postado em 15/11/2012 08:00
Enquanto os negros que vivem na capital do país ainda têm salários menores que os não negros, a taxa de desemprego entre os dois grupos diminui a cada ano. Números da Pesquisa de Emprego e Desemprego no DF (PED-DF) de 2011, realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e Companhia de Desenvolvimento do DF (Codeplan), mostram que a diferença entre não ocupados dos dois segmentos é de apenas 1,9 ponto percentual. Em 2002, a discrepância chegava a quase 6 pontos. O rendimento médio mensal de trabalhadores brancos e amarelos é 55,26% maior. Afrodescendentes recebem R$ 1.737, contra R$ 2.697 dos indivíduos de outros grupos. As mulheres negras são as mais prejudicadas quando o assunto é salário. O rendimento médio por hora trabalhada delas é o menor em todos os setores englobados pela pesquisa. ;Elas carregam dois fatores históricos, discriminação de gênero e raça/cor. Muitas empresas preferem homens por conta do cotidiano. As mulheres podem engravidar e têm direito a licença-maternidade, o que é um gasto a mais para a companhia. Além disso, têm tarefas domésticas e dispõem de mais tempo para ficar com os filhos;, justificou o analista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Daniel Biagioni.
A dona de casa Maria Santana, 41 anos, moradora da Cidade Estrutural, sentiu na pele as dificuldades de ser mulher e negra. ;Fui empregada doméstica desde os 13 anos e sofri muito com a discriminação. Quando estava desempregada, bati de porta em porta e recebi muitos nãos e olhares preconceituosos;, disse. Ela começou a trabalhar quando criança. ;Não me lembro a idade. Ajudava na lavoura com meus pais e não tive a oportunidade de estudar. Hoje, tenho três filhos, e todos estão na escola. Quero que tenham o que eu não tive.; Para ela, os afrodescendentes ainda são minoria nas instituições de ensino. ;Passo em frente a uma faculdade e vejo dois ou três negros, o resto é branco. Não tivemos escolha, tanto é que, na periferia, a maioria é negra.;
O advogado Asclepiades Vasconcellos, 42 anos, morador do Cruzeiro, vive uma realidade diferente. ;Sinto-me privilegiado, nunca passei dificuldades e tive oportunidades que muitos, como os meus pais, não tiveram;, lembrou. Ele cursou ciência política na Universidade de Brasília (UnB) e direito no Centro Universitário UDF. ;Já sofri muito preconceito, inclusive de não poder ser apresentado aos pais da namorada. Mas, no mercado de trabalho, nunca senti isso. Ainda assim, sei que essa é uma realidade no Brasil, um problema histórico. Tenho uma filha de 5 anos e ela é branca. Desejo um mundo mais justo para ela no futuro.;
Políticas públicas
Para a Secretaria de Trabalho do DF, os negros têm mais oportunidades graças às políticas públicas. ;Ainda assim, acredito que, em todo o Brasil, há carência de mão de obra qualificada e eles ainda têm dificuldades para chegar ao nível superior. Entre os autônomos, por exemplo, o salário é semelhante, não tem tanta diferença;, disse Iraci Peixoto, da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan).
;No setor público, a diferença é muito grande. Os negros correspondem a 19,8%. Como têm menos acesso à educação, eles enfrentam mais dificuldades para a ascensão na carreira profissional, pois têm menos títulos acadêmicos e uma remuneração menor. Os não negros somam 28,7%;, ponderou Adalgiza Lara Amaral, economista do Dieese e coordenadora da PED-DF. Entre os negros empregados no DF, 63,9% trabalham no setor de serviços, frente a 71,8% de não negros. Entre os domésticos, os afrodescendentes são maioria: 8,8%, diferença de 4,1 pontos percentuais em relação aos não negros.