Thays Martins, Samara Schwingel*
postado em 08/02/2019 19:50
A falta de estrutura e de verbas em algumas escolas públicas levaram professores e comunidade acadêmica a se unirem para tentar recepcionar os alunos na volta às aulas nesta segunda-feira (11). A Escola Classe 303 de Samambaia, por exemplo, não tem nem previsão de ter reformas e enfrenta problemas, como chão desnivelado e goteiras. A alternativa foi apelar para a vaquinha.
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Segundo a Secretaria de Educação (SEEDF), ao menos 200 instituições precisam de reforma urgentemente. Dessas, 11 obras foram concluídas; 72 terminadas 50%; e 104 foram iniciadas. Apesar disso, o governo ressalta que muitas outras escolas também estão precisando de reparos. ;Não temos como fazer todas as obras necessárias;, afirmou o secretário de Educação, Rafael Parente, em coletiva de imprensa nesta sexta-feira (8).
No caso da Escola Classe 303 de Samambaia, a diretora Bárbara Gomes diz que ainda não recebeu recursos para iniciar as atividades. ;Estamos desde o meio do ano passado sem receber o valor necessário do governo. Para tentar acolher os alunos, o corpo acadêmico paga do próprio bolso os reparos na instituição;, afirma. A escola iniciou com uma estrutura provisória, porém já funciona por quase 30 anos. ;A fiação está exposta, quando chove as salas ficam alagadas. Além disso, há muitos incidentes de crianças e servidores por causa dos desníveis no chão;, continua.
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A instituição, em princípio, é considerada inclusiva, ou seja, apta para receber alunos com deficiência. Porém, não há esse suporte. ;Apenas no ano passado, o banheiro masculino recebeu estrutura própria para cadeirantes. E foi um reparo feito por meio de uma parceria de professores e diretoria. Entretanto, as aulas vão começar e os banheiros estão com as descargas quebradas;, frisa Bárbara.
A falta de verbas, de acordo com Rafael Parente, é devido a atrasos nos repasses de documentação pelas escolas ainda na gestão passada, para receber os valores do Programa de Descentralização Administrativa e Financeira (PDAF). ;Mesmo sendo uma dívida que não é nossa, nós honramos. Todas as escolas que tiveram empenho conseguimos repassar os valores. As que não, nós queríamos pagar as duas parcelas de uma vez só, mas juridicamente isso não é possível;, afirma. Porém, segundo ele, o fato de o edital do PDAF ter sido publicado agilizará que a primeira parcela de 2019 seja paga.
Professores precisam colocar a mão na massa para escola funcionar
São cerca de 26 mil docentes que se preparam para a volta às aulas desde 4 de fevereiro. Cristiano Ferreira, professor há 10 anos, afirma que os docentes da Escola Classe 303 de Samambaia tentam recepcionar as crianças da melhor forma. ;Por mais que a gente pinte, decore e receba bem, os alunos acabam relacionando tudo aquilo que é público com abandono. Eles não criam uma relação de respeito e afetividade com o patrimônio público;, mostra. ;Todo o material somos nós professores que compramos, pois, por falta de verba, a diretoria não pode arcar com as despesas. Então, ou nós compramos ou os estudantes ficam sem o material;, destaca. Tanto Bárbara quanto Cristiano esperam que o governador Ibaneis Rocha cumpra com o que foi dito na campanha política.
Segundo Rosilene Corrêa, dirigente do Sindicato dos Professores do DF (SinproDF), a categoria espera que os problemas sejam solucionados. ;Não tem clima de melhora do ponto de vista de estrutura das escolas e nem para os professores;, declara. ;Receberemos os alunos pelo compromisso que temos com eles, mas esperamos que o governo coloque em prática o que prometeu;, ressalta.
Crianças correm o risco de ficar sem aulas
Outro problema na volta às aulas foi o aumento registrado de novas matrículas na rede pública. A Secretaria de Educação recebeu 456 mil matrículas, sendo que oito mil delas foram de crianças e adolescentes que não estudavam na rede pública. ;Esse não é um problema resolvido. Temos uma carência de vagas que estamos tentando suprir construindo salas de aula;, explica Rafael Parente. Por isso, o secretário deixa claro que muitas salas de aula estarão lotadas. O problema mais grave é referente a 188 crianças matriculadas na pré-escola no Paranoá que não tem local físico para aulas. ;Estamos buscando espaço para locação. Acreditamos que até segunda-feira teremos resolvido;, garante.
Gestão compartilhada entre Educação e Segurança também começa nesta segunda-feira (11)
As quatro escolas escolhidas para iniciar o projeto de gestão compartilhada já iniciarão as aulas com a presença dos policiais militares. Os colégios Centro Educacional (CED) 7 de Ceilândia, CED 1 da Estrutural, CED 308 do Recanto das Emas e CED 3 de Sobradinho votaram e aprovaram que cerca de 20 policiais assumam questões burocráticas das instituições.
A expectativa da aluna Ana Carolina de Almeida, 17 anos, que irá cursar o 3; ano do ensino médio no Centro Educacional 7 de Ceilândia, uma das escolas participantes do projeto, é de que os problemas enfrentados sejam solucionados. ;É uma oportunidade boa.; Filha de fotógrafos, Carol espera ter uma estrutura melhor este ano. ;Ano passado, eu estudava no Centro de Ensino Médio Setor Oeste, na Asa Sul; as quadras eram descobertas e os banheiros estavam em más condições. Este ano espero que seja melhor;, afirma.
Porém, as regras definidas devem ficar flexibilizadas nesse início. ;Eles receberão um uniforme, mas a farda ficará mais para frente;, disse o secretário. Mesmo com toda a polêmica envolvendo a militarização das escolas, o governo acredita que o projeto será um sucesso e pretende expandir para mais escolas até o fim do ano. ;Não sei se as 40 que foram prometidas, mas dependendo de como for nessas quatro primeiras, iremos expandir. Chamamos os diretores para conversas. É falsa a afirmativa de que não houve diálogo. Depois do anúncio, começamos a ter as críticas que eram bastante agressivas;, afirma Rafael Parente. Mas de acordo com ele, as pessoas contrárias eram minoria.
Operação volta às aulas
De acordo com a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), o Comando de Policiamento Escolar iniciará a Operação Volta às Aulas para receber os estudantes na segunda-feira (11). Com o objetivo de proporcionar maior segurança no trânsito, no perímetro escolar e no trajeto casa/escola, bem como ministrar palestras educativas em salas de aula, visando à prevenção da violência no ambiente escolar.
A operação contará com apoio de outras unidades da PMDF, como o Batalhão de Aviação Operacional (BAVOP), que fará patrulhamento aéreo nos pontos em que há fluxo mais intenso de veículos e pedestres e do 1; Batalhão de Policiamento de Trânsito, cujos integrantes atuarão juntamente com o efetivo do "Batalhão Escolar; na prevenção das infrações de trânsito e na educação de condutores e pedestres.
O Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran), iniciou na terça-feira (5), a Operação Segurança na Faixa, que visa fortalecer o respeito ao pedestre durante a travessia das vias. A princípio, as equipes de fiscalização atuarão em pontos de maior fluxo de pessoas, sobretudo, nas proximidades das escolas públicas e particulares, nos horários de entrada e saída de estudantes.
*Estagiárias sob supervisão de Ana Sá