Paula Beatriz*
postado em 08/03/2019 16:16
Segundo o Censo Escolar 2018, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em 31 de janeiro de 2019, as mulheres são a maioria nos cursos profissionais ; elas só não são predominantes na faixa etária acima dos 60 anos. Para o Censo Escolar, educação profissional engloba cursos de formação inicial e continuada ou de qualificação profissional articulados à educação de jovens e adultos (EJA) ou ao ensino médio; cursos técnicos de nível médio nas formas articuladas (integrada ou concomitante) ou subsequente ao ensino médio.
Há 19 anos lecionando, a professora de português Alessandra Rodrigues Seixas acredita que as mulheres têm dominado na educação fato de precisarem demonstrar o próprio valor e capacidade. ;As mulheres, em sua grande maioria, inclusive historicamente, têm de provar que são boas ou melhores do que os homens no que fazem;, diz. ;Elas querem se inserir mais rapidamente no mercado de trabalho. Nas instituições e nos cursos superiores, acredito que mulheres, de modo geral, valorizam bastante a educação e o conhecimento! Por isso, buscam o aprimoramento educacional;, afirma.
;Acredito que mulheres são muito esforçadas.; Ela ainda percebe que há desigualdades ; afinal, apesar de estudarem mais, as mulheres têm salário menor e ocupam menos cargos de chefia que os homens. No entanto, Alessandra comemora que as diferenças entre os gêneros têm, aos poucos, diminuído. ;Dia após dia, vejo a diferença entre os gêneros diminuindo. E consigo ver homens respeitando mais as mulheres.;
Nas faculdades
Os dados mais recentes do Censo da Educação Superior, de 2017, também mostram maior presença das mulheres no ensino superior. Elas são 55% dos estudantes ingressantes, 57% dos matriculados e 61% dos concluintes dos cursos de graduação. Na licenciatura, por exemplo, 70,6% das matrículas são do sexo feminino.
Na opinião da professora de química Dani Trovão, que dá aulas para turmas de ensino médio, a predominância das mulheres nas licenciaturas se deve ao instinto materno. ;Eu acho que é porque a educação está muito ligada a um meio maternal, a gente tem um olhar de cuidado com o aluno;, aponta. ;Acredito que estamos mudando isso, mas ainda existe essa predominância das mulheres na educação, principalmente na educação infantil, por termos o lado maternal aflorado, mesmo que subconscientemente;, sugere.
;Eu acho que a gente aprende também, desde cedo, logo que nos tornamos mulheres, a sermos guerreira, temos que ir para escola com cólica, cuidar dos irmãos... Aprendemos a ter mais coragem e disponibilidade para as responsabilidades. Aprendemos desde cedo a encarar a vida com mais força;, comenta a professora.
Na educação básica
A proporção de alunas do sexo feminino com defasagem de idade em relação à etapa que cursam é menor do que a do sexo masculino nos ensinos fundamental e médio. A taxa de distorção idade-série é o percentual de alunos, em cada série, com idade superior à idade recomendada ; por motivos como reprovação e evasão. A maior diferença entre os sexos é no 6; ano do ensino fundamental, em que a taxa de distorção idade-série é de 31,6% para o sexo masculino e 19,2% para o sexo feminino. No ensino médio, a maior diferença está no 1; ano, em que 38,3% dos estudantes com defasagem são homens; e 28,1%, mulheres.
Dia Internacional da Mulher
O Dia Internacional da Mulher surgiu a partir da luta das mulheres por melhores condições de vida, trabalho e direito de voto entre o fim do século 19 e o início do século 20. Desse modo, é uma data para lembrar as desigualdades sofridas pelas mulheres, mas principalmente o esforço delas por mudar isso, a partir de conquistas sociais, políticas e econômicas.
A pedagoga Leonella Pereira Santos enxerga muitas injustiças históricas. ;As mulheres foram forçadas a cuidar da casa e dos filhos, tiveram que trabalhar para sustentar a família, especialmente após a Segunda Guerra Mundial. De lá pra cá, o cenário mudou demasiadas vezes, porém as responsabilidades da mulher só aumentaram com o tempo;, percebe. ;O modelo familiar no Brasil mudou muito, de núcleos patriarcais para matriarcais, com as mulheres passando a ser as provedoras principais dos lares brasileiros;, comenta. ;A responsabilidade feminina aumentou, e a irresponsabilidade masculina para com os filhos e a família também aumentou;, critica.
Todos os problemas, porém, podem ser usados para algo positivo, defende ela. ;A desigualdade de gênero também é um motivador para que mulheres se esforcem mais na área educacional. Afinal, já somos discriminadas e ganhamos menos que os homens nas mesmas funções e cargos;, aponta. ;O aumento da carga de responsabilidade feminina trouxe uma maior consciência da importância da escolarização;, destaca. ;Nesse contexto de desresponsabilização dos homens, eles perderam o interesse ou a necessidade de focar os estudos;, opina.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa