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Dança de quadrilha muda rotina de três escolas em Planaltina

Projeto criado por professora de português em escola pública de Planaltina vira referência na comunidade e permite a estudantes se tornarem dançarinos profissionais

Renato Souza
postado em 22/07/2019 10:36
A 45km do centro de Brasília, um projeto de dança coordenado pela professora Lucineide Moreira, 40 anos, mudou a rotina e as inspirações de estudantes de pelo menos três instituições de ensino de Planaltina, além de influenciar a vida de centenas de alunos em todo o Distrito Federal.
Lucineide Moreira (ao centro) criou a quadrilha Xodó do Cerrado há cinco anos: rigor no ensino das técnicas
A quadrilha Xodó do Cerrado existe há cinco anos e, o que era para ser um projeto de escola, tornou-se um grupo profissional de dança, que promove entre 25 e 30 apresentações por mês neste período do ano. A iniciativa começou com alunos do Centro de Ensino Fundamental Nossa Senhora de Fátima e, atualmente, conta com discentes do Centro Educacional 3 (CED 3) e Centro Educacional 1 (Centrão).

Um dos vencedores do Prêmio Cultura Popular de 2017, do Ministério da Cultura, o grupo se tornou referência na rede de ensino de Brasília. Os 62 integrantes, entre dançarinos, apoiadores e a coordenação, quando não estão em shows, festas de São João e em eventos culturais, vão até outras escolas e oferecem oficinas para estudantes dos ensinos fundamental e médio da rede pública e particular.

O caminho para chegar até as apresentações é rigoroso. Antes, Lucineide realiza oficinas teóricas, para que os participantes conheçam a cultura nacional e as próprias raízes. Fazem parte do roteiro trabalhos de leitura e de expressão corporal. Todas as atividades ocorrem no turno contrário às aulas.

A professora conta que a maior motivação dela é acompanhar o desenvolvimento dos estudantes e assistir ao engajamento dos familiares. ;O projeto reflete muito bem em casa, na escola e na sociedade. A autoestima deles tem melhora evidente. A minha maior felicidade é poder colaborar com a vida desses jovens;, diz. ;Levamos eles para outros lugares, fora da cidade, que talvez eles não teriam possibilidade de estar. Então, a mente se abre e eles notam a capacidade que têm, que o estudo é transformador.;

Entre as atividades do projeto, estão as rodas de conversa, em que ex-alunos da escola voltam à unidade de ensino para contar as próprias histórias de sucesso aos participantes do projeto. ;Temos ex-alunos que publicaram artigos científicos na Universidade de Brasília, que viajaram a Europa inteira, que são dentistas, advogados, servidores públicos e pessoas simples, que muitas vezes não têm uma renda tão elevada, mas são felizes com o que fazem e sabem a importância da educação para alcançarem seus resultados;, completa Lucineide.

A professora obteve autorização da Secretaria de Educação do DF para se dedicar exclusivamente ao grupo de dança. É ela mesma, que sempre gostou de dança, quem ensina os passos. Para aprender uma nova coreografia, faz buscas na internet, além de desenvolver o projeto político-pedagógico e avaliar os resultados. Conta também com o apoio da direção da escola, ex-alunos e grupos da comunidade.

Para arrecadar o dinheiro dos figurinos, a docente e os alunos vendem alimentos e fazem ;pedágios;. ;Assim, eles também entendem que precisam de esforço para colocar as ideias em prática e levar o que planejam adiante. Entendem que as coisas não vêm de graça;, observa.

Experiências

Para driblar um sistema de educação que, muitas vezes, sofre com a falta de recursos e de profissionais, os projetos extraclasse têm fundamental importância. Além de capacitar o estudante para o mercado de trabalho, eles elevam a qualidade de vida e incentivam a participação da comunidade.
Para Vanessa, a participação no grupo foi a oportunidade de realizar um sonho
A estudante Vanessa Oliveira da Silva, 16, estava no 8; ano do ensino fundamental em 2016, quando conheceu a proposta da professora Lucineide. Ela conta que sempre teve vontade de dançar, mas não tinha oportunidade. ;Eu desenvolvi minha forma de conversar em público. Eu sempre tive um amor muito forte por dançar quadrilha, mas sempre tive vergonha. Então, conheci a Lucineide, que é uma pessoa batalhadora, e tive coragem de ir atrás do que eu queria;, diz a jovem, atualmente aluna do 2; ano do ensino médio do CED 3 e que pretende cursar pedagogia.
Alan Álvaro, 16, estudante do 2; ano do ensino médio do CED 1, considera a Xodó do Cerrado uma inspiração não só para os estudos, mas também para a vida. Todos os dias ele anda mais de 2km de casa até o local dos ensaios. ;Antes do projeto, eu não fazia nada quando estava fora da aula. Geralmente, andava com pessoas que não tinham propósitos na vida. Agora, já penso em fazer o vestibular, seguir carreira em letras e continuar dançando, o que se tornou uma paixão.;
Alan Álvaro considera a quadrilha uma inspiração para os estudos e para a vida

Novos integrantes
As inscrições começam em setembro. Podem participar todos os estudantes da rede pública.
Inscrições ou convites de palestras ou apresentações pelo e-mail xododocerrado@gmail.com
Siga no Instagram: xododocerrado

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