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Volta às aulas: problemas de saúde podem interferir no desempenho escolar

Dificuldade na aprendizagem nem sempre está ligada à falta de interesse. Problemas na visão ou na audição podem acarretar complicações nos estudos

Correio Braziliense
postado em 30/01/2020 06:00

Com apoio de professores, gêmeos Davi e Felipe, 11, descobriram surdez bilateral. Desempenho escolar melhorouMatrícula feita, materiais e uniformes comprados. Parece estar tudo pronto para o início das aulas. No entanto, tão importante quanto essa preparação, é cuidar da saúde auditiva e ocular da criança antes de voltar para a escola. Doenças como astigmatismo, conjuntivite e otite estão entre as mais comuns nas crianças em idade escolar. Os sinais, muitas vezes, passam despercebidos, tanto pelos pais quanto pelos professores, e podem gerar dificuldades no aprendizado. Falta de atenção ou notas baixas, por exemplo, nem sempre significam desinteresse pelo estudo. Por isso, é preciso estar atento às pequenas mudanças no comportamento infantil.


A pedagoga Keila Espíndola explica que a percepção do professor em relação à postura do aluno é fundamental. Dispersão, fala alta, cansaço e sentar muito próximo ao quadro podem ser os primeiros sinais de que a saúde da criança não está bem. “Essas características são menos notadas pela família, porque o contato em casa é diferente. Por isso, é importante que família e escola enfrentem juntas o problema, com o apoio de um especialista”, afirma.


Essa parceria fez a advogada Michelle Braz, 45 anos, descobrir que os filhos gêmeos, Davi e Felipe, 11, têm surdez bilateral neurossensorial, quando o ouvido é atingido ou existe o comprometimento do nervo auditivo. Em sala de aula, os professores perceberam falta de interesse e inquietação. Em casa, a família desconfiou do comportamento deles. Os irmãos passaram por exames, e os laudos sempre apontavam inconclusão. Eles apresentavam traços de deficit de atenção e hiperatividade, mas esses diagnósticos não foram confirmados. Os pais até trocaram os meninos de escola para tentar um método de aprendizagem diferente, mas o resultado esperado não veio.


Ao passar por um pediatra, a família foi orientada a procurar um fonoaudiólogo. “Eles fizeram uma audiometria, que indicou perda sutil de audição, principalmente para sons agudos. Eles tinham dificuldade em aprender com professoras. No dia em que tiveram aula com um professor, chegaram em casa elogiando, dizendo que ele explicava bem. Na verdade, eles conseguiam ouvi-lo melhor”, conta Michelle. A família descobriu a perda auditiva em 2018, aos 10 anos. Desde então, os gêmeos são acompanhados por fonoaudiólogo e usam aparelho nos dois ouvidos.


“Muitas escolas e professores não estão preparados para o diferente, seja qual for. É trabalhoso, mas, com parceria, se consegue uma história de sucesso. Existem desafios e obstáculos, mas, depois do início do tratamento, a nossa vida se transformou. De lá para cá, eles só estão evoluindo”, diz a mãe de Davi e Felipe.

Alerta

A fonoaudióloga e especialista em audiologia Cristina Batista, que acompanha os gêmeos, destaca que a perda auditiva pode ocorrer em qualquer idade, sendo muito comum em crianças. “Hoje em dia, a maioria dos hospitais faz a triagem auditiva neonatal, o que melhorou bastante o diagnóstico precoce dos casos. Porém, pode acontecer de a criança desenvolver uma complicação depois do nascimento”, aponta.

 


O bom funcionamento do ouvido é primordial para assimilar as informações e o contexto da sala de aula. Por isso, problemas na audição podem comprometer o desempenho nas tarefas e o aprendizado completo. Quem tem alguma perda auditiva costuma, por exemplo, se cansar bastante e chegar em casa exausto, uma vez que tem de fazer muito esforço para entender o que é passado.
Para a especialista, é importante os pais ou responsáveis prestarem atenção em casos em que a criança, desde de muito nova, comete trocas na fala, pois isso pode significar uma perda leve ou moderada na audição. “Acontece muito de essas trocas serem consideradas como naturais do desenvolvimento, mesmo elas sendo persistentes, e ocorre um atraso no desenvolvimento da linguagem. Até que essa pessoa entra na escola e começa a ser tida como inquieta, bagunceira, sem comportamento”, detalha Cristina.

Prevenção

Este é o segundo ano em que Poliana Perpétuo Bravin, 41, leva os filhos Lara Bravin, 5, e Miguel Bravin, 3, ao oftalmologista antes do início das aulas. Como ela e o marido usam óculos, o intuito é evitar que as crianças tenham problemas na visão. Os olhos da menina ficam com alergia quando o clima está seco. Já os olhos do garoto lacrimejam bastante. “Sou professora e sei da importância desses cuidados no início do ano letivo. A gente prefere prevenir e não procurar o médico apenas quando o problema já existe”, conta Poliana.

 

Como passou as férias sem os óculos, Amanda precisou consultar com o oftalmologista e descobriu que o grau aumentouA administradora Juliana Domiciano Moura, 41, fez o mesmo. Na consulta, no início de janeiro, viu que o grau dos óculos da filha mais velha, 12, aumentou. ''Foi pouco, meio grau. Ela não usou os óculos nas férias e isso fez com que aumentasse. Quando voltamos ela não estava enxergando bem e sempre com dor de cabeça'', disse. Para evitar problemas maiores, a família faz questão de fazer o check up anual. 

 


Dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) estimam que 30% das crianças em idade escolar no Brasil apresentam problemas de visão, enquanto 10% dos brasileiros de 7 a 10 anos precisam usar óculos. Muitas vezes, simples contratempos, como erros de refração, quando não diagnosticados precocemente, podem afetar o aprendizado e até ser causa de evasão escolar.


O oftalmologista Natanael de Abreu Sousa esclarece que os cuidados começam no nascimento, com o exame do reflexo vermelho, mais conhecido como teste do olhinho. O esperado é um reflexo avermelhado. A ausência dele pode indicar problemas como depósito corneano, relacionado ao erro inato do metabolismo; glaucoma congênito; catarata congênita ou descolamento de retina.
“A gente recomenda que a criança em idade de alfabetização, com 5 ou 6 anos, faça revisão para saber se tem alguma dificuldade visual”, diz Natanael. Ele destaca que, em casa, a criança não costuma apresentar dificuldade, porque tem todos os objetos próximos dela. “O mundo em casa é mais de perto. Na escola, a agitação ou a hiperatividade podem estar associadas a algum problema de visão.”

De olho nos sinais

Alguns indícios de problemas de visão ou audição na criança em idade escolar:


» Falta de atenção
» Agitação ou hiperatividade
» Cansaço excessivo
» Leitura errada de palavras usadas diariamente
» Dificuldade na fala
» Fala alta
» Virar o ouvido enquanto alguém fala
» Olhar para os lábios de alguém que está falando

Nesses casos, deve-se procurar um otorrinolaringologista, um fonoaudiólogo ou um oftalmologista.

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