Pesquisa realizada pelo Datafolha, encomendada pelo Itaú Social, Fundação Lemann e Imaginable Futures, confirma que 74% dos estudantes da redes municipais e estaduais do país estão recebendo algum tipo de atividade não presencial durante a pandemia. Entre os estudantes do ensino médio, esse número chega a 85%.
O objetivo da coleta desses dados é fornecer as informações para as redes de ensino para que consigam traçar estratégias que ajudem na oferta de atividades não presenciais para os alunos durante o período de isolamento social.
A pesquisa mostra que grande parte dos estudantes acessam essas atividades por meio de dispositivos eletrônicos, como celulares, computadores, televisão ou rádio (37%). Cerca de 84% desses alunos dedicam mais de uma hora por dia aos estudos. Segundo pais, mães ou responsáveis, 82% das crianças e adolescentes estão realizando a maioria das atividades propostas.
Em relação ao ponto de vista dos responsáveis, mais da metade acredita que o aprendizado dos estudantes está evoluindo, e 54% veem motivação das crianças e jovens com as aulas. No entanto, 31% temem que os alunos desistam dos estudos por não estar conseguindo acompanhar as aulas em casa e 58% consideram muito difícil para as crianças, sob sua responsabilidade, manter a rotina de estudos, esse fato é ocasionado principalmente pela falta de tempo dos adultos e as dificuldades que sentem para explicarem o conteúdo aos pequenos.
Para Lucas Rocha, gerente de inovação da Fundação Lemann, é preciso destacar que as escolas públicas estão conseguindo ofertar atividades a distância em um período curto de tempo e enfrentando todas as dificuldades que o momento impõe. “Contudo, a pesquisa também aponta para problemas estruturais como o acesso à internet e a dispositivos, que precedem a situação de pandemia, e que intensificam a desigualdade ao ainda deixar um em cada quatro alunos sem acesso às atividades remotas”, avalia.
O gerente de inovação da Fundação Lemann pontua aspectos que as redes de ensino públicas têm que dar maior atenção. “Não existe uma única solução. As redes públicas devem lançar mão de um conjunto de estratégias para chegar ao maior número de alunos possível. Unir a oferta de materiais didáticos impressos com estratégias on-line e pela televisão tem se mostrado a maneira mais efetiva de chegar nos alunos que mais precisam”, diz.
“O estudo chama a atenção para as principais dificuldades enfrentadas pelas famílias para acessar e acompanhar as atividades remotas, entre elas o acesso à internet e dispositivos tecnológicos, como computadores e celulares, e a falta de uma comunicação clara e efetiva entre escolas e famílias. Além de demonstrar o grande risco de evasão de parte relevante dos alunos e ajudar os gestores públicos a pensarem em estratégias para prevenir essa situação”, complementa Lucas Rocha.
Desigualdades
O estudo também demonstra as desigualdades regionais em relação à oferta de atividades pedagógicas não presenciais. Na região Norte do país, por exemplo, pouco mais da metade dos alunos receberam atividades escolares durante a pandemia (52%). Na região Nordeste, esse número chega a 61%. Nas demais regiões, os percentuais são: Centro-Oeste (80%), Sudeste (85%) e Sul (95%).
Do total de pessoas que responderam a pesquisa, 24% dos estudantes das redes públicas não receberam nenhum tipo de atividade não presencial na pandemia. Essas crianças e adolescentes são, na maioria, moradoras de favelas ou comunidades (57%), estudam em escolas municipais (67%), cursam o ensino fundamental (90%) e são pretas ou pardas (60%). 42% residem na região Nordeste e 22% no Norte do país.
Outro ponto importante do levantamento é o acesso dos estudantes à internet. Mais uma vez, as desigualdades regionais são grandes. Enquanto nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste os estudantes com internet banda larga são, respectivamente, 71%, 65% e 65%, na região Norte apenas 37% declararam ter internet, e 53% no Nordeste.
O levantamento foi realizado entre 18 e 29 de maio em todo o Brasil, por meio de ligações telefônicas. Os números de telefones celulares foram escolhidos de forma aleatória por meio de sorteio. Foram feitas 1.028 entrevistas com pais, mães ou responsáveis por 1.518 alunos da rede pública de ensino. A margem de erro máxima para o total da amostra é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%.
Essa foi a primeira pesquisa de uma série de três estudos encomendados ao Instituto de Pesquisa Datafolha. Os outros dois levantamentos estão previstos para julho e agosto, também evidenciando os panoramas atualizados acerca da educação das redes públicas durante a pandemia.
Fundação Lemann
Desde o início do isolamento social, a Fundação Lemann estabeleceu parcerias com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e as secretarias de educação para oferecer orientação de estratégias para as aulas remotas e acesso a plataformas digitais de educação.
“Também junto com a Fundação Roberto Marinho e Centro de Inovação para Educação Brasileira (CIEB) criamos o projeto Vamos Aprender, que oferece conteúdo pedagógico pela televisão, a serem exibidos aos estudantes da educação infantil ao ensino médio. O Vamos Aprender, que é totalmente gratuito, já está no ar em alguns lugares, como no Mato Grosso do Sul, Teresina (PI), Goiânia (GO), Caruaru (PE) e, em breve, deve começar no Amapá e em outras localidades”, conta o gerente de inovação da Fundação Lemann.
*Estagiária sob supervisão de Ana Sá
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