postado em 25/12/2012 17:27
O cearense radicado no Distrito Federal Eduilson Pereira dos Santos, de 21 anos, sempre foi um bom aluno. O segundo de três filhos de um trabalhador da construção civil e de uma babá tinha a certeza de que o ensino médio regular lhe daria uma boa chance no mercado de trabalho até conseguir entrar na faculdade. Não foi o que aconteceu quando terminou essa fase escolar aos 17 anos. ;Achei que seria suficiente para conseguir um bom emprego, mas não foi;, relembra. Foi quando ouviu falar em curso técnico em segurança do trabalho.;Pesquisei, gostei e fiz inscrição no Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial);, conta. Isso foi em 2010. Desde então, tudo mudou na sua vida. Um mês depois de terminar o curso em dezembro de 2010, conseguiu uma boa colocação numa grande indústria no DF, que estava com vaga aberta justamente para a habilitação que ele havia recém-adquirido.
Confiante de que arrumaria emprego logo na área, Eduilson se inscreveu no vestibular de uma faculdade no mesmo tempo em que concluía o curso profissionalizante. Com salário de R$ 1,6 mil que passou a ganhar, além de benefícios como convênios médico e odontológico e cesta básica, já iniciou o curso de engenharia civil. Anda tão entusiasmado que está pensando na pós-graduação. ;Na área de engenharia do trabalho;, conta, feliz da vida.
A trajetória de Eduilson é a prova da necessidade de o Brasil investir pesadamente em duas frentes: na qualidade do ensino fundamental e na educação profissionalizante, ainda no nível médio, para absorver 85% dos jovens que não conseguem acesso imediato ao ensino superior por falta de condições financeiras ou porque largaram os estudos e não concluíram o ensino médio.
Do total de 22,5 milhões de jovens entre 18 e 24 anos, apenas 3,3 milhões cursam ensino superior. Outros 19,2 milhões estão fora da faculdade. ;Esse pessoal que vai para a universidade segue o seu caminho de um jeito ou de outro, mas 85% vão fazer o quê?;, questiona o diretor de Educação e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Rafael Lucchesi, diretor-geral do Senai.
No entender dele, esse é o grande problema da matriz educacional brasileira, de ;ser voltada fortemente para o modelo de educação regular, academicista, sem orientação para a educação profissional;. O professor Daniel Cara, coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, concorda e acrescenta que a educação regular ainda está gritando por socorro.
;O objetivo é uma aprendizagem medíocre, que não colabora com a formação de um cidadão nem de uma liderança no mercado de trabalho;, diz. Isso resulta em baixa produtividade desses futuros trabalhadores e, consequentemente, em empregos informais ou de salários menores. Daniel Cara lembra que o maior problema hoje do Brasil é a falta de técnicos. Mas as escolas técnicas federais hoje atendem apenas a minoria deles.
Empregabilidade
O diretor da CNI e do Senai destaca que, no Brasil, apenas 6,6% dos jovens fazem educação profissional junto com o ensino regular, enquanto nos 30 países que integram a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), esse índice é de 42% do total de jovens. A taxa de empregabilidade dos que fazem curso profissionalizante do Senai é de 80%. Mas apenas 2 milhões são treinados a cada ano.
Levantamento do Senai revela que há demanda de 7,2 milhões de trabalhadores qualificados na área técnica de níveis fundamental e médio até 2015. Desses, 1,1 milhão deverá ser de novos assalariados. Os outros serão treinados novamente. Os cursos são de 200 a 400 horas, para funções como as de soldador e operador de máquina. Rafael Lucchesi destaca que os 21 profissionais mais demandados pela indústria têm salário inicial de
R$ 2,1 mil, podendo chegar a R$ 6 mil mensais após 10 anos de serviço.
Mesmo os jovens com apenas o ensino fundamental têm a oportunidade de conseguir um desses empregos com carteira assinada e benefícios. Lucchesi ressalta que 53% dos postos na indústria têm qualificação profissional de 200 horas, que exigem apenas essa primeira etapa do ensino. Outros 18% são de nível médio e 3%, superior.
Foi a oportunidade de um treinamento oferecido por uma empresa que deu a qualificação de que o técnico em manutenção Ivo Júnior da Rocha, 24 anos, precisava, uma vez que não terminou o ensino médio. Ele trabalha desde os 17 anos. No início, fez alguns bicos, depois atuou como frentista de posto de gasolina. Aos 20, após repetir duas vezes de ano na escola, desistiu na penúltima série do ensino médio. ;Por sem-vergonhice mesmo;, admite. Mas uma vaga numa empresa de manutenção de empilhadeiras por indicação do cunhado deu uma boa oportunidade no mercado de trabalho.
A firma resolveu bancar seu treinamento, para aprender a consertar empilhadeiras. Era uma máquina para cada período de curso de duas semanas. Em um ano e meio, aprendeu a mexer em 10 diferentes equipamentos. Hoje, tem salário de R$ 1,7 mil por mês, mais tíquete-alimentação, cesta básica e plano de saúde.
; Cursos gratuitos
O Senai oferece cursos profissionalizantes em diversas áreas. O trabalhador deve procurar uma das duas unidades no DF. Senai Taguatinga: Área Especial n; 2 ; Setor C Norte. Telefone 3353-8700. Senai Gama: Área Especial Entrequadra 2 e 8. Telefone 3384-3272. Portal Senai: www.senai.br/br.