Correio Braziliense
postado em 12/06/2020 16:05
Isabela Silva*
No início da semana, a Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEE-DF) apresentou uma proposta de calendário letivo do ano de 2020. A aguardada retomada não gera tanta preocupação em face à pandemia de coronavírus porque as aulas serão on-line.
Para ajudar os alunos sem conexão, a pasta oferecerá um plano de internet a eles. Aqueles que não tem dispositivos móveis, como celular ou computador, terão ainda a opção de receber o material em papel.
Na avaliação de pais e educadores, a volta ao ensino, além de segura, também será importante para manter o vínculo entre alunos e professores, em muitos casos perdido, agora no ambiente virtual. Ana Carolina Conceição dá aulas de artes no Centro Educacional (CED) 6 de Ceilândia e considera que o retorno remoto não é a solução de todos os problemas, mas, ainda assim, é uma iniciativa válida.
“É uma tentativa de não se perder o total vínculo do professor com seu trabalho e dos estudantes com o estudo”, afirma. “Existe um pensador chamado Henri Wallon que fala sobre a importância do afeto na educação. Uma questão que eu acredito que é muito próxima da noção do vínculo, responsável por ampliar o alcance do conhecimento nos estudantes.”
Ana Carolina tem uma filha em idade escolar, aluna de um colégio particular, que está tendo aulas on-line. Pela experiência em casa, ela teme a sobrecarga de tarefas nos alunos da rede pública. “A sensação que eu tenho é de que as demandas escolares dela estão muito maiores, percebo que o estresse tem aumentado”, pontua. Tão importante quanto fazer com que os alunos das escolas públicas voltem a estudar é passar uma dose equilibrada de conteúdo, sem causar ainda mais nervosismo entre eles em meio a uma pandemia.
Para Fernanda Alves, professora de espanhol do Centro Interescolar de Línguas do Guará (CILG), o retorno das aulas tem aspectos positivos e negativos. “Os alunos, especialmente os de ensino médio, terão a oportunidade de revisar as matérias estudadas e seguir o preparo para as provas futuras. Já para as turmas de ensino fundamental, serve para que os alunos não percam conhecimento”, avalia a professora que percebe a falta do hábito de estudar entre os estudantes, em especial por conta própria.
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Transformação digital
Tanto alunos quanto professores precisarão se adaptar a um novo modelo de ensino, a distância. Educadores da rede pública estão se aperfeiçoando e se atualizando, buscando conhecer as plataformas. Para quem não estava habituado a essas novidades, é normal o sentimento de incerteza.
Fernanda Alves diz que alguns professores entrarão na sala de aula virtual inseguros. “Estamos desesperados, fazendo cursos para aprender a lidar com as ferramentas necessárias. Temos de nos preocupar em fazer um bom trabalho. E, de fato, há pouco tempo para essa preparação”, diz.
Famílias preocupadas
Para muitos pais, mães e responsáveis, ver os filhos que são alunos da rede pública finalmente voltarem a ter atividades pode ser um alívio. Para outros, há preocupação com relação a se os meninos conseguirão mesmo acompanhar as atividades com os recursos que têm em casa. Esse é o receito da auxiliar de serviços gerais Solange Silva, que tem dois filhos.
“Nem todos têm condições de ter internet em casa. Sem contar que, se nós não ficarmos no pé dessas crianças, elas não vão conseguir acompanhar as aulas direito”, reforça. Um dos filhos de Solange é Luís Fernando da Silva, 13 anos, aluno do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 2 do Riacho Fundo 2. O adolescente tem medo das atividades curriculares serem prejudicadas por problemas estruturais, como queda de energia.
“Isso, por exemplo, pode acontecer com o aluno ou até com o professor. Aí acaba que a gente pode perder conteúdo”, comenta. Claramente, será um período de muitas adaptações, mas problemas sempre existiram e riscos, por exemplo, de queda de energia, também afetam as aulas presenciais. O jeito será tentar lidar com as falhas e obstáculos à medida que aparecerem.
Aulas remotas
As classes serão ministradas por meio da plataforma Google Sala de Aula. Os professores utilizarão as ferramentas disponibilizadas para dar videoaulas, postar atividades, exercícios e tirar dúvidas dos alunos.
Como forma de avaliação, os estudantes devem montar um portfólio de atividades por disciplina. Assim, o professor poderá verificar tanto a presença na aula quanto a fazer a avaliação do aluno. Cada escola poderá adotar ainda outros tipos de pontuação conforme as propostas de ensino da instituição.
Devido à pandemia do coronavírus, as aulas que se iniciaram em fevereiro foram suspensas em 11 de março sem previsão para voltar. Com o novo calendário, as aulas remotas começarão em 29 de junho, e o ano letivo terminará em janeiro do ano que vem.
*Estudante de jornalismo da Universidade de Brasília (UnB), sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa
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