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43% das cidades e cinco estados gastam menos que o satisfatório por aluno

Conclusão é de anuário do Todos pela Educação, que considera valor mínimo estabelecido pela ONG como adequado. Estudo ressalta que país está longe de alcançar as metas do PNE

Ana Paula Lisboa
postado em 25/06/2019 17:04
A oitava edição do Anuário Brasileiro da Educação Básica 2019, publicado pelo Todos Pela Educação e pela Editora Moderna, revela muitos problemas no ensino brasileiro. Existem no país 1,5 milhão de crianças e jovens (de 4 a 17 anos) fora da escola. Além disso, 43% dos 5.570 municípios brasileiros e cinco estados (Minas Gerais, Paraíba, Maranhão, Pará e Amazonas) investem menos que o mínimo satisfatório em educação.
Quadro com números de crianças e jovens fora da escola
O patamar mínimo seria de R$ 4.300 anualmente para cada aluno do ensino fundamental de zona urbana, estudando em período parcial. O valor foi calculado pelo Todos pela Educação e seria o adequado para garantir bons resultados em aprendizagem ; no entanto, não há nenhuma determinação do governo sobre isso, portanto, investir menos do que esse montante não é ilegal. A publicação é feita desde 2014, baseando-se nas temáticas das metas do Plano Nacional de Educação (PNE).
Tabela com a taxa do ensino médio

Comparação com a OCDE


O investimento em educação por aluno no Brasil também está bem abaixo do praticado na média dos países membros da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne os mais ricos e desenvolvidos do mundo.

Em 2015, o investimento dos membros da OCDE foi de US$ 10.520 por aluno, dos anos finais do ensino fundamental ao superior; e o do Brasil, de US$ 4.451. Nos anos iniciais do ensino fundamental, o Brasil investiu US$ 3.762; e o da OCDE de US$ 8.631. Já apenas no ensino superior, o Brasil investiu US$ 14.261 por estudante; e a OCDE, US$ 8.631.

País longe das metas

A conclusão do Todos pela Educação, a partir dos dados mais recentes, é de que o país ainda está longe do patamar educacional ideal apesar de avanços importantes nas últimas décadas. Em 2019, o PNE completa cinco anos, metade do seu tempo de vigência, e esperava-se que o país estaria mais próximo das metas a esta altura.

Assim, a publicação defende a importância de reforçar a importância do PNE e implementar medidas, com base em estudos e experiências bem-sucedidas, para se aproximar das metas.

Esta edição adota as seguintes temáticas, formuladas pela iniciativa suprapartidária liderada pelo Todos Pela Educação Educação Já! com a contribuição de mais 80 especialistas: primeira infância, ensino médio, alfabetização, Base Nacional Comum Curricular, carreira e valorização docente, governança e financiamento da educação.

Disparidades de investimento

O estudo também mostrou que há grande desigualdade na redistribuição de recursos entre estados e municípios. Enquanto Pinto Bandeira, uma cidade no Rio Grande do Sul, gastava cerca de R$ 19,5 mil por aluno em 2015; Buriti, outra cidade no Maranhão, pagava R$ 2,9 mil por estudante ; uma diferença de quase sete vezes.

Entre as unidades da Federação, São Paulo recebe a maior média anual de recursos vinculados à educação por aluno (R$ 6,5 mil). Já o Maranhão tem o menor valor, dispondo de apenas R$ 3,5 mil anualmente por cada estudante.

Professor

Segundo o anuário, desde 2012, não houve avanço significativo na quantidade de docentes da educação básica com formação adequada para as disciplinas que lecionam. O ideal é que um professor de matemática fosse formado em matemática, por exemplo ; o que nem sempre é realidade.

De cada 10 professores do ensino fundamental, quatro não têm formação na área que ensinam. Nos anos finais do ensino fundamental, 37,8% dos docentes não tinham licenciatura ou complementação pedagógica na área. No ensino médio, a média é de 29,2%.

No ano passado, menos da metade (48,7%) dos docentes dos anos finais do ensino fundamental (6; ao 9; ano) tinham formação adequada para as aulas que dão ; 5,1% a mais que em 2012. No ensino médio, 56,3% tinham formação adequada em 2018, 5,4% a mais que em 2012.

Salários desvalorizados

No ano passado, a renda média dos professores da educação básica que fizeram faculdade era de R$ 3.823. Esse valor é apenas 69,8% do que ganham outros trabalhadores com nível superior, que é de R$ 5.477,05. Em 2012, o salário dos professores com essa escolaridade era 60,8% do que ganhavam outros profissionais com o mesmo nível de formação.

Discrepâncias sociais

Somente 26% das crianças das famílias mais pobres frequentam creches no país; enquanto 55% do quartil mais rico têm acesso ao serviço. Além disso, apenas 14,1% dos estudantes de nível socioeconômico muito baixo alcançaram nível adequado de alfabetização em leitura. Enquanto no grupo das crianças de patamar econômico muito alto, 83,5% das crianças foram adequadamente alfabetizadas.

Ensino médio

O número de adolescentes de 15 a 17 anos que continua na escola está aumentando, chegando a 91,5% em 2018. Só que, desse total, 32,8% não estão matriculados no ensino médio, como seria o adequado para a faixa etária. Em 2012, 39% estavam fora do ensino médio. Além disso, quase um quarto dos jovens acaba o ensino fundamental com mais de 16 anos.

Em 2018, o Brasil contava com 787 mil jovens de 15 a 17 anos fora da escola que ainda não concluíram o ensino médio ; 8% do total da população nessa faixa etária.

A desigualdade racial também é um problema no ensino médio. O percentual de pretos de 15 a 17 anos matriculados no ensino médio era de 63,6% no ano passado; e o de brancos, de 75,3%. Segundo o anuário, o combate à desigualdade exige ampla reforma, de modo que mais jovens vejam sentido e se interessem pela escola.

Em 2018, 10,3% dos alunos de ensino médio da rede pública do país estudavam na modalidade ensino integral. Pernambuco foi o destaque nesse sentido, onde 49,2%, dos alunos estavam matriculados na modalidade integral. Em seguida, aparecem Paraíba (24,8%) e Piauí (24,1%). A região Nordeste é a que tem maior percentual de matrículas em ensino integral.


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