Darcianne Diogo*
postado em 02/10/2018 19:23
Valorizar a vida. Esse é o lema de alunos e professores do ensino médio do Centro Educacional 310 de Santa Maria (CED 310). Com o objetivo de discutir questões sobre o suicídio e automutilação, cada vez mais recorrentes entre os jovens, o projeto Juntos pela Vida enfatiza a valorização da vida e promove atividades lúdicas como forma de aliviar a dor de cada um. Nesta terça-feira (2), o grupo elaborou uma programação composta por uma palestra da professora de artes Mariana Almada e a exposição ;365 dias de consciência negra;, que trouxe 17 fotos da professora de artes e psicanalista Mariana Almada.
Concebida em agosto por 60 professores e 23 alunos, a iniciativa partiu de uma preocupação dos docentes sobre o alto número de jovens que se automutilam devido a fatores como depressão e transtorno de ansiedade. De acordo com Mariana Almada, o projeto não tem por finalidade apenas abordar o suicídio, mas manter o foco na importância de viver. ;Falar do suicídio é reforçar uma palavra que chama atenção para os jovens. Por isso, decidimos falar do lado positivo e motivá-los a viver;, ressalta.
Durante a palestra, Mariana Almada relatou a história de vida dela como mulher, negra, professora e artista, contando de situações vividas na pele, como discriminação, bullying e superação. Segundo ela, essa é uma das estratégias para os estudantes se sentirem à vontade em compartilhar experiências. ;Quando tratamos desses temas, é natural que o jovem se identifique com as histórias. Assim, eles se sentem mais confortáveis em colocar para fora tudo que sentem.;
Exposição mostra identidade negra
A exposição fotográfica também foi um dos atrativos do evento. ;A consciência negra parte da nossa própria consciência, pois é a partir daí que se inicia a valorização da vida. Eu, por exemplo, me reconheci como mulher negra desde 2011, que foi quando eu conheci a verdadeira história dos meus ancestrais;, explica.
;A meta é mostrar que muita gente foi alcançada por meio da educação e fazer minimizar essa dor que esses jovens sentem;, destaca a professora de inglês Adriana Ramos. A docente ressalta que debater o tema por meio de atividades lúdicas tem por objetivo acolher mais jovens possíveis. ;Muitas vezes, a maneira desses alunos tirarem esse sofrimento é dançando, fazendo algum esporte, cantando ou até mesmo tirando foto. Não adianta só criar o programa, é preciso que haja a participação de todos.;
Falta preparo para os professores
Nesse processo, capacitar os docentes é fundamental. ;Muitos alunos chegam à sala de aula com algum problema pessoal e até desmotivado nas disciplinas. Os professores percebem esse padrão de comportamento, mas não sabem como chegar nesse jovemo;, explica. Segundo ela, é papel da gestão escolar intermediar o diálogo entre docentes e alunos, promovendo ideias que previnam a desvalorização da vida. ;Nem todo mundo é capacitado para falar desse tema, por isso é preciso de uma orientação;, argumenta.
Alunos atuam como auxiliadores
Com a implementação do projeto Juntos pela Vida, os alunos do CED 310 se mobilizaram e assumiram protagonismo nessa luta. O chamado Dia do Abraço é uma das ações. Na ocasião, o grupo cria plaquinhas com a mensagem ;Abraço grátis; e saem pelos corredores da escola abraçando as pessoas. A estudante do 2;ano Ana Lima, 17 anos, é uma das integrantes do projeto. Para ela, essa é uma das formas de aliviar o peso que muitos estudantes sentem. ;Somente em saber que a gente pode fazer o dia de uma pessoa feliz já é gratificante;, destaca.
A jovem destaca ainda que a turma tem um outro objetivo primordial: incentivar os alunos do 1;ano do ensino médio a integrarem parte do projeto. ;Para dar continuidade a esse trabalho, é preciso treinar os que acabaram de chegar, porque a maioria está nos 2; e 3; ano e já vamos sair daqui;, comenta.
Há ainda aqueles que integram o grupo para buscar um tipo de apoio. Foi o caso do aluno do 2;ano João Victor Moreira, 17, que diante de uma fase difícil da vida viu a solução para os problemas. ;Eu estava tendo muitas dificuldades em casa e, como trazia isso para a escola, acabava prejudicando meus estudos e me desmotivando. Quando comecei a fazer parte do grupo, vi que minha vida começou a fazer sentido;, diz. O jovem conta ainda que se sente gratificado em poder ajudar outras pessoas e pretende continuar no trabalho até quando sair da escola.
As piadas e deboches de outros colegas não fizeram o estudante do 1; ano Júlio César Alves, 16, desistir de fazer parte do projeto. Júlio, que é um dos integrantes do grupo, conta que por muitas vezes foi debochado por andar distribuindo ;abraço grátis;. ;Me falaram que isso é coisa de menina e perguntaram por que eu estava aqui, mas eu disse que estava para ajudar o próximo, independente do gênero. O que vale é a pessoa.;
Confira a série sobre Saúde mental em sala de aula.
*Estagiária sob supervisão de Ana Sá