O que um adolescente de 16 anos e as Organizações das Nações Unidas (ONU) têm em comum? A defesa de causas humanitárias. Gabriel Genivaldo dos Santos, morador de Vila Torres, em Curitiba (PR), representou o Brasil no Fórum da Organização das Nações Unidas (ONU), realizado no mês passado, em Genebra, na Suíça. O jovem da periferia fez um discurso no Comitê de Direitos Humanos da Criança na ONU sobre ;Liberdade de expressão e violência nas escolas;, tema definido pela Organização. Além de Gabriel, outros dois jovens, um brasileiro e uma chilena, também foram ao evento, Pedro Cezariano Gouvêa, 11, e Camila Álvarez Cortés, 17.
Para ser convidados pela ONU, o estudante brasileiro precisou se descobrir como líder. ;O que me incentivou nessa jornada de liderança foi entender quem eu fui, quem eu sou e o quem quero ser. Também me fez entender o lugar onde vivo na cidade. Percebendo isso, me senti forte e com vontade de falar sobre o que sonho para a minha comunidade. O melhor jeito de empoderar nossa voz é se sentir livre para isso e, principalmente, ser escutado e apoiado.;
Mesmo sendo reconhecido como líder em sua comunidade, Gabriel lamenta o descaso do governo com o lugar onde mora. ;Onde eu vivo tem os seus problemas, mas tenho orgulho de dizer que sou de Vila Torres. É muito triste saber que minha comunidade é excluída das políticas públicas da cidade;, lamenta. Mesmo com a realidade difícil e revoltante, o jovem da Vila Torres assume o compromisso de lutar por sua comunidade. E como líder, Gabriel dos Santos dedica palavras inspiradoras aos jovens: ;Sejam otimistas e procurem sempre dar o seu melhor para alcançar seus sonhos. Tudo o que você faz pensando em um bem maior e para todos, independentemente de quem seja, retornará para você;.
A percepção da violência pelos alunos brasileiros
Gabriel também destacou, no discurso na ONU, a violência escolar. ;O resultado é que a truculência verbal e física atingiu 42% dos alunos da Rede pública de ensino, segundo a pesquisa feita pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais. Um em cada 10 estudantes no Brasil é vítima de bullying. O resultado não é diferente: a escola segue uma metodologia do século retrasado, com professores do século passado, mas com alunos deste novo século. Os conflitos são previsíveis nesse cenário, e se intensifica quando o território que ele faz parte está localizado nas periferias, que são excluídas das políticas públicas da cidade;, disse ele na ocasião.De acordo com o "Diagnóstico Participativo das Violências nas Escolas: falam os Jovens", 69,7% dos jovens relataram a ocorrência de algum tipo de violência no âmbito escolar e 82,2% disseram que ocorre algum tipo de violência nos arredores das instituições. O levantamento foi realizado em 2016 pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), pelo Ministério da Educação e pela Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI).