Paula Beatriz*
postado em 01/03/2019 19:45
A obra A vida com livros, sob coordenação de Carmen Ganzelevitch Gramacho e com colaboração de Valéria de Velasco, será lançada no Dia Internacional da Mulher, na próxima sexta-feira (8), quando também será inaugurada exposição sobre o livro. Trata-se de um trabalho multimídia que, com texto, fotos, mapas e ilustrações, conta histórias de pessoas de todas as idades que se transformaram graças à leitura. Nas páginas, é possível conhecer a sensação de crianças, adolescentes, jovens e adultos que, muitas vezes, nunca tinham tido acesso a livros e, depois de ganharem essa oportunidade por meio do projeto Bibliotecas do Saber, conheceram um mundo antes inimaginável: o da literatura.
O projeto Bibliotecas do Saber foi idealizado e executado entre 2007 e 2017 por Carmen, que inaugurou 182 centros de leitura comunitários, ainda em atividade. Assim, as páginas da publicação se tornam um mapeamento da iniciativa que mudou tantas vidas e ajudou a disseminar o gosto pela leitura nos mais diversos cantos do DF e do Entorno, tanto na área urbana, quanto na rural, e inclusive em escolas públicas e em presídios. Na apresentação da obra, o jornalista Marcelo Abreu conta que, durante um almoço com Carmen, ela refletiu sobre o projeto. Com os olhos cheios de lágrimas e a voz embargada, disse: ;Se em cada uma dessas bibliotecas, uma pessoa se encantou pela leitura, já terá valido a pena tudo que fizemos;.
Parceria
Carmen, empresária da área de turismo e idealizadora do projeto, teve a ideia de traduzir a intenção e os resultados do trabalho por meio de um livro e resolveu chamar a amiga Valéria de Velasco, jornalista, para ajudá-la a escrever. A colaboração começou em 2015, as páginas ficaram prontas no início de 2018, pouco antes da morte de Valéria, em abril do ano passado. Na época, ela trabalhava no Correio Braziliense. A coletânea chega ao mercado só agora por questões de financiamento. O projeto foi realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do DF, destinados ao Mapa Afetivo da Leitura no Distrito Federal. A versão on-line está disponível no site do mapeamento desde 22 de fevereiro.
;É difícil dizer em duas ou três palavras o que conseguir publicar esse livro significa para mim. Eu tinha o hábito de fazer o registro de todas as realizações do projeto. Desde a inauguração de uma biblioteca até a reação de uma criança ao receber um livro;, comenta. A parte 1 do livro, escrita por Valéria, é composta por 12 capítulos, nos quais a jornalista conta histórias que colheu em 12 unidades das Bibliotecas do Saber, cinco em áreas rurais, cinco em áreas urbanas, uma num presídio de mulheres e outra num centro de internação de adolescentes em conflito com a lei.
A partir de depoimentos de estudantes, professores, pais e outros leitores, é possível verificar como essas bibliotecas ajudam a mudar visões de mundo. A parte 2 do livro, dos capítulos 13 a 17, é uma seleção de textos do diário de Carmen, registrando cada etapa de implementação e realização do projeto, até a inauguração da última biblioteca, em 2016. Para Carmen, poder publicar o trabalho, mesmo após a morte da amiga, é também uma forma de homenageá-la. ;É uma coisa muito delicada, eu queria muito que ela estivesse comigo e fiz uma homenagem para ela no livro. Tudo que foi confiado à Valéria, ela cuidou como um presente que recebesse de Deus. É um pedaço que vai me fazer falta no dia do lançamento;, conta.
;O livro é de responsabilidade minha, a Valéria fez uma contribuição, ficou responsável por transcrever as entrevistas, como jornalista. Por isso, eu assino, eu que contei as histórias e falei sobre o projeto;. Para Carmen, apesar de ela assinar o livro, na verdade, é colaborativo. ;É um livro da comunidade, de todos que contribuíram, é um pedacinho de cada um, inclusive de quem doou algo para o projeto;, explica.
Homenagem póstuma
A jornalista Usha Velasco, a filha mais velha de Valéria de Velasco, é apaixonada por iniciativas culturais e conta a emoção de poder ver mais um trabalho da mãe sendo publicado, mesmo após a morte dela. ;Esse projeto é maravilhoso, conseguiu fazer 182 bibliotecas só com a ajuda da população e de dois empresários;, elogia. ;Minha mãe era muito fã dessa proposta, foi subsecretaria do Pró-Vítima (de apoio a vítimas de violência), que tinha vários núcleos em várias cidades do DF e em alguns núcleos montou bibliotecas que ajudavam pessoas que foram atingidas pelo crime;, relata. ;Por isso, fico muito emocionada. É um livro que faz muito sentido já que ela dedicou metade da vida para trabalhos sociais voluntários;, diz.
Saiba mais sobre o Bibliotecas do Saber
A iniciativa foi idealizada por Carmen, a bibliotecária Iza Antunes e o empresário Antonio Matias. ;Tudo surgiu a partir da dificuldade que enxergamos nas pessoas de escrever uma carta de emprego. Resolvemos ajudar escolas, crianças e jovens com a leitura e, a partir daí, criamos o projeto;, explica Carmen. No começo, a intenção era a de montar 20 bibliotecas em regiões carentes do DF. Mas a proposta fez tanto sucesso que chegou a 182 unidades. Em alguns locais, essas salas já existiam e foram revitalizadas; em outros, o projeto fez tudo do zero. O acervo foi montado com livros doados pela população e recolhidos em postos da rede de combustíveis que Matias na época administrava, que prestou apoio logístico.
Com poucos recursos, mas muita vontade de fazer a diferença e colaboração, os idealizadores conseguiram beneficiar cerca de 600 mil pessoas. No primeiro mês de trabalho, o projeto arrecadou 400 mil livros. Ao longo dos nove anos de atividade, foram 16,4 milhões de volumes recebidos, dos quais 70% foram aproveitados e distribuídos pelas 182 unidades e por 40 Estantes do Saber, para alunos com altas habilidades da rede pública de ensino no DF, das Barcas do Saber, instaladas em navios de assistência hospitalar da Marinha na Amazônia e no Pantanal.
Roteiro
Lançamento da obra A vida com os livros e inauguração de exposição de fotos
Quando: 8 de março, sexta-feira, às 10h
Onde: Biblioteca Escolar-Comunitária Espaço Rui Barbosa, Q. 4, A.E. 4, Sobradinho/DF
Exposição de fotos: fotografias de Clara Molina sobre o projeto ficarão expostas no local de 9 de março a 4 de abril, de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h
*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa