Eu, Estudante
postado em 30/05/2019 14:39
O deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ) apresentou, em 21 de maio, o projeto de lei 3033/2019, que pretende trocar o patrono da educação no Brasil. O PL, se aprovado, vai colocar o jesuíta José de Anchieta no lugar do pedagogo Paulo Freire.
Em abril deste ano, o deputado Heitor Freire (PSL-CE) apresentou o projeto de lei 1930/2019 que visava retirar o pensador e pedagogo pernambucano Paulo Freire do cargo de patrono, porém não apresentava nenhum nome como substituto. Heitor afirma que a escolha de Freire como patrono da educação representa a eliminação do pensamento plural nas escolas e no meio acadêmico.
Carlos compara o Brasil com outros países para mostrar seu ponto de vista. "No Japão, os alunos estão desenvolvendo projetos tecnológicos. Enquanto aqui, eles estão preocupados se vão usar o banheiro feminino ou masculino e se rebelando contra o governo", completa.
Jesuítas recusam substituição
Em nota, assinada pelos padres à frente do Santuário Nacional de São José de Anchieta, Nilson Marostica e Bruno Franguelli, a entidade recusou a substituição de Paulo Freire pelo jesuíta. Eles afirmam que o legado de Anchieta não pode ser utilizado para fins meramente ideológicos.
Em relação a nota dos padres jesuítas que repudiam a indicação de Anchieta para o cargo, o deputado considera o ato uma heresia. "Padres que têm partido, para mim, são heréges. A nota deles é carregada de teor ideológico e comparar o comunista do Paulo Freire com o São José de Anchieta é uma heregia", explica.
Leia a nota do Santuário na íntegra:
Recebemos com preocupação a notícia de que existe um projeto de lei que propõe São José de Anchieta como patrono da educação brasileira, para substituir Paulo Freire neste patronato. O padre José de Anchieta, merece, de fato, todo louvor e reconhecimento pelo imenso bem que fez pelo nosso Brasil, principalmente, no que se refere ao tema da educação. Anchieta, fiel ao carisma jesuítico, sabia que não era possível construir uma nação sem uma atenção especial pela educação. O primeiro professor do Brasil tinha certeza que o futuro de uma Nação dependia da qualidade do ensino de crianças e jovens. O Brasil, mais do que nunca, precisa prestar bem atenção no que o seu primeiro professor ainda tem a lhe ensinar.
No entanto, na atual conjuntura governamental do nosso país, não podemos aceitar que o legado de São José de Anchieta seja instrumentalizado para fins meramente ideológicos. Reconhecemos a imensa importância do legado de Paulo Freire para o Brasil e para o mundo. Tanto São José de Anchieta como Paulo Freire caminho na mesma direção. Ambos optaram por estar a serviço da educação dos marginalizados. Anchieta, com linguagem e métodos próprios de seu tempo, também foi um ;pedagogo do oprimido; quando optou por estar ao lado dos indígenas, educá-los, defendê-los e protegê-los da ambição dos poderosos.
Anchieta não pode ser proclamado patrono da educação em um momento em que a educação não parece ser prioridade na agenda do País. O primeiro defensor do meio ambiente não pode ser admirado em um momento em que nossas riquezas naturais estão ameaçadas. O primeiro indigenista não pode ser reverenciado neste tempo em que vemos tribos étnicas desamparadas e sendo perseguidas e até expulsas de suas terras. O primeiro defensor dos direitos humanos não pode ser levado aos altares da Pátria quando os indefesos são marginalizados e seus direitos, negados. São José de Anchieta não pode ser usado com fins ideológicos. Pedimos respeito o seu valiosíssimo legado, que deve sim ser imitado, mas jamais manipulado.
Que nossa Senhora Aparecida e São José de Anchieta, Padroeiros do Brasil, intercedam pela nossa nação!
Homenagem
A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) utilizou o nome do filósofo e educador, Paulo Freire, para batizar o principal prédio da Faculdade de Educação. A homenagem foi uma iniciativa dos estudantes do mestrado profissional da instituição.
Paulo Freire foi professor por 10 anos no Departamento de Ciências Sociais na Educação. O pedagogo é patrono da educação brasileiro desde 2012. Nos últimos dias, deputados federais criaram projetos de lei que visam tirá-lo do cargo.