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Após atrito com Vélez, presidente do Inep é exonerado do cargo

Marcus Vinicius teria sido o responsável por assinar a portaria que indicava que o MEC não mais avaliaria a alfabetização das crianças

Ingrid Soares, Renato Souza
postado em 26/03/2019 21:21
Em mais um dia atribulado no Ministério da Educação (MEC), o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Marcus Vinicius Rodrigues, foi exonerado do cargo na noite de ontem. Conforme havia adiantado o Correio, ele entrou em atrito com o ministro Ricardo Vélez. Ontem pela manhã, Marcus dispensou o motorista de buscá-lo em casa, e não compareceu à sede do Inep ao longo do dia. A demissão foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União, assinada pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. O nome do general Francisco Mamede de Brito Filho, da reserva ativa do Exército, atual chefe de gabinete no órgão, é cotado para assumir o cargo.
Marcus Vinicius teria sido o responsável por assinar a portaria que indicava que o MEC não mais avaliaria a alfabetização das crianças

A demissão do presidente do Inep está ligada à mais recente confusão vivida no MEC: a suspensão, que durou apenas um dia, da avaliação do processo de alfabetização de alunos do 2; ano do ensino fundamental, medida fortemente criticada por profissionais da área de educação. A decisão estava prevista em portaria assina por Marcus Vinícius publicada no Diário Oficial da União de segunda-feira, e foi revogada ontem.
[SAIBAMAIS]
O episódio resultou também no pedido de demissão, na própria segunda-feira, da secretária de Educação Básica, Tânia Leme de Almeida. Ela deixou o cargo por não ter sido informada sobre a suspensão da avaliação da alfabetização, mesmo sendo a responsável pela área. E, ao que tudo indica, a dança de cadeiras no MEC está longe de acabar. Nos bastidores, outro nome vem sendo apontado para aumentar a lista de demitidos: o de Marcelo Mendonça, assessor parlamentar da pasta.

Críticas
A decisão de suspensão das provas para as crianças do 2; ano foi duramente criticada por profissionais que trabalham na área da educação básica, que apontaram o longo período em que a análise do processo de alfabetização deixaria de ser avaliado. Os alunos do 2; ano do ensino fundamental ficariam de fora das provas do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) até 2021. Seriam mantidas as avaliações para os estudantes do fim dos ciclos do ensino fundamental, ou seja, 5; ano e 9; ano, e do ensino médio, no 3; ano.

O vaivém das decisões do MEC, que já vem sendo chamadas, jocosamente, de medidas ;ioiô;, assim como a troca constante de dirigentes da pasta, ocorrem em meio a um embate ideológico com o filósofo Olavo de Carvalho, considerado o guru de Bolsonaro e responsável pela indicação do próprio ministro Ricardo Vélez. O cargo de secretário executivo, segundo posto mais importante do ministério, já foi ocupado por três pessoas, e, no momento, está vago. Outros seis funcionários do alto escalão foram exonerados. Apesar de o presidente Bolsonaro afirmar que Vélez continua à frente da pasta, fontes internas dizem que há uma pressão pela troca do ministro.

O vice-reitor da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Américo Alves de Lyra Júnior, afirmou que o troca-troca de cadeiras sem fim cria um sentimento de insegurança entre os gestores da área. ;Não se sabe ao certo o que o MEC está planejando, porque o ministério não delimitou algo mais concreto em termos de política educacional e universitária. Falta direção. Em algum momento, o governo precisará voltar à realidade, seja com corte de pessoas, seja com mudança de políticas, mas com mais estabilidade e decisões acertadas;, disse. ;Paira no ar o sentimento de insegurança. São postos técnicos que independem de perfis filosóficos e precisam ser ocupados por pessoas com experiência na área da educação. Os fatos mostram que o ministro desconhece os trâmites da pasta e não oferece definição mais precisa de como ela vai funcionar, com quem vai funcionar;, concluiu Lyra Júnior.

Ministro nomeia ex-aluno

Ex-aluno do ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, Alexandro Ferreira de Souza assumiu ontem a Secretaria de Educação Básica. Secretário de Educação Profissional e Tecnológica na pasta, ele vai acumular as duas funções. Tânia Almeida, que ocupava o posto, deixou o ministério após a publicação de uma portaria que decidia não avaliar crianças em fase de alfabetização. Souza possui formação em Filosofia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e, na graduação, teve a orientação de Vélez para o trabalho ;A Tragédia Ática: Entre o Mito e a Filosofia;. Ele tem mestrado e doutorado em Ciência da Religião pela mesma instituição. Antes de ir para o MEC, Souza atuava como professor da Secretaria de Educação do Espírito Santo.

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