Alan Rios
postado em 17/04/2019 06:00
Se todo brasiliense guardasse seus cadernos do ensino fundamental, com certeza, muitos achariam o mesmo conteúdo de história, ministrado em abril: o aniversário de Brasília. Mas copiar do quadro quem foi Juscelino Kubitschek, qual a data de fundação da capital e que desenho formam as linhas do Plano Piloto ficou para trás. Com a cidade fazendo 59 anos no próximo domingo, os professores perceberam que é hora de olhar para o passado, mas de uma forma mais presente. Inspirados em metodologias ativas, educadores ensinam a história do nosso território e observam as mais diversas reflexões.
;Nós visitamos pontos turísticos daqui na mesma semana em que houve um assassinato na Estrutural, perto das ruas dos alunos, então muitos deles falavam que era uma cidade muito diferente da deles;, contou Maria do Espírito Santo, 46, professora do 3; ano do ensino fundamental. A professora do 3; ano do ensino fundamental dá aulas há 26 anos no mesmo lugar, a Escola Classe 2 da Estrutural, e anualmente faz um city tour com alunos para estudar Brasília. ;A cada evento trabalhado em sala de aula, nós vamos ao local para ilustrar o conteúdo para as crianças. Vamos mostrando as construções, explicando o que elas representam, porque estão ali... Começamos no Memorial JK e vamos descendo até chegarmos no Palácio do Planalto. Isso ensina muito, porque saber pela história é uma coisa, agora ver com os próprios olhos é outra;, explicou a diretora, Maria Leodenice, 65.
Apesar de ser tradição da instituição, cada passeio é diferente. Neste ano, alunos de 6, 7 e 8 anos fizeram parte da iniciativa e se surpreenderam. ;Olha o mar!”, gritou um deles de dentro do ônibus enquanto passava pelo Lago Paranoá. Muitos estudantes estavam conhecendo pela primeira vez a Brasília que aparece mais na televisão, observando com atenção desde a seriedade do Congresso Nacional até a diversão do foguete de brinquedo do Parque Ana Lídia. ;Tia, a história dela é muito triste. Fiquei impressionada com isso;, disse Maria Isabele Rodrigues, de 8 anos.
Para a estudante, o monumento mais bonito visto no passeio foi o ;H; do Congresso Nacional. A empolgação não vinha só dos pequenos, pois até mesmo alguns servidores da escola que acompanharam o tour nunca tinham entrado em alguns monumentos. ;Apesar da proximidade com o Plano Piloto, muitos moradores daqui não têm contato com a cidade lá, porque falta recurso e tempo para sair da própria comunidade;, explicou a professora Tatiana Fernandes, 45. Brincando de ser adulto, alguns alunos se arriscaram não só a identificar essas problemáticas, mas também dizer o que mudariam em Brasília caso fossem presidentes. ;Ia colocar mais polícia para proteger; foi um dos pedidos mais citados.
A voz deles
Também distante do Plano Piloto está a cidade de Planaltina. Mas os alunos e professores do Centro de Ensino Fundamental 3, em Buritis II, fazem o que podem para diminuir essas barreiras. A ideia deste mês de comemorações foi educomunicativa: a instituição aproveitou equipamentos de som e um laboratório de informática para improvisar uma rádio com programação nos intervalos de aula.
;Os alunos são os protagonistas. Então, destinamos estudantes de ensino integral para montarem três programas de 15 minutos. Eles usaram os computadores e pesquisaram sobre curiosidades da cidade e da cultura daqui, intercalaram locução de conteúdo com sons brasilienses, como da banda Hungria, Natiruts e Legião Urbana, por exemplo;, contou a professora à frente do projeto, Doris Rodrigues, 45.
A proposta fez a instituição conquistar até prêmio. Em 2017, os alunos criaram a web rádio Conexão CEF 3 Planaltina, que foi considerada uma das melhores ações educacionais da premiação Escola de Atitude, promovida pela Controladoria-Geral do Distrito Federal. Com o aniversário de Brasília se aproximando, não faltou conteúdo para colocar a rádio no ar de novo. Alunos do 7; e 8; ano comandaram as atividades. Hugo Gustavo de Souza, 12, disse que assim é bem melhor de aprender: ;Os programas contam a história de Brasília; então, foi muito legal estudar assim. É diferente, quebra a rotina da sala de aula;, celebrou. A coordenadora pedagógica também ressalta essa importância: ;Esse tipo de atividade melhora a autoestima deles, porque empodera o aluno para buscar o conhecimento;, finaliza Adriana Cunha, 43.