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Bolsonaro deve decidir hoje se Vélez Rodriguez continua ou sai do MEC

O presidente afirmou, no domingo, que esta segunda-feira será o dia do 'casamento ou divórcio' com o ministro da Educação

Bruno Santa Rita - Especial para o Correio, Ingrid Soares, Maria Eduarda Cardim
postado em 08/04/2019 08:03
ministro Vélez RodriguezNesta semana em que completa 100 dias no cargo, o presidente Jair Bolsonaro decidirá o futuro de mais um ministro, o da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez: ;Amanhã (hoje), a gente resolve;, disse o presidente, referindo-se a esta segunda-feira como o dia do ;casamento ou do divórcio; com Vélez. A declaração foi feita durante um almoço no Lago Sul, com colegas da turma do Exército de 1977. Depois, o presidente aproveitou para falar sobre os 100 dias: ;Cada ministro vai falar da sua pasta e da sua área. Eu acho que não é tanta notícia ruim quanto vocês têm publicado.; Vélez deve ser substituído por um político para ajudar na aprovação da reforma da Previdência.

O desgaste precoce de ministros terminou por colocar em segundo plano ações positivas como a redução do número de ministérios, corte de gastos e funções de confiança. O próprio presidente, embora diga que há notícias positivas no governo, reconhece que, no caso do Ministério da Educação (MEC), há falta de gestão.

Em pouco mais de três meses, a pasta enfrentou várias crises. O número de exonerações chega a 18. Um levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU) aponta que o ensino básico do país continua sem critérios mínimos para avaliação de qualidade e que ainda não foram implementados pelo MEC o Sistema Nacional de Avaliação Básica (Sinaeb) e o Custo Aluno-Qualidade Inicial (CAQi), determinações do Plano Nacional da Educação (PNE) 2014-2024. O MEC tem 90 dias para apresentar um plano de ação para sanear os problemas.

O apoio a Vélez minguou após a coleção de crises. Em uma entrevista, afirmou que a universidade não é para todos. A uma revista, disse que o ;brasileiro viajando é um canibal;. Posteriormente, pediu desculpas. Isso sem contar a polêmica ordem de mandar filmar estudantes cantando o Hino Nacional.

Diante da crise que atravessa, Vélez teve o mesmo comportamento do primeiro ministro a deixar o governo, Gustavo Bebianno, que ficou apenas 48 dias no cargo: quando ouviu que estava demissionário, disse que não sairia. Terminou demitido depois de ser atacado pelo vereador Carlos Bolsonaro. O filho 02 do presidente o acusou de mentir, ao dizer que havia conversado com o pai, e divulgou áudios das mensagens trocadas entre os dois.

Em situações como essa, reza a cartilha não escrita da política, a frase padrão deve ser ;o cargo pertence ao presidente da República;. Até aqui, o único ministro sob tensão a cumprir esse protocolo foi o titular do Turismo, Marcelo Álvaro. Ele está sob investigação por suspeitas de caixa dois na campanha do PSL de Minas Gerais, onde se elegeu deputado federal. Bolsonaro tem dito que é preciso esperar o fim das investigações, antes de colocar o ministro no cadafalso, como ocorreu com Bebianno.

Falta de planejamento

O cientista político André Martin, da Universidade São Paulo (USP), considera que a escolha de ministros mostra que Bolsonaro não tinha planejamento claro para o governo. ;Ele não sabia quem escolher. Foram escolhas à queima-roupa, que têm dado um resultado muito ruim;, analisa. ;São contradições internas que paralisam o governo. É uma queda de braço constante, que faz com que a decisão fique sempre com o próprio presidente, o que se torna perigoso;, diz.

O professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer também avalia negativamente as demissões. ;Isso demonstra que as escolhas foram erradas. Temos muitos projetos parados por conta disso, sobretudo no MEC;, explica. Para Fleischer, o principal motivo para as demissões é o embate entre militares e os seguidores de Olavo de Carvalho, o guru de Bolsonaro. ;Os militares estão acompanhando os ;olavetes; e cerceando a atuação deles;, analisa. ;Vélez cai;, aposta.

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