomos que criemos algo para melhorar o rendimento do aluno na escola e, para isso, entreguemos cartilhas e livros para os docentes, para que eles se qualifiquem. Pode ser que eles usem o material, pode ser que não. Então, depende muito do receptor também;, ressalta.
Eu fui!
A estudante de economia Jéssica Almeida, 21, é estagiária no Banco Itaú e trabalha no setor de avaliação de impactos, ligados a projetos internos. Segundo ela, os conteúdos aprendidos no seminário a auxiliarão nas atividades. ;Acredito que esse contato foi importante porque o meu intuito é fazer uma avaliação útil, com a finalidade de ver se atingi o público-alvo com o que fiz;, diz. Para o consultor de serviços públicos Frederik Carvalho, 28 anos, o evento serviu como fonte de aprendizado. ;Com essas novas referências, o meu cliente vai adquirir capacidades reflexivas sobre a mudança que estiver ocorrendo na empresa dele;, destaca.
Saiba mais
*A estagiária, sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa, viajou a convite da Fundação Itaú Social