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Programa de teleaulas da rede pública é oferecido durante a pandemia

Secretaria de Educação transmitirá atividades na internet e na TV Justiça durante a pandemia. Programação não é obrigatória e não conta como dia letivo

Ana Paula Lisboa
postado em 06/04/2020 06:00 / atualizado em 06/01/2022 23:53
Programa de teleaulas da rede pública do DF é transmitido por canais de TV e pela internet
Programa de teleaulas da rede pública do DF é transmitido por canais de TV e pela internet (foto: SEE-DF / Divulgação)
Os cerca de 460 mil alunos da rede pública do Distrito Federal se juntam a milhares de estudantes em todo o mundo que tiveram de parar de frequentar a escola por causa da pandemia de coronavírus. Com o objetivo de oferecer uma alternativa para que crianças e adolescentes não percam total contato com os estudos, a Secretaria de Educação (SEE-DF) dá início, nesta segunda-feira (6/4), a uma série de teleaulas. O programa educativo será transmitido pela TV Justiça e também pela internet, com temas voltados da educação infantil ao ensino médio.
As atividades fazem parte da iniciativa Escola em Casa, não são obrigatórias, tampouco contam como dias letivos, mas servem para oferecer conteúdo aos estudantes enquanto as aulas não voltam. "A expectativa é que os alunos não desistam, não desanimem e que eles possam nutrir esse vínculo com a comunidade escolar e com o saber. É uma atividade extra para esse período", explica David Nogueira, coordenador do programa Escola em Casa DF. Ele diz que o programa continuará sendo transmitido enquanto durar a pandemia.
David Nogueira é coordenador do programa Escola em Casa DF, criado para apoiar alunos de escolas públicas durante a pandemia
David Nogueira é coordenador do programa Escola em Casa DF, criado para apoiar alunos de escolas públicas durante a pandemia (foto: SEE-DF / Divulgação)
Nogueira conta que houve um grande esforço para, dentro de um intervalo de 20 dias, mobilizar professores para gravarem videoaulas voluntariamente. Claro que a situação não é ideal, e não dá para esperar formato profissional de todo o conteúdo. "Tem muito programa gravado na casa dos professores, que se voluntariaram para fazer isso. Fizemos um chamamento voluntário para os educadores, e mais de 40 se prontificaram. E, a cada hora, há mais adesões." O coordenador agradece o esforço dos docentes e de parceiros, como a própria TV Justiça, o Sebrae e o Canal Futura, que têm ajudado a viabilizar as teleaulas.

Programação

O programa educativo será transmitido de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h, nos canais 53.1 ou 53.2 (TV Justiça) e também pelo YouTube e pelo Twitter. Saiba mais no site tvjustica.jus.br. Segunda, quarta e sexta, são dias de videoulas gravadas. Elas começam às 9h, focando nos alunos mais novos. Os conteúdos vão avançando de série ao longo do tempo até que, às 11h45, é oferecido um programa para professores. Nas terças e quintas, serão transmitidos aulões ao vivo com foco em estudantes do ensino médio, especialmente pensando no Enem. Serão três aulões diferentes, cada um com uma hora de duração, divididos entre 1º 2º e 3º anos do ensino médio.

Tira-dúvidas

Rosilene Corrêa, diretora do Sindicato dos Professores do Distrito Federal: teleaulas não substituem dias letivos
Rosilene Corrêa, diretora do Sindicato dos Professores do Distrito Federal: teleaulas não substituem dias letivos (foto: Sinpro-DF / Divulgação)

A Secretaria de Educação responderá a perguntas sobre o programa Escola em Casa nesta segunda-feira (6/4), às 19h, no Facebook e no YouTube. David Nogueira, em conversa mediada por jornalistas, explicará também sobre a plataforma Moodle, que em breve estará disponível para estudantes do ensino médio. Para acompanhar, acesse 

Educação a distância

Segundo David Nogueira, as teleaulas são um primeiro passo emergencial de educação a distância (EAD). A SEE-DF deve anunciar uma plataforma de aprendizagem para permitir interação entre estudantes e professores na próxima semana. "Se chegarmos a um cenário em que vamos precisar da EAD, essa plataforma permite aulas on-line." Por enquanto, o calendário letivo da rede pública está suspenso, com previsão inicial de ser retomado em junho. No entanto, tudo dependerá de como a pandemia avançará.
Para a pedagoga Rosilene Corrêa, diretora de Finanças do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF), é válido oferecer uma atividade complementar aos alunos neste momento, mas suscita preocupação se houver intenção de trocar encontros presenciais por EAD. “Vimos com muita preocupação porque teve um certo ensaio de uma intenção da secretaria de trabalhar com aulas virtuais", esclarece. O formato, ela avalia, é impróprio para a educação básica. "Não temos a menor condição de pensar em crianças e adolescentes com aulas a distância", defende.
"É preciso esclarecer que EAD tem regulação própria, é um projeto com o qual concordamos plenamente como complementação ou como algo para ensino superior, em que os estudantes já têm autonomia, ou como forma de inclusão, para levar educação aonde não tem universidade", afirma. Rosilene também ressalta que as teleaulas são válidas como um apoio alternativo agora, mas não servem como dias letivos. "Entendemos como razoável que se ofereça algo para que os estudantes não fiquem ociosos. Mas o nosso calendário tem que ser preservado, precisamos discutir o nosso calendário e não sabemos quanto tempo isso vai durar", comenta.
"O ano vai acabar em dezembro? Não sabemos, pois não sabemos quando vamos começar." Rosilene sabe que não será um ano fácil e que haverá sequelas de aprendizado, mas argumenta que é preciso não perder de vista o direito dos alunos a educação de qualidade, uma demanda que não será suprida com videoaulas na visão dela.
"Eu jamais diria que educação pode esperar. Mas, entre a vida e a rotina escolar, precisamos garantir vida primeiro, para depois pensar na educação", observa.
Assim, a pedagoga acredita que um grande serviço que as teleaulas podem fazer é no sentido de informar e conscientizar os alunos com relação à prevenção do coronavírus. A orientação do Sinpro para a categoria é que os professores que desejarem gravar videoaulas tomem medidas de segurança e o façam diretamente de casa, em vez de num estúdio. "A gente não pode ficar circulando por aí."
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Acesso

Entre os estudantes da rede pública, existe uma parcela que não têm acesso nem a internet nem televisão em casa, que podem ficar desatendidos. Para Rosilene Corrêa, diretora do Sinpro, é grave o fato de nem todos os alunos poderem ser atendidos. "Por isso, não há hipótese de pensar nisso como dia letivo, nem as teleaulas, nem alguma plataforma de internet. Um aluno matriculado, por não ter as ferramentas, vai ficar de fora? Assim, o estado não estará cumprindo seu papel", reforça.
"94% dos nossos alunos têm internet, e dos que não tem, grande parte vai ter acesso a TV. Precisaremos identificar quem não tem acesso a nenhum dos dois para pensar em alternativas para eles", reconhece David Nogueira, da SEE-DF. No entanto, ele pondera que não é efetivo não oferecer as teleaulas porque nem todos conseguirão assisti-las. "Primeiro, precisamos colocar para rodar. Não vamos atender todo mundo, é verdade. Mas porque não vou atender todo mundo, então não vou atender ninguém? Essa é uma lógica perversa", comenta. "Pior do que atingir 94% dos estudantes é atender 0."

Incerteza sobre o ano letivo

David Nogueira, coordenador do programa Escola em Casa DF, acredita que os conteúdos serão atrativos para os estudantes. "A gente não pode deixar de fazer achando que os estudantes não querem ou que parte deles não vai querer", afirma. "A nossa obrigação é prover, oferecer. E precisamos do apoio das famílias, mostrando que isso é importante para eles continuarem os estudos e terem um senso de normalidade na vida no meio desse isolamento social."
Aldenice com os filhos Maikom e Gustavo: preocupação com o aprendizado
Aldenice com os filhos Maikom e Gustavo: preocupação com o aprendizado (foto: Arquivo pessoal)
A pandemia de coronavírus mudou bastante a rotina da família de Aldenice da Silva Nunes, 42 anos, que mora no Itapoã. Ela tem dois filhos alunos da rede pública de ensino: Gustavo Silva dos Santos, 6, aluno do Centro de Educação Infantil Tia Nair, no Paranoá; e Maikom Douglas Silva dos Santos, 18, que está no 3º ano no Centro de Ensino Médio (CEM) Paulo Freire. Aldenice é empregada doméstica e, por causa do Covid-19, está trabalhando apenas duas vezes por semana. A liberação foi importante para que ela possa ficar com Gustavo.
"Não tenho com quem deixar", explica. Na segunda e na quinta, quando vai para a casa da família onde trabalha, o primogênito cuida do caçula. Entreter uma criança pequena que sente falta das tias e dos amigos da escola nem sempre é fácil. "O Gustavo fica ansioso, agoniado. Tenho feito atividades manuais com ele, como mexer com glitter. Agora, a gente está montando um dinossauro de papelão", diz Aldenice.
A mãe diz que tentará estimular o caçula a assistir às teleaulas, já que o programa educativo abrange desde a educação infantil ao ensino médio, mas não garante que ele conseguirá acompanhar. "Vou tentar, vou fazer o teste para ver se ele se interessa, mas acho difícil. Ele gosta mais de desenho, de coisas mais lúdicas, não sei se a linguagem vai atende-lo", pondera. Maikom pretende assistir às teleaulas, especialmente os aulões com foco no Enem. Apesar de acreditar que o programa educativo é uma boa alternativa para os estudantes não ficarem totalmente parados, Aldenice se preocupa. "Mesmo assim, os alunos vão ficar prejudicados. A gente não sabe como será o ano letivo", afirma. 
Maria Eduarda, aluna do Cemi do Gama, busca materiais on-line para preencher o tempo livre
Maria Eduarda, aluna do Cemi do Gama, busca materiais on-line para preencher o tempo livre (foto: Arquivo pessoal)

Jovens em busca de conteúdo

"Nesta quarentena, tenho buscado ver videoaulas e fazer atividades pendentes que os professores deixaram", conta Karen Oliveira Rocha, aluna do 1º  ano do Centro de Ensino Médio Integrado à Educação Profissional (Cemi) do Gama. Assim como ela, outras colegas, como Maria Eduarda Marques de Lima e Maria Clara Moreira Sousa procuram materiais on-line para não deixarem de estudar. Também no 1º ano, Giovanna Gabriela Sousa Andrade aposta em videoaulas, mapas mentais, livros e cadernos. No entanto, sente falta de estar na escola. "Eu prefiro muito mais a aula presencial, em que consigo aprender mais", comenta.
Filipe Henrique, do 3º ano, continua estudando com foco no Enem e seleções para o ensino superior
Filipe Henrique, do 3º ano, continua estudando com foco no Enem e seleções para o ensino superior (foto: Arquivo pessoal)
Para alunos do último ano do ensino médio, que se preparam para seleções como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), vestibulares e o Programa de Avaliação Seriada da Universidade de Brasília (PAS/UnB), a preocupação de continuar estudando é ainda maior. É o caso de Filipe Henrique Araujo de Melo e Raissa Macena Carvalho, que cursam o 3º ano no Cemi. Ambos buscam manter os estudos em dia durante a quarentena por conta própria, usando principalmente ferramentas digitais. "Com isso, eu estou tentando compensar pelo menos um pouco da falta das aulas presenciais", explica Raissa.
Karen tem apostado em videoaulas mesmo antes de as teleaulas da SEE-DF começarem
Karen tem apostado em videoaulas mesmo antes de as teleaulas da SEE-DF começarem (foto: Arquivo pessoal)
Impedida de frequentar o colégio, a comunidade escolar do Cemi Gama, em geral, vê com bons olhos a iniciativa, como um caminho para auxiliar os estudos individuais. "Os alunos estão esperando bastante por essas teleaulas. Eles já estão assistindo videoaulas, buscando conteúdo", diz o diretor da unidade, Carlos Lafaiete Formiga. No caso de estudantes que têm acesso à educação integral, como os do Cemi, que saem da escola com certificado de curso técnico em informática, acostumados a ter aulas por todo o dia, a falta da escola se torna muito marcante.

Professores do Cemi Gama têm se reunido por videoconferância para planejar conteúdos para os alunos. Educadores do colégio enviaram videoaulas para o programa da TV Justiça
Professores do Cemi Gama têm se reunido por videoconferância para planejar conteúdos para os alunos. Educadores do colégio enviaram videoaulas para o programa da TV Justiça (foto: Cemi-Gama / Reprodução)

Tanto que, antes mesmo das teleaulas da SEE-DF, os professores já estavam se movimentando para oferecer atividades on-line aos jovens. O colégio conta, inclusive, com uma plataforma Moodle. A escola já tinha um estúdio, por oferecer oficina de audiovisual aos alunos, e tem gravado videoaulas específicas para os alunos da instituição e também para o programa de teleaulas da TV Justiça. "Foi uma contribuição da escola. Até o momento, já gravamos de português, informática, matemática.... Segunda-feira, vou entregar uma teleaula da professora de educação física, que propõe ginástica para os alunos fazerem em casa."

Confira videoaula de matemática de professor Eliomar Caetano, do Cemi Gama:

No Cemi, 92% dos 468 alunos têm acesso à internet. Lafaiete se preocupa com os 8% sem conexão em casa que, em geral, vive em zona rural. Assim, o diretor está pensando em maneiras de levar conteúdo a esses estudantes. Outra preocupação é com relação a estudantes com necessidades especiais: dependendo da deficiência, as teleaulas não servirão de ajuda. Apesar de estar oficialmente de licença, o corpo docente continua ativo, buscando caminhos para atender os alunos.
Funcionários e professores do Cemi Gama produziram máscaras para doar ao Hospital Regional do Gama
Funcionários e professores do Cemi Gama produziram máscaras para doar ao Hospital Regional do Gama (foto: Cemi-Gama / Reprodução)
Os professores têm se comunicado por videoconferência para organizar atividades. "O calendário escolar só vai começar mesmo em junho. No começo, tinha professor que dizia que não ia gravar videoaula porque teriam que repor e trabalhar dobrado, mas é uma situação atípica. Os alunos estão em casa sem fazer nada e, no fim do ano, vai ter Enem e vestibular. Então, temos que pensar neles", defende.
 Material de máscaras produzidas pela equipe do Cemi do Gama, de acetato, foi feito com impressora 3D
Material de máscaras produzidas pela equipe do Cemi do Gama, de acetato, foi feito com impressora 3D (foto: Cemi-Gama / Reprodução)
O engajamento dos funcionários do Cemi também foca a comunidade. A equipe do colégio está confeccionando máscaras de acetato usando a impressora 3D do espaço maker da unidade. Na sexta-feira (3/4), o time entregou 35 equipamentos de proteção ao Hospital Regional do Gama (HRG). Antes disso, já tinha cedido 15 máscaras para o HRG. Os servidores conseguiram uma cortadora mais rápida e esperam aumentar o ritmo de produção.
Cemi do Gama conseguiu nova cortadora e vai produzir mais máscaras em maior velocidade
Cemi do Gama conseguiu nova cortadora e vai produzir mais máscaras em maior velocidade (foto: Cemi-Gama / Reprodução)

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