Ensino_EducacaoBasica

Com aulas paralisadas, crianças aprendem em casa

Médico alerta para riscos do retorno às escolas. Enquanto atividades didáticas não são retomadas, famílias encontram jeitos de estimular os filhos

Correio Braziliense
postado em 28/04/2020 17:32
As escolas da capital federal permanecem fechadas e, apesar de terem vazado planos para retomada das aulas, por enquanto, crianças e adolescentes continuam em casa e não há determinação oficial para o retorno.

As escolas estão fechadas para preservar a saúde, mas existe o temor de prejuízo acadêmico
A Secretaria do Estado de Educação (SEEDF) pediu calma à população nas redes sociais. O secretário. João Pedro Ferraz, chefe da pasta de Educação no Distrito Federal, participou de uma transmissão explicando as reformulações nas políticas de educação necessárias ao retorno. No último domingo (26), Ibaneis usou suas redes sociais para passar esse recado aos pais e alunos.

Para o médico infectologista José Davi Urbaez, as medidas de suspensão das aulas presenciais são necessárias. “Neste momento, é completamente contraindicado o retorno às aulas, são muitas mudanças que precisam ser adotadas. A distância de dois metros entre carteiras, a exigência do uso de máscaras, induzir os alunos a higienizar as mãos com frequência e não as levar ao rosto”, afirma.

“Os professores deverão ter atenção redobrada, além das atividades pedagógicas que eles exercem, teriam ainda que fiscalizar os alunos. Vamos voltar aos moldes de ensino do início do século passado, a rigidez de evitar brincadeiras e proximidade entre os alunos, é muito complexo”, alerta. A reestruturação da rotina também deverá ser adotada em casa pelos pais. “As coisas vão demandar tempo e atenção. Os pais vão paramentar os filhos com máscaras, sem a correria habitual. Ensinar os filhos e fazê-los entender o porquê dos cuidados”, diz.

“É preciso criar uma zona limpa e zona suja, para deixar a roupa e sapatos chegados da rua. Também é essencial ficar mais diligente na higiene das crianças, olhar as mãozinhas e chamá-los para fazer parte da disseminação destes cuidados”, afirma José Davi. Crianças e adolescentes podem ser grandes vetores de disseminação do da doença.

“Temos que lidar com a invisibilidade. Os famosos coronavírus, que representam cerca de 30% de todas as síndromes gripais, podem se aliar a nova Covid-19 e para eles, parecerem apenas um resfriado. Sem o isolamento, esse jovem ou essa criança poderá infectar pessoas dos grupos de risco, que vão sofrer com a doença”, elucida o médico.

Por causa da pandemia, colégios fecharam em todo o mundo. No DF, na rede particular, boa parte das escolas continua com atividades a distância. Na rede pública, temem estudantes e familiares, o prejuízo pode ser maior, já que não há EAD obrigatória. No entanto, o atraso do conteúdo não implicará na perda do ano letivo. “Quero dizer aos estudantes que não se preocupem. Nós vamos conseguir cumprir o calendário”, disse o secretário durante transmissão.

Uma das alternativas que se somam às ações da pasta é aplicação das aulas a distância, algo que ainda caminha a passos lentos. “Nós não estávamos preparados e nem esperávamos que tivéssemos que desempenhar esta tarefa. Estamos em um momento em que tudo é novo”, afirmou Ferraz. 

Em tempos de quarentena, famílias devem apoiar estudo de crianças e adolescentes em casaOs conteúdos disponibilizados nas plataformas digitais não serão computados como dias letivos, dadas as restrições de muitos alunos. “Por mais que tenhamos feito o maior esforço dentro da Secretaria para produzir esses conteúdos, sabemos que não conseguimos atingir a todos. E se não atingirmos a todos de forma igual, será uma discriminação para aquele que tem uma dificuldade no acesso”, explica o chefe da pasta. 

Aprender em família

Com mais tempo em casa, pais se organizam para ajudar na educação escolar dos filhos. Cristina Ramos, 26 anos, descobriu uma boa alternativa para manter Pedro Afonso, 8, atualizado com as matérias escolares. “No DF existe, mas o governo do Amazonas fez parcerias com várias escolas e transmitirem atividades para as séries iniciais. O cronograma é bem completo, diferente daqui. Todas as manhãs e tardes, ele acompanha pelo YouTube as aulas referentes ao seu ano, o 3º do ensino fundamental”, conta. 

Cristina cultivou no filho o prazer pela leitura. “Eu gosto muito e ensinei a ele, temos vários livros de literatura, ele gosta do Monteiro Lobato. Também uso livros da Confederação Nacional de Agricultura, lá tem fotos e textos sobre aquilo que é produzido no Brasil, além de mapas. Acho um conteúdo bem legal para mostrar a ele”, relata.

Na família de Emanuelle e Leonardo, mãe e pai dividem assistência ao filhoO esforço para manter os filhos no processo de aprendizagem faz parte da família, de Emanuelle Afonso, 40, mãe de Leonardo Afonso, 10, primo de Pedro. “Ele estuda em uma escola particular que mantém o ensino on-line. Então, a rotina continua parecida, ele assiste às aulas das 8h ao meio-dia. E dividimos o apoio ao Leonardo, o pai ajuda em matemática e eu, em português e nas demais matérias. A professora faz a aula em vídeo, passa exercícios e depois ficamos com ele explicando e esclarecendo as dúvidas”, conta Emanuelle. 

Leonardo se diz ansioso para o retorno das aulas. “Eu quero que voltem. Em casa, o trabalho é maior”, brinca o menino. Ele conta que recebeu todas as orientações de precaução e que as utiliza em casa. “Sempre que volto da rua ou entregam algum lanche da rua, eu faço a higienização das mãos. Utilizo máscara e álcool quando preciso sair e sei que teremos que manter distância dos colegas enquanto não passar a pandemia”, diz. 

Poder de decisão

Mesmo nas escolas que mantiveram um cronograma de atividades, houve o afrouxamento das regras. Os alunos têm maior liberdade para decidir quando e quanto estudar. O senso de responsabilidade gerado pode ser benéfico ao estudante, conforme explica Janete Cardoso, coordenadora pedagógica. “Em nossa escola flexibilizamos a quantidade de conteúdo, temos de duas a quatro aulas a distância por dia. Os alunos têm gostado de experimentar maior autonomia, escolherem seus horários e cronogramas próprios. Incentivamos que eles decidam a melhor forma de levarem seus estudos,”

Janete explica que, para alunos do ensino médio, sua área de atuação no colégio Marista João Paulo II, o poder decisório é importante para a construção da maturidade e que é possível planejar métodos de aprendizagem desvinculados das avaliações tradicionais. “Temos tido bons resultados. Nossos alunos estão se preparando para vestibulares e Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), vamos disponibilizar simulados sem pontuação para que o próprio aluno entenda onde estão suas debilidades e dar mais atenção a estes conteúdos”, diz.  

Cuidados necessários 

Shirley se preocupa com a saúde do filho, RogérioCursando o 8° ano, Rogério Soares Filho, 15, está dividindo a aflição entre ficar sem as aulas e o risco do contágio. “Estou preocupado, porque as escolas particulares estão tendo aula e vão conseguir aproveitar o conteúdo, mas, na rede pública, as aulas on-line são muito poucas, sem nenhuma constância. Agora, se as aulas voltarem, tem a preocupação com a pandemia. Então, também seria certo esperar tudo isso passar”, lamenta o estudante. 

A mãe de Rogério, Shirley Mendes, 41, também teme pela saúde do filho e da família. “Não me sinto segura para a volta às aulas, nem para rotina. Ainda há um risco de contaminação. De toda forma, aconselho a todos os meus três filhos, Rogério que está na escola e duas que estão na faculdade a tomarem os cuidados com a higienização das mãos, o uso de máscaras e o contato com outras pessoas”, diz a autônoma.
 
 
 
*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

  • Foto: Diana Raeder/Esp. CB/D.A Press
  • Foto: Arquivo Pessoal
  • Foto: Arquivo Pessoal

Tags