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Olimpíada, língua e liberdade

Dad Squarisi
postado em 21/02/2019 12:36
A Olimpíada da Língua Portuguesa 2019, lançada ontem, põe o dedo numa das feridas mais dolorosas da educação brasileira: o fracasso no ensino da língua. O resultado da Avaliação Nacional de Alfabetização mostra que nos mantemos no chão. As crianças concluem o 3; ano, série da qual deveriam sair alfabetizadas, sem domínio da leitura e da escrita. Só 10% atingem a meta.

Deficiências não sanadas nos primeiros anos cobram juros ao longo da vida. O excluído do direito de aprender será o excluído das boas universidades, dos bons empregos, do acesso ao andar de cima. Será alvo fácil do crime organizado e de discursos vazios veiculados nas campanhas eleitorais.

O Estado fracassou. Precisa da ajuda da sociedade. A Olimpíada dá uma ajuda. Treina professores para que possam treinar estudantes da escola pública a participar do evento e, com isso, motivar os alunos a escrever. Escrever não para agradar ao professor, mas para disputar o prêmio com colegas locais, regionais, estaduais e nacionais.
[SAIBAMAIS]

O objetivo não é descobrir Machados, Clarices ou Gracianos. Mas estimular a moçada a escrever, desenvolver a habilidade de pôr as ideias no papel. E, claro, buscar a forma mais adequada de chegar lá. Aí, tem de ler, pesquisar, reescrever.

O conceito de língua traz implícita a escolha. ;Língua;, dizem os linguistas, ;é um sistema de possibilidades.; Generosa, ela põe à disposição do usuário leque milionário de opções. Mas só se beneficia da riqueza quem as conhece e lhes domina os mistérios.

É como se, ao longo da aprendizagem, a pessoa subisse degraus de uma escada muito alta. Quanto mais próxima do topo, mais ampla a visão, maior a oferta e, claro, mais vastas as possibilidades. Lá em cima, poderá escolher até não escolher. É o exercício da liberdade.

Cabe à escola conduzir meninos e meninas na aventura da escalada. Eles só chegarão ao cume quando dominar a norma culta. Poderão, então, livrar-se da polarização certo/errado e navegar no adequado/inadequado. Poliglotas na nossa língua, ;não falamos português;, como frisava José Saramago, ;falamos línguas em português;.

Quantas? Depende dos degraus que avançamos. Os exames de avaliação aplicados pelo MEC desestimulam otimismos. Iniciativas como a Olimpíada da Língua Portuguesa contribuem para mudar o paradigma. Trata-se de uma gota d;água no oceano. Mas é bem-vinda.

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